22/08/2023


Cotidiano

Igreja Católica completa 200 anos de presença em Guarapuava

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Guarapuava – No dia 2, terça-feira, Guarapuava comemora o dia de sua padroeira, Nossa Senhora de Belém. A festividade desse ano também faz alusão aos 200 anos de presença da Igreja Católica na cidade, já que em 17 de junho de 1810 foi celebrada a primeira missa no local, logo após a chegada da Junta da Real Expedição, comandada por Diego Pinto de Azevedo Portugal e pelo padre Francisco das Chagas Lima.

Nove anos mais tarde, a padroeira de Guarapuava deu nome à freguesia, criada no dia 9 de dezembro, data considerada como da fundação da cidade. Já a imagem da santa teria chegado ao local em 1818 pelas mãos de Laura Rosa da Rocha Loures. “Na verdade, essa devoção a santa surgiu com o padre Chagas. Trata-se de algo muito forte, ligado a nossa história” comenta o padre José de Paulo Bessa, responsável pela paróquia e catedral Nossa Senhora de Belém.

A Igreja Católica possui um papel importante no desenvolvimento de Guarapuava, graças, principalmente, a figura do padre Chagas. Ele é considerado como responsável, entre outras coisas, pela organização de núcleos urbanos no local. No embate entre o poder temporal, representado por Portugal, e o religioso, canalizado no próprio Chagas, o padre acabou se sobressaindo.

O clérigo foi responsável, por exemplo, pela escolha do lugar onde se deu o povoamento. “Diogo Pinto de Azevedo Portugal pretendia ocupar o local a partir do Pontão das Estocadas, onde hoje se localiza o município de Pinhão. Mas a proposta que prevaleceu foi a do padre Chagas, que agiu junto ao bispo de São Paulo”, explica a doutora em História pela Unesp e professora da Unicentro, Márcia Tembil. Assim, o povoado foi implantado a partir da construção da primeira igreja, que se localiza no espaço ocupado hoje pela catedral.

Destacando o papel da igreja na história da cidade, Bessa concorda com uma possível mudança na data de fundação de Guarapuava – de 1819 para 1810, de forma que a cidade completaria 200 anos já em 2010. “As pessoas que vieram para cá já tinham o objetivo de fundar a cidade”, afirma. “Por isso estamos pleiteando a mudança”, completa.

200 anos?

Ao tocar no assunto, Bessa, enquanto religioso, destaca sua posição frente ao projeto que visa à alteração na data de fundação da cidade. O debate sobre a possível mudança e seus objetivos tem repercutido entre historiadores e memorialistas. “No âmbito da colonização portuguesa, a igreja desempenha o papel de marco fundador. É pertinente esse discurso dela associado à idéia de fundação”, comenta Márcia.

Ela destaca ainda outro aspecto importante. “A cidade foi construída a partir da igreja, seguindo o modelo de ‘tabuleiro de xadrez’”, afirma. Nesse padrão, que pode ser observado em locais onde hoje se encontram a Cidade do México e Cuzco (Peru), os quarteirões são idênticos, geralmente, com forma quadrada, definidos por ruas ortogonais e retilíneas, sendo que o centro da cidade é ocupado por edifícios públicos, entre eles a catedral.

Apesar de reconhecer o papel da igreja no processo de ocupação do local onde hoje se encontra Guarapuava, Márcia faz uma ressalva com relação a possível mudança na data de fundação da cidade. “Ao pensar em 1810, as pessoas levam em consideração a chegada à região. Mas se raciocinarmos assim, no século XVIII já havia passado expedições pelo local. Por isso, em minha opinião, a cidade foi fundada com a criação da freguesia em 1819”, opina. Ela também analisa o principal objetivo desse tipo de mudança, ocorrida várias vezes ao longo da história. “Esse tipo de prática diz respeito aos usos do passado em prol de projetos específicos”, diz.

A nova catedral

Polêmica a parte, a Igreja Católica completa 200 anos esperando pelo término das obras da nova catedral, erguida ao lado da atual. O projeto para a construção foi iniciado em 1997 e os trabalhos começaram três anos mais tarde. Apesar da dificuldade em especificar uma data para a conclusão da nova catedral, Bessa destaca que espera que obras estejam terminadas por volta de 2014.

Apesar da possível demora de 14 anos para a construção da nova catedral, o tempo de espera pode ser considerado pequeno perto dos 46 anos que levou para ser concluída a atual catedral. A obra foi iniciada em 1840, com o cônego Braga, e terminada em 1886. Depois disso, a igreja foi restaurada ou recebeu retoques em três oportunidades.

“A idéia principal foi a de unir as duas obras, criando um conjunto harmônico e integrado. Foram criadas formas circulares e amplas das paredes e da cobertura que criam um leque que dão leveza a nova obra, se diferenciando das linhas retas da antiga construção, vindo a marcar uma linguagem arquitetônica que liga o novo ao antigo, rumo ao século XXI”, comenta o arquiteto responsável pela nova catedral, Paulo Ernesto Martins.

A igreja terá capacidade para 1.360 pessoas sentadas, o dobro da atual catedral. Haverá garagem no subsolo com capacidade para 63 automóveis e 13 motos. “A fase de estruturação da obra já foi finalizada. Faltam agora alguns acabamentos como a colocação dos vidros na fachada, a pavimentação feito a granito, a implantação do sistema de prevenção a incêndio e a colocação do forro”, informa o engenheiro responsável pela obra, Paulo Roberto Martins. Ele destaca ainda que se trata de uma fase bastante dispendiosa, sendo difícil precisar o término da nova catedral.

“A finalização depende agora do dinheiro disponibilizado pela igreja”, comenta. Entre as idéias para a arrecadação de verbas estão à utilização do estacionamento do subsolo mediante cobrança, enquanto a igreja não fica pronta, e o aumento no faturamento da festa da padroeira.

Cleyton Lutz – Rede Sul de Notícias

Imagem: projeção da fachada da nova catedral (divulgação/Construtora Artec)

Cristina Esteche

Jornalista

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