quinta-feira, 13 de mar. de 2025
Em Alta Região

Funai se reúne com lideranças da aldeia Ivaí após retenção de indígenas

Criada por dissidentes das lideranças da aldeia Ivaí, a aldeia Serrinha foi parcialmente dizimada no início deste ano, resultando no êxodo de centenas de famílias

A Funai recomendou que os Kaingang expliquem ao Judiciário e às autoridades como funciona o regimento interno da aldeia (Foto: Ascom/Ministério da Justiça)

O conflito entre indígenas Kaingang das aldeias Ivaí (Manoel Ribas) e Serrinha (Pitanga) segue tenso. No sábado (8), lideranças da aldeia Ivaí detiveram e amarraram quatro indígenas sob a justificativa de que tentavam retornar ao povoado da Serrinha, parcialmente dizimado em janeiro deste ano. Por isso, a Coordenação Regional da Funai de Guarapuava convocou uma reunião na terça (11) para discutir o caso.

A Serrinha, vale lembrar, foi criada por dissidentes que contestam as lideranças da aldeia Ivaí. O estopim foi a eleição que reelegeu o Cacique Domingos Zacarias, em 2024. No entanto, como as duas aldeias ocupam o mesmo território — a Terra Indígena Ivaí —, as tensões escalaram, culminando em um conflito severo entre as duas no início do ano que levou diversas famílias da Serrinha ao êxodo forçado.

Zacarias e o vice-cacique Reinaldo Ninvaia afirmaram que monitoram as imediações do povoado desde então para impedir a volta de indígenas que não são bem-vindos. Durante a reunião, o cacique também mencionou a preocupação com o envolvimento de assentados no conflito territorial.

Segundo as lideranças, os detidos no último dia 8 portavam facões e rondavam a região. Ao serem abordados, um fugiu e os demais acabaram rendidos. Entre os presos estava Valdecir, indígena cuja volta não é aceita pelas lideranças da aldeia Ivaí. Ele foi transferido para a Terra Indígena da Boa Vista, em Laranjeiras do Sul, porém retornou com a ajuda de um assentado.

A Funai recomendou que os Kaingang expliquem ao Judiciário e às autoridades como funciona o regimento interno da aldeia. As lideranças da aldeia Ivaí alegam que os antigos moradores da Serrinha querem provocar novos confrontos e contam com o apoio de assentados da região para retomar a terra.

LONGO CONFLITO INTERNO

De acordo com os dissidentes, as lideranças da aldeia Ivaí mantêm o poder a partir da violência e da influência política. Entre as acusações, estão o arrendamento ilegal de terras para benefício próprio. O ex-cacique da Ivaí, Dirceu Retanh Pereira Santiago, foi preso em 2012 por esse crime.

Em janeiro, um ataque contra a Serrinha destruiu 60 casas e feriu sete indígenas, incluindo o cacique da Serrinha, Valmir Olivério, baleado na boca. Ele é um dos principais opositores a Domingos Zacarias e Reinaldo Ninvaia. Valmir afirma que foi alvo da ofensiva por se opor ao arrendamento de terras indígenas para o agronegócio.

A disputa envolve um território de 7.306 hectares. Conforme o Parágrafo2, portal que cobre a causa indígena no Paraná, cerca de 900 alqueires são arrendados anualmente para o plantio de soja, milho e trigo. A prática rende mais de R$ 1 milhão por ano, administrados pela Associação Comunitária Indígena Ivaí (Aciva). De acordo com a denúncia, os lucros não são distribuídos para toda a comunidade, beneficiando apenas um pequeno grupo de lideranças.

Assim, os conflitos entre os dois grupos segue escalando. O Ministério Público Federal investiga há anos denúncias de irregularidades, violência e desvio de recursos na administração da Terra Indígena Ivaí. A Polícia Federal também acompanha o caso.

Enquanto isso, cerca de 242 indígenas da Serrinha, incluindo 35 crianças, seguem desabrigados em Pitanga. O município afirma que não tem mais condições de fornecer suporte. Sem acesso regular a serviços básicos, essas famílias vivem sob risco constante de novos ataques.

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Thiago de Oliveira

Jornalista

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