Colher ‘macela do campo’ ainda orvalhada, antes do nascer do Sol. Ou então, sair em busca de roupas velhas, serragem e escolher um ‘Judas’ pra malhar. Ou ainda ficar quieto pelos cantos “meio escondido” para se livrar da tradicional ‘varinha de marmelo’, sapecada no fogo e benzida na Missa de Ramos. Estas são as memórias que o casal Ernestina e Sebastião Vieira têm da Páscoa quando eram crianças.
Moradores do bairro Santana, mas passeando pelo Shopping Cidade dos Lagos, neste sábado (8), o casal aposentado disse que resolveu sair de casa. “Pegamos um Uber e viemos conhecer o Shopping. A gente nunca tinha vindo aqui, então viemos como funciona esse negócio. Nossa, como é bonito”. Os dois , que se conhecem desde criança, quando ainda moravam no interior de Ponta Grossa, há 42 anos moram em Guarapuava. “Hoje eu vim tirar a aleluia dela. Como hoje não dá mais bater em ninguém, então trouxe ela pra passear”, brinca Sebastião.
“Naquele tempo da nossa infância era tudo muito diferente. A gente se reunia para fazer o Judas e acordava de madrugadinha para pensurar numa árvores. Cada um pegava um pedaço de pau e começava a bater até desmanchar inteirinho”. Hoje, segundo Sebastião, as coisas mudaram muito. “Mas há Judas de todos os tipos. Hoje, além de Jesus, o povo é que traído”.
Para dona Ernestina, a juventude de hoje esqueceu ou desconhecem as tradições antigas. “Só querem saber da Internet. Por isso vivem com depressão. Não sabem aproveitar a vida. Não têm religião”. A conversa segue boa até o momento de fazer uma foto quando ambos reagem. “Moça, a gente conversa, mas bater fotografia a gente não gosta. Vamos queimar a foto. Já está bom assim. Agora vamos comer este lanche aqui”.
SEM ‘JUDAS’
Em Guarapuava, o Portal RSN, procurou mas não encontrou nenhum bairro ou localidade que tenha resgatado essa tradição. A última noticia que se tem dessa tradição ocorreu em 2019, no extinto ‘Bar do Zé’. O ‘judas’ tinha sido a reforma da Previdência.
Em Ponta Grossa um ‘Judas’ amanheceu em frente a um letreiro do Lago de Olarias.
A MALHAÇÃO
A malhação do Judas é uma tradição herdada da Península Ibérica e disseminada em boa parte dos países da América do Sul desde a época colonial. Feita sempre nas manhãs do ‘Sábado de Aleluia’, a prática consiste, basicamente, no linchamento coletivo e simbólico de um boneco. Nos tempos antigos, era representando Judas Iscariotes, o apóstolo de Cristo que o traiu e o entregou aos romanos.
De acordo com a tradição o boneco no tamnho de uma pessoa adulta era pendurado em um poste, para ser atacado violentamente. Houve casos em que o boneco era arrancado do poste e a malhação chegava a níveis extremos. Ele era incendiado ao meio-dia, mas a prática acabou sendo considerada inadequada.
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