22/08/2023
Cotidiano Região

Em Irati, residências inclusivas resgatam protagonismo de mulheres acolhidas

Com apoio do Estado, residências inclusivas têm destaque em congressos e encontros como um bom exemplo para o Brasil

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Com apoio do Estado, residências inclusivas resgatam protagonismo de mulheres acolhidas (Foto: SEDEF)

Juliana de Fátima Braz é paranaense da cidade de Siqueira Campos, no Norte Pioneiro. Aos 14 anos, sofreu uma grande perda na família, a da avó, que cuidava da então adolescente. Para não ficar sozinha, uma Casa Lar do município em que morava a acolheu. Ficou lá até os 18 anos. Diagnosticada com déficit intelectual, além de questões psicossociais, Juliana passou por outros acolhimentos. Mas em 2016 chegou nas Residências Inclusivas de Irati, onde está até hoje, aos 30 anos.

Desde o acolhimento, Juliana sempre se mostrou interessada e participativa nas atividades propostas pela equipe. Mas tinha uma queda pela educação. Ela concluiu o Ensino Médio em 2021 no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja). Agora procura cursos profissionalizantes que sejam do interesse dela.

Além de atividades escolares, Juliana faz aulas de zumba, academia e psicoterapia individual. Também participa de forma ativa de atividades em grupos propostas por alunas de Psicologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), do Campus de Irati. Assim como de atividades propostas pela equipe técnica.

Durante o período de acolhimento ela passou por temáticas envolvendo relacionamentos, educação e trabalho, autonomia e educação financeira. Assim, ela tem independência na medida em que um acolhimento institucional permite. Dessa forma, pode criar vínculos positivos com a comunidade e planejar escolhas para o futuro.

Ela afirma que é muito bom estar ali, receber carinho e amor das cuidadoras.

Eu tenho meu celular, meus cremes de cabelo, eu gosto muito daqui, da comida e também das cuidadoras.

De acordo com o programa, as residências surgem de forma compartilhada entre o Estado e o município. E ofertam o serviço de acolhimento institucional de jovens e adultos com deficiência. Juntas têm capacidade de atendimento de até 20 pessoas. Atualmente moram16 mulheres tuteladas.

DESTAQUE

(Foto: SEDEF)

As Residências Inclusivas têm destaque em congressos e encontros como um bom exemplo para o Brasil. Além de possuir estrutura compatível com o que prevê as normativas e orientações técnicas do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), possuem uma metodologia de trabalho que valoriza ao máximo as potencialidades das usuárias, com respeito à individualidade.

Conforme a coordenadora das Casas Inclusivas, Kelly Marques da Silva Wasilewski, o principal objetivo é fazer com que essas mulheres sejam integradas à sociedade e possam conviver de forma harmoniosa.

Aqui temos muitas histórias, e elas têm nosso respeito, cada pessoa merece nossa atenção e cuidado. Queremos contribuir com o tratamento delas em liberdade e fazer com que possam ter sua vida normal.

Ela explica que muitas mulheres estão acolhidas desde a infância, outras passaram por situações de violência. “A atenção e o cuidado dados nas Residências Inclusivas permitem que elas possam ter as vidas restabelecidas e, principalmente, recuperem a autoestima. A execução do Serviço de Acolhimento Institucional para Jovens e Adultos com Deficiência em Residência Inclusiva é desafiadora, pois atende casos de alta complexidade e acolhe a diversidade de características e necessidades de cada pessoa, se pautando na individualidade”.

O trabalho busca a reabilitação psicossocial de pessoas que vivenciaram situações de extrema de negligência e violação de direitos e agora frequentam escola, trabalham. Também há casos recentes de reintegração familiar de pessoas, graças ao trabalho de resgate de vínculos da equipe da residência.

De acordo com o secretário do Desenvolvimento Social e Família, Rogério Carboni, este desempenho se deve ao trabalho de excelência ofertado tanto do município quanto do Governo do Estado. “O que vemos aqui é a demonstração de amor, de carinho, cuidados que essas pessoas ofertam para as acolhidas”.

Irati é exemplo para o Brasil nesta área e isso se deve muito aos profissionais que realizam esse atendimento.

(Foto: SEDEF)

A HISTÓRIA DE GEYZI

Um dos quesitos que colocam as residências de Irati como exemplo para o Brasil é a busca pelo restabelecimento das relações familiares. A história de Geyzicélia Gomes Macedo, que está na residência há sete anos, traduz essa ação. Conforme a unidade, o acolhimento dela se deu por motivo de falecimento da mãe. Ela não apresentava condições de autossustentabilidade.

Geyzicélia vive em instituições há 22 anos. O primeiro acolhimento foi 1997, em entidade onde permaneceu por 15 anos. Depois, em 2013, foi encaminhada para Associação Padre João Ceconello. Já em 2014 acabou transferida para a Mallet, até chegar nas residências Inclusivas.

A partir do trabalho das assistentes sociais do município, Geyzi, como é tratada dentro da casa, restabeleceu o contato afetivo com o irmão, Marlos Ravy, no Mato Grosso do Sul. Geyzicélia também frequenta o comércio da cidade, restaurante, panificadoras, entre outros. Ela sai, sempre acompanhada. Faz passeios com as demais pessoas acolhidas, com a escola e o Centro de Atenção Psicossocial de Irati.

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Cristina Esteche

Jornalista

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