22/08/2023
Política

Fim de festa: Guarapuava acordou mais velha e mais pobre

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A Prefeitura de Guarapuava gastou mais de 300 mil reais com a "Festa dos 200 Anos", que se encerrou nesta quinta-feira 17 com um bolo servido em praça pública pelo prefeito Fernando Ribas Carli, mais a inauguração de uma estátuta em homenagem ao colonizador Diogo Pinto de Azevedo Portugal e um show do cantor popular Amado Batista. Perto do investimento, o resultado foi ínfimo: a população não conseguiu entender direito o fundamento histórico da mudança de data – oficialmente, Guarapuava tem 190 anos –, nem os reflexos que isso venha a trazer para a vida dos cidadãos.

Os números não são oficiais. Nem poderiam ser: a Administração Carli nega-se, terminantemente, a fornecer qualquer tipo de informação, mesmo sendo obrigada por lei com a instituição do Portal da Transparência, que vem sendo flagrantemente descumprido. Depois de ter constituído a Bancada Carlista na Câmara Municipal, com vereadores que lhe seguem cegamente, o prefeito desafia até mesmo o Ministério Público e o Poder Judiciário não cumprindo prazos e outras exigências legais.

Só com o show do cantor Amado Batista, foram gastos, oficialmente, mais de R$ 140 mil, de acordo com o "Diário Oficial do Município". Além do cachê artístico, a Prefeitura teve que arcar com despesas de palco, som e luz, que não custam menos de R$ 50 mil.

A estátua do Coronel Diogo foi avaliada em mais de R$ 70 mil. A confecção ficou a cargo de uma associação beneficente de Curitiba, artíficio que permitiu à Prefeitura fazer a contratação com dispensa de licitação. O "cavalo" do Coronel, porém, foi visto dentro de uma metalúrgica em Guarapuava, gerando dúvidas se esta peça foi construída na cidade ou se a empresa serviu apenas como depósito. Se a resposta fosse "depósito", geraria outra dúvida: por que guardar numa metálurgica, numa empresa particular, se a Prefeitura tem tantos locais disponíveis para isso?

Com os gastos do show e a estatátua do Coronel Diogo, somam-se os eventos preparatórios realizados pela Administração Carli na tentativa de incutir na cabeça da população a "Festa dos 200 Anos". Foram feitos video-taipes e uma película para projeção em cinema, materiais gráficos, teatro, programação em escolas e uma quantia considerável em publicidade paga em parte dos meios de comunicação da cidade, mais a parte de produção e comissão da agência de propaganda que atende a Prefeitura, que também são vultosos.

Todos esses investimentos, visivelmente, não foram suficientes para encantar a população guarapuavana. Ficou mais em evidência o conceito de marketing (Guarapuava pronta para o futuro), que não conseguiu convencer o público, do que a parte histórica que deveria ser o pano de fundo de todo o enredo. Para obter convencimento, Carli teria que demonstrar, com ações reais, a pujança de Guarapuava nos seus 200 anos de colonização, abrindo um debate franco e sincero com a sociedade, envolvendo-a e motivando-a para a efetiva construção desse "futuro".

Ao organizar uma programação sem conotação popular e sem representatividade dos variados segmentos que compõem a cidade, Fernando Carli reduziu a força do que poderia significar 200 anos de História. Falou com o espelho. Para animar a patuléia, teve que lhe dar pão (bolo) e circo (Amado Batista). Colheu a insatisfação do público que foi ao show e teve que esperar horas e horas de atraso, numa noite fria. Escancarou a desorganização que carcome sua gestão administrativa. No dia seguinte, a cidade acordou mais pobre, pelo dispêndio na festança, procurando retocar a maquiagem para não se sentir ainda mais velha da nova idade que lhe impuseram.

Cristina Esteche

Jornalista

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