22/08/2023
Guarapuava

O brasileiro precisa dizer "eu quero", "eu exijo"

Portugal parece ter encontrado uma alternativa muito eficiente para seus problemas, uma saída honrosa que pode ser a solução para todos nós, diante de tantos erros cometidos por tantos gestores mundo afora. Chamam lá de Geringonça, uma política própria que não abandonou o ser humano e suas vivências e que, ao mesmo tempo, considera a competitividade econômica em um período de grande dificuldade mundial.

Os portugueses por incrível que pareça governam seu país na contramão das políticas de austeridade impostas a Portugal pela União Europeia e vão bem graças a Deus e aos homens e mulheres que lá estão. Vários filósofos contemporâneos estão tentando encontrar uma resposta equilibrada para estas duas perguntas: como desativar os dispositivos de poder que está anulando o ser humano? E como inventar outras formas-de-vida que volte a considerar o futuro como uma possibilidade melhor que o presente?

Ingleses e franceses tentam saídas diferentes. Os primeiros querem ficar fora da União Europeia e os franceses dentro. Os americanos brigam entre si. Os chineses ganham dinheiro com exploração e nós [ brasileiros ] nos suicidamos dia após dia e o planeta se vê à deriva.

Como se não bastassem os problemas naturais que não são poucos, outros quatro grandes fantasmas reais rondam o mundo, a saber: o terrorismo, o ódio ao outro, a corrupção e o retorno da guerra. Há tentativas de respostas diferentes para cada problema.  Dos quatro problemas, dois nos afligem diretamente e não estamos conseguindo autonomamente lidar com eles. Há quem defenda que temos condições de resolutividade porque os problemas mais letais, não temos (terrorismo e guerra).

Mesmo assim, está claro que com este congresso nacional, com este sistema político e com esta sociedade, não há presidente e judiciário que resolva coisa alguma [ até porque estão sob suspeição ].

Há tensões e torções quase irrecuperáveis. Enquanto o brasileiro não se decidir pelo “eu quero”  e/ou “eu exijo” algo diferente do que está aí, não vamos a lugar algum. Patina-se. Quando Foucault escrevia em “cortar a cabeça do rei” ele não queria dizer trocar este por aquele. Tem sido um grande erro tirar alguém para colocar outro alguém dentro da mesma lógica. Aí está o erro. Precisamos de uma nova forma de conceber o poder que leve em conta desativar o que está ativado e encontrar novas formas de viver em sociedade. Talvez a melhor resposta esteja em recuperar formas antigas de viver e formas antigas do trato com a coisa pública.

Parece surreal, mas o comando da vida econômica não pode ser mais o motor da produção e o comando da vida política não pode ser mais o motor do poder.  Uma cooperação diferente se faz mais que necessária. O que defendo para todos é que cada um seja um homem e uma mulher ao seu modo. Mas seja-o. O que não podemos mais é não ser e ficarmos em uma vida nua esperando o sol nascer amanhã.

O brasileiro precisa dizer “eu quero”, “eu exijo” duas coisas a curtíssimo prazo, a saber: punir todos os culpados, tornar o sistema fiscal mais justo e reforçar a educação pública e isto não se faz esperando que este governo ou o que virá faça espontaneamente.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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