22/08/2023

Mestranda denuncia injúria racial sofrida em Guarapuava

Mulher preta e nordestina diz que foi tratada como ladra em ateliê de costura e mensagem recebida revela o preconceito racial

Isabela Helena Freire de Medeiros (Foto: divulgação)

No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, nesta quinta (20), a agrônoma e mestranda no Centro de Desenvolvimento Econômico, Social e Tecnológico (Cedeteg), Isabela Helena Freire de Medeiros, traz à tona a persistência do racismo e da injúria racial em Guarapuava. Natural de São Luís do Maranhão e morando na cidade há um ano, Isabela, entretanto, transformou a dor das agressões em combustível para lutar por maior representatividade negra em espaços de poder e beleza.

O primeiro episódio de agressão, conforme relato de Isabela, ocorreu em um ateliê de costura. Ela ajustaria o vestido para o desfile de Rainha da Festa Nacional da Cevada e do Malte, na sexta (16). Isabela concorreu ao t´tiulo junto com outras 16 candidatas.

Após agendar o horário e seguir a orientação de entrar, já que a porta estava fechada, ela conta ter sido hostilizada por uma funcionária: “Começou a me fazer perguntas, como se eu fosse uma ladra. E aos poucos foi me retirando do local.” Isabela deixou o ateliê em estado de choque: “Eu só conseguia chorar”. A situação piorou após a reclamação feita à dona do estabelecimento, que teria sugerido que a agrônoma “interpretou mal”. Em seguida, Isabela foi surpreendida por uma mensagem grotesca no celular, contendo ataques explícitos por sua cor de pele e origem nordestina.

Print enviado por Isabela

DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

Em outro episódio de discriminação, ao ser selecionada para trabalhar em uma casa de lanches, Isabela afirma que as tarefas mais pesadas, relacionadas a serviços gerais, recaíam desproporcionalmente sobre ela.

A gerente mandava apenas eu para juntar o lixo, fazer limpeza.

LUTA POR PROTAGONISMO

Apesar das injúrias e do racismo velado, Isabela mantém firme o propósito de abrir caminhos e criar espaços para outras mulheres negras. Ela conta que a candidatura no concurso de Rainha da Festa da Cevada e do Malte é parte dessa missão.

Eu me inscrevi no concurso para mostrar que devemos estar nesses lugares. Em Guarapuava há tantas mulheres negras lindíssimas, mas que não participam justamente por receio. Eu quero mostrar esse protagonismo.

A agrônoma também destaca a ausência de representatividade em seu ambiente acadêmico e político na cidade.

Mesmo na classe de mestrado, tem apenas duas negras. Não temos nenhuma professora negra. Nenhuma negra na política. Precisamos mudar essa realidade. E eu estou fazendo a minha parte.

NR – O relato de Isabela joga luz sobre o racismo e a injúria que persistem em Guarapuava. E, ao mesmo tempo em que, em um momento de reflexão nacional, inspira a busca por um futuro com mais equidade e representatividade.

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Cristina Esteche

Jornalista

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