Por Cristina Esteche
Elas estão deixando os afazeres domésticos, aos sábados, para serem a maioria nas aulas dos cursos de eletricista predial e mecânica automotiva. A maioria, além de ser mulher, é dona de casa que cansou da vida doméstica e agora busca capacitação para entrar no mercado de trabalho, buscando a independência financeira. Foi num clima de muita animação que a REDE SUL DE NOTICIAS “invadiu” as duas turmas no Sesi, entidade parceria da Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, em Guarapuava.
Na primeira sala o professor ensina técnicas para os interessados em serem eletricistas prediais. Para a professora Vera Ferraz, além do complemento da renda no final do mês, de saber cuidar da parte elétrica da casa, ela busca superar o medo. “Eu levei um choque quando era pequena e fiquei com trauma. Então aqui para enfrentar o medo e ter ganhos”, revela puxando a conversa. “Além do mais quando você precisa de um eletricista eles cobram muito caro”, diz.
Irenice de Cassio Penteado e Luciane de Fátima Machado cursam juntas segurança do trabalho e agora querem complementar o aprendizado. “A gente está para aprender mais e para buscar outra atividade profissional”, afirmam.
Dona Leopoldina Aparecida de Oliveira já fez curso de pedreira, assenta cerâmica e agora que saber tudo sobre eletricidade predial. “Quero fazer o serviço completo”, diz.
Na sala do professor Geraldo Feliczaki a presença feminina predomina e é bem aceita pelos alunos.
“Eu acho muito legal as mulheres serem a maioria aqui dentro. Elas estão em todas as áreas e se não nos cuidarmos daqui uns dias estaremos em casa trocando fraldas, lavando a roupa”, diz referindo-se à troca de funções convencionada pela sociedade. “Não são só os homens que sabem fazer as coisas”. Arte finalista Zaque Gonçalves da Cruz busca enriquecer o currículo. “Eu confio no trabalho das mulheres muito mais do que os homens porque gostam de fazer gambiarra”, compara.
Reginaldo Loti diz que está no curso porque gosta e também pelo dinheiro que poderá ganhar com a nova atividade. “Eu trabalho com compensado, mas quero trocar de profissão e estou aqui dividindo espaço com as mulheres”, diz.
Aliás, a separação é evidente e perceptível quando se entra nas salas de aulas. As mulheres sentam à esquerda e os homens à direita. “Ainda não há uma interação”, observa Vera.
Para o professor Geraldo, que pela primeira vez dá aula de eletricidade predial para mulheres, a preocupação é bem maior do que a divisão espacial de alunos. “Eu me preocupo com as aulas práticas pela sensibilidade das mulheres”, confessa.
Em outra sala dos 23 alunos da classe da professora Roseli Menon, apenas quatro são homens que também procuram mais uma atividade para aumentar a renda no final do mês. No quadro negro a professora explica técnicas de mecânica automotiva, já ocupando a função de uma disciplina que “seria” masculina.
Sujar as mãos de graxa para a mulherada do curso significa deixar o fogão e o tanque de lado, já que a maioria da turma é dona de casa. “Até agora eu sou do lar, não tenho profissão nenhuma, mas vou trabalhar”, diz Maria Sirlei da Cruz.
“Eu já trabalhei muito no comércio, já vendi roupa, sapato e agora sou do lar, mas quero sujar as mãos de graxa”, diz Josélia Alves que junto com outras quatro já pensam em montar uma oficina mecânica somente com mulheres. A Oficina Mecânica Meninas do Morro Alto, composta por Josélia, Rosana Maria Moldoch Boiko (vendedora), Rosa da Silva (massoterapeuta) e Lucimara Aparecida Marita (dona de casa) é uma maneira da mulher encarar o mercado de trabalho. Aliás, é ele, o mercado que as amedronta. “Temos medo de que o preconceito ainda fale mais alto e não aceitem como mecânicas”, diz Josélia. Cleide Maria dos Santos tem uma experiência frustrada nesse sentido. “Eu fiz curso de empilhadeira e fui pedir emprego numa empresa bem conhecida. Quando cheguei havia um homem disputando a vaga comigo e ele foi contratado sem verem o meu currículo”, relata.
O aceno de que essa situação está mudando em Guarapuava é apontada por Cleide com a nova administração municipal. “Essa mudança, essa oportunidade começou com essa administração que criou a Secretaria da Mulher que está nos dando esses cursos”, observa.
Os alunos José Ademir dos Santos e Ademar Schvão são os únicos da sala a sem manifestar. “Eu não tenho nada contra. Se a minha namorada gostasse e quisesse fazer o curso eu aprovaria”, diz Ademar que busca diversificação profissional. “Eu sou vigilante e segurança e quero um complemento de renda”, comentar José Ademir.
A professora Roseli Menon , atenta à conversa, diz que sempre trabalhou com as diferenças e que não faz distinção alguma.