22/08/2023
Cotidiano

Jovens de Curitiba participam de Conferência da ONU no Irã

Quatro jovens de Curitiba foram os únicos da América Latina que participaram de uma conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) em Teerã, no Irã. O evento organizado também pela Cruz Vermelha e International Studies Journal ocorreu em fevereiro e discutiu os conceitos legais em relação à evolução dos tribunais penais. Na bagagem, além da experiência como conferencistas em um evento internacional, o grupo trouxe várias histórias de um país que difere das outras nações islâmicas.

"Tínhamos ideia de um país fechado, com regras rígidas por causa do islamismo, mas não é bem assim", contou o mestrando em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Gustavo Bussmann. O grupo, que fez uma pesquisa na internet para entender as proibições impostas pelo governo, se surpreendeu com o que encontrou. Apesar do consumo do álcool ser proibido e o acesso a internet não ser livre, os iranianos mostraram que aprenderam a burlar as regras do sistema. "Fomos a uma festa na casa de um amigo do rapaz que nos vendeu um tapete. Tinha álcool, música", explicou o professor do curso de Direito da Unicuritiba José Carlos Portella Jr.

Gustavo Bussmann contou que alguns iranianos o adicionaram nas redes sociais depois do evento. "Uma das meninas até aparece sem véu nas fotos", complementou. Em relação ao véu, outra surpresa. “Eu achava que tinha que usar o véu e não podia aparecer uma ponta do cabelo, mas é mais tranquilo”, explicou a professora da Uniandrade Maria Fernanda Loureiro, que também apresentou um artigo na conferência.

Durante as apresentações também existiu o receio de falar algo que pudesse infringir as leis islâmicas ou que desagradasse os participantes. "Apesar de ser uma conferência sobre Direitos Humanos, meu receio foi falar sobre alguns assuntos mais polêmicos. O Gustavo por exemplo, ia falar sobre apedrejamento de mulheres, o que no final das contas foi abordado por outros", disse Flávia Kroetz, que é mestranda em International Human Rights Law na universidade inglesa de Oxford.

A conferência reuniu palestras sobre Direito Internacional Humanitário, Direito Internacional Penal e Direitos Humanos, com participantes do Irã, Kuwait, Egito, Canadá, Itália, Sérvia e Irlanda. Os conferencistas também puderam ouvir relatos de vítimas das armas químicas usadas durante a Guerra Irã-Iraque. Os depoimentos apresentaram uma realidade desconhecida. "Uma das vítimas contou que o embargo econômico também impede a compra de medicamentos e que por isso, era importante que a realidade deles fosse divulgada para fora", disse Portella.

Porém, o que mais chamou a atenção foi a hospitalidade do povo iraniano. “Em todos os lugares alguém nos parava para desejar boas vindas ou nos ajudava com informações, apesar de poucos falarem inglês", contou Flávia. Uma das situações mais inusitadas foi quando a Maria Fernanda e a Flávia entraram em uma mesquita. “Nós íamos andando na mesquista e as mulheres iam levantando e parando para conversar com a gente. Ficamos quase uma hora lá dentro”, contou Maria Fernanda.

Foi um empresário iraniano que  salvou o grupo de uma enrascada. "Por causa do embargo econômico, cartão de crédito internacional não é aceito por lá. Porém, nosso hotel dizia que aceitava. No fim, era preciso fazer uma transferência que nenhum dos nossos bancos autorizava a fazer. Foi quando apareceu nosso amigo e pagou a conta", explicou Portella. Os jovens tinham conhecido o empresário no voo de Dubai para o Teerã. "O homem nos conheceu dois dias antes e mesmo assim pagou a conta", complementou Gustavo Bussmann.

Agora, a vontade do grupo é voltar ao país, mas para passear. "Só de falar, já sinto vontade de voltar”, contou Flávia. “Queremos conhecer as cidades ao redor. Tivemos um problema no visto e por isso, não conseguimos seguir o que tínhamos planejado", explicou Portella.

 

Fonte: G1

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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