Por WIENFRIED MATTHIAS LEH (*)
Num país onde a agropecuária responde por mais de 1/3 do Produto Interno Bruto e quase a metade das exportações, é possível entender a importância de um político que se dedica à defesa deste segmento econômico. Eu mesmo tive a oportunidade de ser testemunha do trabalho do deputado federal Moacir Micheletto, que nos deixou neste dia 30, em trágico acidente. Fica o seu trabalho indelével em favor da classe ruralista, com atuação brilhante em momentos que colocaram a agricultura nacional em situação de extremo risco.
Após a edição do Plano Real (1994), foi graças à intervenção do deputado Moacir Micheletto que fui recebido por técnicos do Ministério da Fazenda e dirigentes cooperativistas para expor a situação insustentável que o pacote econômico (mais um!) havia causado a um dos setores que mais contribuem para a economia brasileira.
Antes do Plano Real, os agricultores foram incentivados a tomar empréstimos bancários de longo prazo com taxas de juro de até 12% ao ano. O novo pacote pegou a todos no contrapé: as taxas chegaram a 50%, levando agricultores e cooperativas à quebradeira ou pré-insolvência.
Micheletto foi sensível o necessário para entender os efeitos catastróficos que o Plano traria a curtíssimo prazo e empreendeu todas as forças ao seu alcance para que a voz dos agricultores fizesse eco nos escalões mais altos do Poder Central.
A atuação do parlamentar foi decisiva para convencer o governo a adotar medidas para minimizar o sofrimento da classe produtora. Micheletto pode ser considerado um dos “pais” da securitização agrícola e do PESA (Programa Especial de Saneamento de Ativos). Nada menos que R$ 21,8 bilhões foram renegociados com a instituição desses dois mecanismos segundo a Fundação Getúlio Vargas (revista “Agro Analysis”).
Casado, pai de três filhos, agricultor por vocação, político identificado com as grandes causas nacionais, cidadão do bem, Moacir Micheletto atuava na Câmara Federal na Frente Parlamentar Agropecuária, na Comissão de Agricultura e no Parlasul. Esteve presente nas principais lutas para preservar e fortalecer o setor rural, que produz alimentos e gera divisas para o País, sendo o Novo Código Florestal uma de suas bandeiras mais recentes.
Em seus 69 anos, vividos intensa e exemplarmente, Moacir Micheletto deixa-nos a saudade e a certeza de que agora, estará ele a colher no Céu os bons frutos que ele semeou aqui na Terra.
(*) Wienfried Matthias Leh, agrônomo, agropecuarista em Entre Rios (Guarapuava), foi dirigente do Sindicato Rural de Guarapuava e da Cooperativa Agrária .