22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Guarapuava está sem ‘malhação do Judas’ desde 2019

'Malhação de Judas', vara de marmelo, colheita de macela na madrugada fazem parte da memória de infância do casal Ernestina e Sebastião

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‘Judas’ em 2019 no extinto Bar do Zé em Guartapuava (Foto: arquivo/RSN)

Colher ‘macela do campo’ ainda orvalhada, antes do nascer do Sol. Ou então, sair em busca de roupas velhas, serragem e escolher um ‘Judas’ pra malhar. Ou ainda ficar quieto pelos cantos “meio escondido” para se livrar da tradicional ‘varinha de marmelo’, sapecada no fogo e benzida na Missa de Ramos. Estas são as memórias que o casal Ernestina e Sebastião Vieira têm da Páscoa quando eram crianças.

Moradores do bairro Santana, mas passeando pelo Shopping Cidade dos Lagos, neste sábado (8),  o casal aposentado disse que resolveu sair de casa. “Pegamos um Uber e viemos conhecer o Shopping. A gente nunca tinha vindo aqui, então viemos como funciona esse negócio. Nossa, como é bonito”. Os dois , que se conhecem desde criança, quando ainda moravam no interior de Ponta Grossa, há 42 anos moram em Guarapuava. “Hoje eu vim tirar a aleluia dela. Como hoje não dá mais bater em ninguém, então trouxe ela pra passear”, brinca Sebastião.

“Naquele tempo da nossa infância era tudo muito diferente. A gente se reunia para fazer o Judas e acordava de madrugadinha para pensurar numa árvores. Cada um pegava um pedaço de pau e começava a bater até desmanchar inteirinho”. Hoje, segundo Sebastião, as coisas mudaram muito. “Mas há Judas de todos os tipos. Hoje, além de Jesus, o povo é que traído”.

Para dona Ernestina, a juventude de hoje esqueceu ou desconhecem as tradições antigas. “Só querem saber da Internet. Por isso vivem com depressão. Não sabem aproveitar a vida. Não têm religião”. A conversa segue boa até o momento de fazer uma foto quando ambos reagem. “Moça, a gente conversa, mas bater fotografia a gente não gosta. Vamos queimar a foto. Já está bom assim. Agora vamos comer este lanche aqui”.

SEM ‘JUDAS’

Em Guarapuava, o Portal RSN, procurou mas não encontrou nenhum bairro ou localidade que tenha resgatado essa tradição. A última noticia que se tem dessa tradição ocorreu em 2019, no extinto ‘Bar do Zé’. O ‘judas’ tinha sido a reforma da Previdência.

Em Ponta Grossa um ‘Judas’ amanheceu em frente a um letreiro do Lago de Olarias.

A MALHAÇÃO

A malhação do Judas é uma tradição herdada da Península Ibérica e disseminada em boa parte dos países da América do Sul desde a época colonial. Feita sempre nas manhãs do ‘Sábado de Aleluia’, a prática consiste, basicamente, no linchamento coletivo e simbólico de um boneco. Nos tempos antigos, era representando Judas Iscariotes, o apóstolo de Cristo que o traiu e o entregou aos romanos.
De acordo com a tradição o boneco no tamnho de uma pessoa adulta era pendurado em um poste, para ser atacado violentamente. Houve casos em que o boneco era arrancado do poste e a malhação chegava a níveis extremos. Ele era incendiado ao meio-dia, mas a prática acabou sendo considerada inadequada.

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Cristina Esteche

Jornalista

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