Costumo refletir sobre a profissão que escolhi para a minha vida. E cheguei à conclusão — e faz tempo isso — que ser jornalista sempre foi mais do que apenas relatar fatos, contar histórias. Trata-se de uma missão. Uma responsabilidade com a verdade, com o interesse público e com a democracia. Nós, jornalistas, somos aqueles que escutam, apuram, checam, confrontam e publicam. Alguém que entende que a informação é uma ferramenta poderosa. E que, mal utilizada, pode causar grandes danos.
Mas, nos últimos anos, o cenário mudou. O avanço da tecnologia, a explosão das redes sociais e o surgimento de milhares de blogs e canais alternativos transformaram a forma como a informação circula. Hoje, qualquer pessoa com um celular e acesso à internet pode publicar um conteúdo que atinge milhares de pessoas em minutos. E isso, por si só, não é ruim. Afinal, democratizar a informação é importante. O problema, todavia, está na desinformação.
Nos últimos anos, nesse embalo, nesse novo formato de informação, passamos a conviver com as ‘fake news’. São notícias falsas, portanto, não apenas boatos inofensivos. Elas são construídas para manipular, enganar e gerar cliques, lucro e até influenciar decisões políticas. Verificar a veracidade de vídeos, imagens e declarações sempre foi parte do jornalismo. E, nesse contexto, precisamos redobrar o cuidado com a apuração, com as fontes e com a forma de transmitir a notícia.
Combater ‘fake news’ exige tempo, conhecimento técnico, ética e, muitas vezes, coragem. Coragem para enfrentar pressões, ataques virtuais e campanhas de descredibilização. E como sabemos disso. Em um ambiente em que a verdade muitas vezes é distorcida, ser jornalista é manter o compromisso com os fatos, mesmo quando eles desagradam.
A coexistência com blogs e produtores independentes
Ao mesmo tempo em que enfrentamos a avalanche de desinformação, nós jornalistas também convivemos com uma nova realidade: a dos blogs, dos influenciadores e dos produtores de conteúdo independentes. Muitos deles fazem um trabalho sério, investigativo e relevante. Outros, porém, atuam sem compromisso com a ética jornalística, publicando conteúdos sensacionalistas ou opinativos travestidos de notícia.
Isso coloca em evidência uma diferença fundamental: o jornalismo tem método. Tem regras, códigos de ética, responsabilidade legal. Não é só ‘dar a notícia’, mas contextualizar, ouvir os dois lados, explicar o que está por trás dos fatos. É por isso que, mesmo diante da multiplicação das fontes de informação, o papel do jornalista profissional continua sendo essencial.
Informar com responsabilidade é um ato de resistência
Portanto, ser jornalista hoje é resistir. É nadar contra a corrente de superficialidade, de polarização e de imediatismo. Ter a consciência de que uma boa notícia nem sempre é a mais rápida, mas sim a mais precisa. É aceitar que o público mudou, mas que o compromisso com a verdade permanece.
Em tempos de fake news, bolhas informacionais e overdose de conteúdo, o jornalista é aquele que ajuda a separar o que é fato do que é opinião, o que é notícia do que é boato, o que é urgente do que é importante. E talvez, mais do que nunca, o mundo precise exatamente disso.
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