22/08/2023
Guarapuava

É minha convicção!

Precisamos ser razoáveis. Se Kant no passado escreveu sobre “O conflito das Faculdades”, hoje precisamos trazer à luz “O conflito do Ensino Médio”. Infelizmente os educadores, até o presente momento, sequer foram consultados para a construção de um novo ensino médio, necessário e imprescindível. Esta reforma impositória está sendo gestada por uma instância ‘não-educadora’, neste caso pelo Estado e de acordo com critérios estranhos à realidade e ao tipo ideal de quem está à frente deste processo. Infelizmente está se pensando apenas em performatividade e não no sentido da educação em todos os níveis.

Fico preocupado com aqueles Professores e Educadores que se sentem bem com esta MP, pois ou estão ocultando algo aos outros ou a si mesmos.  Evidente que o cidadão comum não tem se sentido bem com a expressão e a ação ‘ocupação das escolas’ em nosso País. De fato este agir tem lá seus excessos e distorções, mas independente deste comportamento estudantil ser consciente ou não, o fato é que os educadores precisam ajudar a construir uma legítima reforma que considere muitos outros elementos que esta MP não está considerando.
Vê-se despreparo e precipitação daqueles que estão à frente do MEC e, portanto, portadores desta mudança inconsequente. Um rápido exemplo. Ao defenderem o ensino integral, esquecem-se de responder: O que será feito dos alunos que, geralmente, precisam trabalhar durante o dia? Eles ganharão uma bolsa ou será feita a exclusão destes jovens da sala de aula?

Os Professores de formação estão atordoados com este incremento de ‘notório saber’. Como será feita a contratação destes experts denominados ‘profissionais de notório saber’? Como não há interlocução, não corre-se o risco deste espaço ser ocupado por simpatizantes da banca evangélica conservadora do país? Ora, Professores de formação não tem notório saber? 

A medida, ainda, limita o conhecimento em cinco áreas de concentração, a saber: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional, restringindo a escolha das Unidades de Ensino em algumas áreas apenas. Resta-nos perguntar: como o aluno vai escolher se ele não conhece todas as áreas? 

É minha convicção que estamos na era da vulnerabilidade e, em consequência disto, em um momento de grande tensividade. O que tenho falado e escrito poderá ser contestado por amigo esclarecido ou por um estranho que pensa diferente, mas se ao menos estas linhas servirem como um contraponto, já estarei satisfeito. Sinto-me absolutamente livre de preconceitos ideológicos que quase sempre comprometem o que pensamos. É preciso muita lucidez. Gosto de ver o que pensam meus contrários e os mais próximos. Ao ouvir Karnal dizer que “salvar a economia é muito importante, mas nós temos que salvar com os passageiros e não apenas com o barco”, me identifiquei plenamente. Ao escrever que “educação e saúde são atividades fim do Estado, portanto, não devem ser comprometidas com as políticas de contenção de gastos”, simplesmente ponderou que a diferença entre a ideia tal qual se apresenta no homem da rua e aquele pensamento quando elaborado por especialista do pensar. Aproveitando para filosofar um pouco e consolidando o que Karnal quis dizer, penso que não podemos abrir mão do princípio filosófico que um atributo essencial é essencial porque é aquilo que está numa coisa que é que, se não estivesse, a coisa não seria. O que é por si mesmo, ou seja, o que é primeiro numa substância, não podendo ser tirado desta sem que o ser perca o ser. Se o Estado for negligente com saúde e educação, para que serve o  Estado? 

Cristina Esteche

Jornalista

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