22/08/2023
Cotidiano

Jornalista que viveu em Portugal diz que ações discriminatórias são comuns

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Morando durante oito anos em Portugal, a jornalista da Rede Sul de Notícias sentiu na pele o quanto atos discriminatórios podem ser cruéis. Logo que desembarcou em Portugal, já foi vítima de preconceito no próprio aeroporto. Lizi Dalenogari desembarcou em Lisboa no dia 16 de março de 2004 e ao passar pelo serviço de imigração foi abordada por um fiscal que lhe perguntou: “É brasileira? Veio sozinha? Com qual finalidade?”. Só conseguiu ser liberada depois de mostrar a carteira internacional de jornalista, seu equipamento fotográfico e o contrato de trabalho que a credenciava a trabalhar no país lusitano.

Durante os primeiros meses a dificuldade em entender o porque de tantas reservas contra os brasileiros foi se esclarecendo. “Somos na grande maioria muito sociáveis, alegres e passamos a idéia de bonachões. Para eles este comportamento irreverente pode ser comparado ao dos “aldrabões”, termo que se usa lá para identificar pessoas desleais, desonestas. Tudo leva uma questão de tempo para se adequar, tanto para nós (imigrantes), quanto para eles".

A primeira história que a jornalista ouviu logo que chegou foi a das Mães de Bragança, um movimento de mulheres portuguesas que se organizou em 2003 (um ano antes da jornalista chegar), como forma de protesto à chegada de mulheres brasileiras na cidade, que se prostituíam ou faziam companhia aos homens nos bares sociais. Muitos destes homens eram casados e acabavam gastando o que ganhavam no mês, ameaçando o sustento das famílias. A iniciativa das mulheres de Bragança levou a polícia a realizar dezenas de rusgas (termo português para fiscalização), o que resultou em quatro casas de prostituição fechadas, seis brasileiras condenadas e dezenas repatriadas por se encontrarem em situação ilegal em Portugal. Após a ação policial e o encerramento das casas, os comerciantes da cidade queixaram-se de uma quebra no negócio de cerca de 25%.

A jornalista reafirma que tudo é uma questão de tempo. "Respeitar as diferenças culturais e deixar que as ações demonstrem a índole e a capacidade de cada um, é o caminho". Lizi pensa em voltar a residir em Portugal nos próximos anos, país que adotou e pelo qual nutre um imenso respeito e admiração. Foi lá que seu filho Enzo nasceu, passou seus primeiros anos de vida. Hoje vive em Guarapuava, terra natal de sua mãe e não sofre preconceito por ser portuguesinho. 

Cristina Esteche

Jornalista

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