Poema de Jossan Karsten
Alguns casos de amor, de paixão, começam com o primeiro olhar, com um toque.
Em muitos momentos, as belas histórias surgem do nada e frutificam com perfeição.
Com este meu caso de amor, foi totalmente o avesso de tantas histórias já vistas.
No começo, a rejeição, a estranheza, o frio do lugar e das pessoas. A vontade de voltar.
Depois, a incerteza pela falta de oportunidades, pelos desmandos. Luta por um lugar.
Veio o período de tentar entender “o que eu estou fazendo aqui? Por que não me vou?”.
Mais tarde, a percepção de que “não é tão ruim assim e vou ficando até quando der”.
Um pouco além, em se tratando de tempo, o mergulho na vida, na história. Interesse!
E aí, quando me dei conta, eu estava apaixonado e amando. Miscelânea de tudo.
Explosão de sensações, de cheiros, de desejos em todas as células. Deste jeito.
Foi assim que me senti nestas terras de Guarapuava, isto, há muito tempo.
Já se vão vinte anos desde que aqui cheguei, com uma mochila e algumas roupas:
Três calças, duas camisas, três camisetas e um tênis. Estes eram meus bens. Únicos!
Não digo que vim cheio de sonhos, pois muitos deles tinham morrido pelo caminho.
Aqui me casei. Uma saga de procura por emprego e por estudo me torturou, me feriu.
Mesmo ante tantos tropeços, fui me adaptando e me sentindo parte da cidade.
Os problemas e dores que antes eu via de longe, passaram a ser meus também.
Lentamente, como nas histórias de amor, eu me vi impregnado de tudo por aqui.
Senti-me integrado a este povo e fui estudando e entendendo sua história, seus medos.
E os medos e anseios são muitos e continuam latentes. As incertezas, também…
Dois anos depois, minha filha nasceu e aí, tudo mudou, tudo se abriu. Eu fiquei.
Estudos, trabalho, busca incessante por melhorias e pela felicidade. Ah, a felicidade!
E não é que fui esquecendo o antes e vivendo cada vez mais esta história de amor?!
Desci os degraus do tempo da cidade e as cicatrizes passaram a fazer sentido.
Conheci, em vinte anos, o lado sombrio de Guarapuava e odiei muito esta situação.
Mas também, consegui enxergar luzes, desejos de felicidade e amor em tantas coisas.
E, cada vez mais, este meu desejo de ficar, de me misturar a tudo pulsava em mim.
Tornei-me parte da terra, da gente, dos campos, das pedras. Refiz-me por aqui.
Nestes séculos de história, depois de muitas leituras, eu reconheço a gente de verdade.
Senti que os que chegaram primeiro eram pessoas de fibra, de garra. Guerreiros de luz.
Há o sangue de muitos lutadores misturados a estes campos. Há trabalho, há vida.
O pôr do sol aqui é perfeito e oferece o espaço e todas as condições para os sonhos.
As manhãs, principalmente as geladas, instigam à garra, aos anseios, ao ser e estar.
Aqui, me tornei poeta e vivo a poesia em cada pulsar do meu coração e alma.
Meu caso de amor com Guarapuava não começou com o primeiro olhar, é verdade.
A paixão também não foi passageira, coisa de um verão, de um período só.
Aos poucos, me desconstruí, para me refazer partindo do zero, do nada, do sonho.
Lágrimas turvam meus olhos enquanto escrevo estas linhas, mas são de alegria.
Ser poeta é brincar com emoções e brindar com sentimentos a cada palavra escrita.
Por isso, eu quero e posso falar deste amor de vinte anos que começou lentamente.
Celebro o aniversário da cidade como se fosse o meu, como se fosse uma dádiva.
Calcado nestes campos, com olhos fitos no nascer e no pôr do sol, eu vivo aqui.
Não sei para onde esta vida vai me levar, pois isto nunca se sabe e nem se deve saber.
O certo é que eu confesso meu caso de amor que vem de vinte anos. Falo abertamente.
Eu me rendi à paixão avassaladora por esta cidade, por esta gente, por este clima.
Guarapuava está incutida em meu DNA e tudo desta terra pulsa em meu coração.
Vejo-me nos olhos de minha filha que segue aqui seu caminho cheio de sonhos e medos.
Sim, os medos ajudam na consolidação da história. Eu faço história todos os dias.
Este meu caso de amor é único e perfeito. Vale a pena ser contado e cantando.
Não faço versos para Guarapuava, pois ela é para mim o mais belo de todos os poemas.