22/08/2023
Cotidiano

Na Marcha das Vadias, mulher de 83 anos diz que é a própria Maria da Penha

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Dona Nair Guedes, 83 anos, não se importou com o frio de veio do município de Turvo para participar da Marcha das Vadias em Guarapuava. Sentada num dos bancos da praça, tomando café com leite e depois chimarrão, olhando a movimentação dos ativistas, alguns fazendo cartazes, outro se transformando ou afinando instrumentos. “Esse movimento deveria ter começado há 30 anos. Se isso tivesse acontecido nós ia ser muito feliz. Eu sou a própria Maria da Penha”, afirmou referindo-se à mulher símbolo da lei que hoje trata a violência contra a mulher. “Eu quero estar com minhas filhas nessa luta até o fim”, disse numa referência às duas filhas que coordenam o movimento.

Ouvindo a conversa com Dona Nair, Enedina dos Santos, 63 anos, se encoraja e contribui. “Eu moro na Vila Bela e vim aqui protestar. Eu já sofri muito, já essa sofri essa coisa de violência, mas hoje estou aqui porque acho que vale a pena protestar. Estou aqui com minha filha e vou estar junto nessa luta daqui pra frente”, afirmou.

 

A concentração na Praça Cleve começou às 9 horas e aos poucos foi atraindo homens e mulheres. Faixas, cartazes, carro de som, estamparam palavras de ordem que mostra a indignação de grupos e movimentos contra a violência que atinge grande número de mulheres, independente da faixa etária ou da classe social. Muitas mulheres utilizaram o próprio corpo para protestar os desmandos, a falta de políticas públicas, de uma política de segurança que seja comprometida com a causa. Algumas usaram roupas íntimas para deixar o corpo à mostra, apesar do frio; outras vestiram-se de preto ou com pecas coloridos remetendo ao movimento gay.

“Esse movimento começou com acadêmicos dos cursos de Serviço Social e Arte Educação e foi ganhando corpo com novas adesões. A APP Sindicato, o Movimento das Mulheres do Bairro Primavera, o Levanta de Juventude, o Movimento Pelo Passe Livre se uniram à essa causa que deveria ser de todos”, disse a sindicalista Terezinha Daiprai.

Músicas com letras de protestos, instrumentos percussivos uniram homens e mulheres na mesma luta: abaixo ao machismo, ao preconceito, à violência. Foi a Marcha das Vadias, um movimento nacional, que em Guarapuava, pela primeira vez, tomou conta da Rua XV de Novembro numa caminhada que terminou no Parque do Lago.
“Essa é uma luta que tem que começa como exemplo pedagógico ao provar que você é aberto às discussões que interessam à sociedade. A luta das mulheres contra a violência e as demais causas aí colocadas tem que ser ajudadas e nós homens devemos nos unir à elas e fazer a nossa parte da melhor maneira”, disse o estudante Carlos Eduardo Drevinski.

 

De acordo com Terezinha Daiprai, esse foi apenas o primeiro passo da mobilização. “Vamos ter outras ações para reivindicarmos uma delegacia da Mulher que seja aparelhada, que tenha delegada e profissionais qualificados e preparados para tratar especificamente dessa questão; queremos uma Secretaria Municipal da Mulher e políticas públicas que contemplem o gênero”, afirmou.

 

A Marcha das Vadias também deu espaço para protestos contra a homofobia, contra o preconceito a portadores de deficiências.

 

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Cristina Esteche

Jornalista

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