22/08/2023
Política

Estrela de Belém enfrenta dificuldades financeiras

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Guarapuava está prestes a perder mais um hospital. Após a extinção dos hospitais São João e São Judas Tadeu, agora problemas financeiros atingem o Estrela de Belém.
De acordo com o advogado Nézio Toledo, assessor jurídico da empresa, a situação tem como pivô o atraso do repasse financeiro por parte do Estado para pagar os atendimentos médicos pelo SAS (Sistema de Assistência à Saúde), que atende servidores públicos estaduais.
Segundo Toledo, as parcelas mensais que são repassadas ao Estrela de Belém giram em torno de R$ 200 mil a R$ 300 mil. O atraso já é de dois meses. Há duas semanas a RSN vem tentando conversar com a administração do hospital, mas o retorno recebido é que a administradora Isabel Pawlina encontra-se com problemas de saúde e que somente ela falaria sobre o assunto. De acordo com colaboradores do Estrela de Belém, Isabel já teria ido a Curitiba para resolver o problema e que nos próximos dias a situação estaria normalizada.
Durante a semana a Comissão de Saúde da Câmara composta pelos vereadores Antenor Gomes de Lima (PT), Maria José Mandu Ribas (PSDB) e Gilson Amaral (DEM) estiveram no hospital e confirmaram a situação.
Porém, desde que o atendimento pelo SAS passou do Hospital Santa Tereza para o Estrela de Belém, em 1° de outubro de 2008, após vencer o processo licitatório, os usuários enfrentam problemas.
Várias pessoas, que preferem não ser identificadas, têm procurado a RSN, nos últimos meses, narrando casos pessoais e pedindo providências através da imprensa.
Uma delas conta que levou a filha de seis anos ao pronto socorro numa segunda-feira, com um quadro de inchaço repentino no rosto. Atendida primeiramente pelo clínico geral, este receitou um anti-alérgico genérico para aplicação imediata, e encaminhou para um especialista em alergia. A administração informou que a paciente deveria voltar dois dias depois (o dia seguinte seria feriado), para só então marcar a consulta com o especialista – sem garantir para quando tal consulta seria possível.
Com o rosto da criança continuando a inchar, a mãe desistiu do SAS e correu imediatamente ao especialista, pagou R$150,00 de consulta, e saiu com a requisição de exames diretamente a um laboratório. Pagos mais R$100,00, recebeu o resultado, que mostrou uma grave infecção. O médico receitou imediatamente um poderoso antibiótico, que custou outros R$100,00, e no mesmo dia foi iniciado o tratamento, com final feliz.
“Se eu esperasse dois dias para a consulta pelo SAS, mais não sei quantos dias por resultados de exames, para só então iniciar o tratamento, o que poderia ter acontecido com a minha filha?”, pergunta, indignada , a mãe.
A informação prestada por um dos poucos médicos especialistas que permaneceram no SAS após a mudança, pode explicar a dificuldade de atendimento. Segundo ele, os honorários oferecidos pela nova administração são inferiores aos que eles ganhavam antes, e quase todos se desligaram. “Só permaneceram alguns especialistas em áreas ainda com poucos profissionais em Guarapuava, aos quais foram oferecidos honorários mais compensadores. É o meu caso”. Para ele, isso explica em parte a razão de o hospital ter ganho a concorrência com valores abaixo do normal.
Um casal de aposentados informou que, diante das visíveis deficiências do novo SAS, acabou se obrigando a entrar num plano de saúde particular, “um gasto a mais que leva um terço de nossa aposentadoria, para ter a segurança exigida pela nossa idade”. E demonstra revolta pelo fato de que, como eles, muitos funcionários do Estado estarão saindo do SAS e tendo que pagar médico e exames particulares. O seu raciocínio é lógico: “Como o valor pago pelo Estado é fixo, por funcionário, independente de uso ou não do serviço, a fuga dos usuários vai assim, por vias transversas, levar a um grande lucro, apesar do valor mais baixo apresentado na licitação”.

PALAVRA DE UM FUNCIONÁRIO APOSENTADO

Um desabafo foi encaminhado  na tarde desta quarta-feira (23), o qual publicamos na íntegra:
“Os funcionários públicos estaduais com maior poder aquisitivo estão passando para planos de saúde particular, e os demais, a maioria, para o SUS, porque o SAS em Guarapuava está falido. Os poucos médicos são contratados por valores ínfimos, e após dois ou três meses sem receber, abandonam os clientes. Quando há necessidade de exames um pouco mais sofisticados, mandam para o SUS.
Informações contraditórias dão conta de que, por um lado, o hospital alega que não está recebendo os repasses do Estado, e do outro que o Estado paga normalmente, mas o dinheiro é usado para pagar outras contas, uma vez que o hospital estaria em fase de pré-falência.
Eu mesmo já recebi vários telefonemas de secretárias de médicos informando sobre cancelamento de consultas e de exames, porque o médico se desligou do SAS por não recebimento de vários meses de pagamento atrasados. Aí, para conseguir nova consulta, são meses, novamente, de espera por novo médico. Muito pior que no SUS.
Uma senhora ouviu de uma funcionária do SAS, recentemente, a seguinte frase, dita entre dentes, mas suficientemente alto para os que esperavam ser atendidos ouvir: “Vocês não pode reclamar de nada. Afinal, estão sendo atendidos de graça”.
A esse ponto levaram o nosso IPE. A nossa única esperança é que o próximo governador tome providências urgentes.”

Cristina Esteche

Jornalista

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