22/08/2023
Brasil Cotidiano

Lojas Maçônicas e Festa do Soquete doam 17 mil litros de água

Carregamento de água chegou à cidade de Encantado e empresário manda texto emocionado sobre a catástrofe que atinge o Rio Grande do Sul

Imagem de um cenário devastador (Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini)

O sol que surgiu nesta terça (21) em Encantado, no Rio Grande do Sul, provocou uma sensação boa que aquece o coração. Foi desta forma que o empresário Laércio Pavi, que mora nessa cidade gaúcha, descreve o sentimento que envolve as mais de 700 famílias que ficaram sem nada nesse município.

Perto de Muçum e de Roca Sales, ‘Encantado’, assim como outras cidades do RS, recebem doações. Mas essa cidade, em especial conta com a solidariedade de guarapuavanos. Conforme Eduardo Christi, coordenador da Festa do Soquete, uma carreta carregada com 17 mil litros de água mineral doados pela Festa do Soquete e pelas seis Lojas Maçônicas chegou ao destino.

Carreta com garrafas de água segue ao Rio Grande do Sul (Foto: Divulgação)

Essas doações se somam a outras de alimentos, roupas, cartinhas a crianças, entre outras demonstrações de solidariedade que estão sendo enviadas de Guarapuava, ao povo gaúcho, nas últimas semanas.

Imagem de casa destruída (Foto: Divulgação)

CENÁRIO

Em contato com o Portal RSN, o empresário exalta a solidariedade e diz que o cenário é de devastação. De acordo com Pavi, cidades próximas a Encantado, como Muçum, Roca Sales, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Lajeado e outras estão destruídas.

Pensar em reconstrução ainda não dá. Não sabemos por onde começar. Agora que o Sol saiu e a água começou a baixar dá pra ver a destruição. Existem bairros inteiros onde as casas foram levadas embora. Cada lugar tem imagens inacreditáveis.

De acordo com Laércio Pavi, há lugares onde famílias padecem sem comida. “Não tem como chegar lá. Só de helicóptero e agora jipeiros estão fazendo o transporte”.

DEVASSA

Mas pelas fotos e vídeos encaminhados pelo empresário ao Portal RSN e pelas imagens mostradas pela televisão as cidades se transformaram num ‘lixão a céu aberto’. Acumulam tanto entulho que o governo gaúcho pensa em criar ‘aterros’ somente para essa modalidade. *Veja o vídeo

CATÁSTROFE DESCRITA POR UM GAÚCHO

O empresário Laércio Pavi sente na pele os efeitos da devassa provocada pela maior catástrofe ambiental da história. Morador de ‘Encantado’ ele colocou num texto um pouco do sentimento que assola o povo gaúcho. Confira abaixo:

AOS VOLUNTÁRIOS
Por Laércio Pavi

“Quando saí para fora e vi o sol iluminando o morro em frente à minha casa, confesso que me emocionei, não uma emoção com lágrimas, mas aquela sensação boa que aquece o coração. Depois de infindáveis dias chovendo absurdamente, ou garoando com um céu cinza sobre uma vida em preto e branco, que se assemelha aos filmes de guerra, com muita água e lama, esse brilho é um acalento.

Nesse mesmo morro teve um deslizamento, e o vídeo da mulher usando uma capa de chuva amarela, colocando as mãos na cabeça em desespero, enquanto a casa ia sendo destruída pela terra, rodou pelas redes sociais. Muitos usam a mesma expressão tentando descrever o que veem aqui: um cenário de guerra. E não é exagero. Crateras enormes onde antes tinham estradas, destroços onde haviam bairros. Lama, tristeza e solidão por todos os lados. Sumiram casas, pontes, ruas… vidas.

É como se várias bombas tivessem sido jogadas na região, mas, o sol voltou a brilhar. E “era sol que me faltava”, falei comigo mesmo enquanto fotografava, “apenas um simples dia de sol”, que em meio a todo contexto dos últimos dias, se torna uma paisagem digna de ser registrada.

Helicópteros decolando com comida ou remédios para algum lugar inacessível, enquanto outro cruza o céu trazendo um corpo por uma corda. É sério que isto está acontecendo na minha cidade? Parece que foi ontem que tivemos uma tragédia por aqui (a qual nem tínhamos ainda nos recuperado), mas desta vez consegue ser ainda pior. Muito pior! Numa proporção gigantesca pelo nosso estado.

Sim, finalmente o sol voltou a brilhar, mas desde os primeiros dias do desastre, houve um outro tipo de brilho que nos aqueceu e nos deu forças. E  esse, nos veio através das pessoas que foram se mobilizando, cada qual do seu jeito, providenciando ajuda, reabrindo estradas ou fazendo novos acessos, trazendo ou levando donativos, salvando vidas.

Mobilização rápida e eficaz que se estendeu e ainda se estende por todos os cantos deste país. Pessoas comuns que resolveram se dedicar a causa de ajudar, de fazer o bem sem olhar a quem. Alguns largaram tudo, outros contribuíram como podiam, mas a mobilização acionou uma grande rede de engrenagens que criou uma máquina de ajuda fazendo chegar caminhões, caminhonetes, aeronaves e toda sorte de equipamentos.

“Laércio, não mediremos esforços para ir até aí”, “Laércio, não vamos deixar vocês desamparados”, foram algumas das várias mensagens vindas de diferentes locais, surpreendendo e criando esse tal brilho de apoio que tento transmitir nessas linhas. Sem essa ajuda, não haveria a possibilidade de passarmos por isso sozinhos. Pessoas fazendo centenas ou milhares de quilômetros.

Alguns diariamente! Trazendo mantimentos, limpando casas e ruas, resgatando pessoas, levando uma marmita e um galão de água para locais isolados ou estendendo um sanduíche para quem trabalha. Tantas ações que é difícil descrever, “só vindo aqui para entender”, como dizem alguns.

Temos sim grande gratidão a todos voluntários e a toda ajuda vinda de fora, e eu em particular, sem desmerecer a ninguém, tenho uma gratidão mais que especial àqueles que estiveram ou tem estado em contato direto comigo. Muito do que está neste texto, diz respeito a vocês. Incansáveis, corajosos e generosos amigos e irmãos.

Se nas histórias de guerra têm seus heróis, nesta eles são chamados de Voluntários. Aposto que cada cidadão dos locais atingidos conheceu algum de vocês. Sim, o sol voltou a brilhar, mas o brilho de esperança que vocês nos trouxeram enquanto ainda estávamos em meio ao caos e a escuridão, nos manteve de pé. Simplesmente: Muito obrigado!”

@laerciopavi

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Cristina Esteche

Jornalista

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