A parceria entre o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e a churrascaria Devons Grill, de Curitiba, para diminuir o odor de fumaça e a poluição ambiental provenientes das emissões gasosas liberadas pelas chaminés está alcançando resultados que vão muito além de seu objetivo básico, com desdobramentos altamente benéficos para o meio ambiente.
O Tecpar conseguiu desenvolver um sistema de tratamento atmosférico, obtendo novos produtos a partir das algas utilizadas na metabolização da fumaça. “Quando as algas consomem o CO2 emitido na fumaça, sequestrando, consumindo, metabolizando e se multiplicando, o subproduto resultante é a biomassa de microalgas. Se não houvesse a visão de aplicar em novos produtos, isso se transformaria em resíduo para descarte. Algas poderiam ser mais um passivo ambiental, um problema. Nós utilizamos a pesquisa para transformar em vários subprodutos”, explica o pesquisador Anderson Sakuma, coordenador da pesquisa aplicada a microalgas do instituto.
Dentre os produtos que estão sendo explorados estão as linhas de pesquisas para produção de óleo lubrificante e biodiesel e a linha de produção para farmacêuticos, tentando a extração de astaxantina (tida como o mais poderoso e eficaz antioxidante encontrado na natureza), em conjunto com o pesquisador José Domingos Fontana/UTFPR, e carotenóides (responsáveis pela cor da maioria das frutas e vegetais) – para utilização farmacêutica e alimentar.
Outro viés dos pesquisadores a partir das microalgas é a exploração de extração de proteína animal, para se transformar em ração para alimentação de peixes, camarões ou de bovinos.
Sakuma esclarece que essas são as linhas que os pesquisadores do Tecpar estão tentando desenvolver, fazendo o máximo para transformar cada uma delas em produção com escala industrial. “Nosso papel é transformar a ciência em tecnologia. Saber que produz a gente já sabe, estamos fazendo isso em laboratório. Agora a meta é converter em alta escala, até atingir a escala industrial, para que esteja à disposição da sociedade” completou Anderson Sakuma.
A CHAMINÉ – A queima do carvão vegetal na churrasqueira gera fumaça que contém gás carbônico, cujo aumento na atmosfera intensifica o aquecimento global. Além disso, na queima do carvão vegetal e da gordura das carnes que estão sendo assadas, são liberados outros materiais orgânicos voláteis, como ácidos orgânicos voláteis, aldeídos e cetonas.
Para a implantação de um sistema que impedisse tamanha poluição, em 2010 o empresário Augusto Farfus dos Santos, responsável pela churrascaria, entrou em contato com a Divisão de Tecnologias Sociais do Tecpar, a qual tem experiência no desenvolvimento de projetos em soluções ambientais inovadoras. Uma linha de pesquisa já existente foi então aprofundada e direcionada para o desenvolvimento de um sistema que visasse acabar com o incômodo causado à vizinhança pelo odor da fumaça gerada na churrascaria.
O resultado apontou sensíveis melhoras na qualidade do ar em torno da churrascaria, bem como na redução do odor de fumaça, conforme atestado pelos vizinhos. No sistema de tratamento de odor, a fumaça é redirecionada e borbulhada em dois reatores biológicos de 500 litros, local com meio líquido contendo um cultivo de microalgas. As microalgas são organismos com potencial de aplicação na biotecnologia ambiental por possuírem a capacidade de assimilar diferentes poluentes através de seu metabolismo. Estas microalgas, a partir do seu metabolismo em presença de luz e nutrientes da própria fumaça, removem os compostos presentes.
A separação física da biomassa de microalgas produzida no sistema e seu aproveitamento em outras finalidades é o que está gerando todas essas pesquisas bem sucedidas no Tecpar.