22/08/2023
Cotidiano

Entre Rios relembra o “Dia da Perseguição”

Da redação (com assessoria) –  Um ato religioso marcado para às 10 horas deste sábado (15) , na Praça Nova Pátria, na Colônia Vitória, vai reunir a comunidade suábia para relembrar o drama da perseguição, da expulsão e da morte de suábios durante e pós a II Guerra Mundial.

Entre estes, encontram-se as 500 famílias que viviam em abrigos de refugiados na Áustria e que, como o auxílio desse país, imigraram para o Brasil e em Guarapuava foram as cinco colônias que compõem o distrito de Entre Rios.

A história dos suábios do Danúbio e de sua identidade cultural se confunde com a história da Alemanha, da Áustria, da Hungria e de outros países do sudeste da Europa, incluindo a ex-Iugoslávia, num período que, no total, abrange desde o século 17 até meados do século 20.

Trata-se de uma história bastante extensa e complexa, já que aquele mesmo período histórico representa a própria formação de vários dos países europeus atuais, com guerras, fusões, invasões, imigrações e a redifinição constante de fronteiras.
De acordo com a assessoria de imprensa da Cooperativa Agrária, os suábios do Danúbio são, de maneira geral, povos de etnia e cultura germânicas que têm sua origem principal no sudoeste e no oeste do território que hoje corresponde à Alemanha. É importante notar que a denominação “suábio” se refere diretamente aos germânicos que habitavam a “Suábia”, uma região que atualmente está inserida no estado alemão de Baden-Württemberg (sudoeste da Alemanha). Já a denominação “suábio do Danúbio” abrange todos os povos germânicos (não só os originários da Suábia) que, principalmente no século 18, imigraram de áreas do sudoeste e do oeste do então Reino Alemão (Deutsches Reich) para o sudeste da Europa (hoje Croácia, Sérvia, Romênia e Hungria, entre outros locais) – a região havia sido reconquistada em guerras contra os otomanos.
O principal período de imigração dos suábios do Danúbio ocorreu a partir de 1720. Naquela época, os imperadores austríacos (da linhagem dos Habsburgos) incentivaram principalmente agricultores a realizarem o povoamento dos territórios conquistados.
Para aqueles locais, além dos suábios propriamente ditos, imigraram pessoas das regiões germânicas da Francônia (Franken), Bavária (Bayern), Alsácia-Lothringen (Elsass-Lothringen), Pfalz, Hessen, Boêmia (Böhmen), Silésia (Schlesien), Vestifália (Westfalen), Suíça (Schweiz) e da própria Áustria.
Os “suábios do Danúbio” se fixaram em dezenas e dezenas de povoamentos, de maior ou menor porte, em locais como Batschka, “Turquia Suábia”, Banat e Sathmar. Ali praticaram a agricultura e mantiveram seus dialetos e suas tradições. Aquelas regiões pertenceram ao Império Áustro-Húngaro (1867 a 1918).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, ocorreu um fato peculiar: o Império Áustro-Húngaro se dissolveu e as regiões habitadas pelos suábios do Danúbio, antes sob um mesmo governo, se viram divididas agora pelas fronterias de vários países.

SUÁBIOS NO BRASIL..
Durante e depois da Segunda Guerra, muitos suábios deixaram o sudeste da Europa, dirigindo-se à Áustria, onde viveram durante anos em abrigos para refugiados.
A instituição filantrópica Ajuda Suíça para a Europa (Schweizer Hilfe) organizou um projeto para viabilizar uma alternativa de vida para um grupo de suábios do Danúbio que se encontrava na Áustria: um total de 500 famílias se inscreveu na iniciativa, que visava a criação de uma cooperativa agrícola no Brasil como um caminho para um novo futuro. Assim nasceu a iniciativa que levaria à fundação da Cooperativa Agrária e à colonização dos campos de Entre Rios, localidade que é um distrito rural do município de Guarapuava (PR).
A Agrária foi fundada em solo brasileiro – e não na Alemanha ou em outro lugar da Europa. A cerimônia de fundação da Cooperativa ocorreu no dia 5 de maio de 1951, no Hotel Central, em Guarapuava.
A Agrária, com apoio financeiro da Ajuda Suíça para a Europa, adquiriu, em Entre Rios, uma área inicial de cerca de 22 mil hectares. Os suábios que participaram do projeto de imigração para Entre Rios se tornavam cooperados e com o fruto de seu trabalho pagavam à Cooperativa pelas terras recebidas.
Em Entre Rios, a disposição dos suábios para enfrentar as muitas dificuldades dos primeiros anos, marcados por perdas de safras, falta de infra-estrutura e por dificuldades de idioma, ao lado de seu enorme esforço de superação de obstáculos, escreveram uma das mais marcantes páginas da história da imigração de etnia alemã no Brasil.

SUÁBIOS EM ENTRE RIOS
O distrito de Entre Rios se tornou a única comunidade rural de suábios do Danúbio existente na atualidade em moldes semelhantes às que existiam sudeste da Europa. Em outros países os suábios estão dispersos, por vezes, em grandes centros urbanos.
Hoje atentos à necessidade de participar de um mundo multicultural, os suábios do Danúbio de Entre Rios e seus descendentes, ao lado do orgulho e da gratidão de ter no Brasil sua nova pátria, guardam o exemplo de seus antepassados e persistem para vencer os novos desafios trazidos pela globalização: a profunda e rápida modernização da agricultura em tempos de mercados sem fronteiras e a preservação de sua identidade cultural.

Cristina Esteche

Jornalista

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