22/08/2023
Em Alta Guarapuava Política

Guarapuava terá memorial em homenagem à população negra

Projeto de Lei prevê monumento no Parque do Lago destacando figuras históricas como Belmiro Sebastião de Miranda e Ezidia Efigênia

Parque do Lago (Foto: Divulgação)

Em um gesto histórico de reconhecimento e reparação simbólica, a Câmara Municipal de Guarapuava vota o Projeto de Lei que autoriza a construção de um monumento no Parque do Lago em homenagem à população africana e afrodescendente. Conforme a proposta, apresentada pela vereadora Professora Terezinha (PT), a matéria nasce de uma demanda do IPONG (Instituto dos Povos Negros de Guarapuava e Microrregião).

A ideia é celebrar a resistência e o legado de mulheres e homens negros que ergueram grande parte da estrutura que deu origem à cidade. A homenagem terá como figuras centrais Belmiro Sebastião de Miranda e Ezidia Efigênia, símbolos da luta pela liberdade e da construção coletiva. Escolhido por ser um dos principais pontos de convivência da cidade, o Parque do Lago permitirá que o monumento cumpra função educativa e cultural.

De acordo com a vereadora, trata-se de um passo necessário para “construir uma cidade plural, justa e comprometida com o combate ao racismo”. A instalação também dialoga com o Estatuto da Igualdade Racial e com compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Em Guarapuava, onde 34,2% da população se autodeclara negra, segundo o censo do Ibge em 2022, a homenagem serve como instrumento de afirmação e pertencimento.

Ao destacar Belmiro Sebastião de Miranda e a esposa, Ezidia Efigênia, o município reconhece dois personagens essenciais da formação de Guarapuava. Belmiro, nascido em 1827, filho da africana escravizada Lucinda, foi um mestre na construção de casas de taipa e responsável por erguer obras emblemáticas, como a casa que hoje abriga o Museu Municipal. Mais do que construtor, Belmiro tornou-se um libertador. Livre, comprou a alforria de Ezidia, com quem se casou.

Juntos se dedicaram a libertar outros escravizados, conquistando a liberdade de cerca de 50 pessoas. O Hotel Redenção, fundado por eles, foi símbolo de autonomia e resistência.

A proposta de memorial reconhece essa herança silenciada e insere Guarapuava no conjunto de cidades como Curitiba, Maringá e Londrina, que já possuem monumentos afrodescendentes.

O projeto da vereadora Professora Terezinha, reacende um debate necessário. Afinal, a escravidão em Guarapuava não foi exceção. Documentos históricos, como os apresentados no livro ‘População, Escravidão e Família em Guarapuava no Século XIX’, detalham um cotidiano marcado pela exploração extrema. Ou seja: jornadas de até 18 horas, trabalhos exaustivos na lavoura, pecuária, produção de alimentos, construção civil e artesanatos.

Negros e negras sustentaram a economia local carregando pedras, amassando barro, fabricando móveis, conduzindo tropas e mantendo a produção que abastecia toda a Região. Apesar da brutalidade do sistema escravocrata, a narrativa dominante por décadas silenciou a contribuição e o sofrimento dessa população. O monumento surge, portanto, como um marco de resgate e justiça histórica.

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Cristina Esteche

Jornalista

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