22/08/2023
Economia

O que é shortar criptomoeda: entenda o funcionamento dessa estratégia

Shortar éuma estratégia avançada e de risco elevado, utilizada para lucrar em mercados de baixa ou durante correções de preço

Criptomoeda (Foto: divulgação)

Shortar criptomoeda é uma estratégia que permite lucrar com a queda dos preços, vendendo um ativo digital emprestado para recomprá-lo mais barato depois. Mas envolve riscos elevados devido à volatilidade extrema, à possibilidade de perdas ilimitadas e à necessidade de uma gestão de risco rigorosa.
O universo das criptomoedas é vasto e notoriamente volátil. Para a maioria dos investidores, o objetivo principal é a valorização. Ou seja, buscar a clássica posição long: comprar um ativo digital com a expectativa de vendê-lo por um preço mais alto no futuro. Contudo, em mercados dinâmicos e com oscilações intensas, como o cripto, existe uma estratégia sofisticada que permite aos investidores buscar lucros quando os preços estão em queda: o short selling, ou, em português, a venda a descoberto, popularmente conhecida como shortar criptomoeda.
Shortar um ativo digital pode parecer contraintuitivo à primeira vista, pois a lógica tradicional de investimento sugere que só se ganha dinheiro com a subida dos preços. No entanto, o short selling inverte essa ordem. Em vez de comprar primeiro para vender depois, você vende primeiro o ativo emprestado, com a obrigação de recomprá-lo mais tarde.
O lucro é gerado se o preço de recompra for inferior ao preço de venda inicial, descontados os custos de empréstimo e transação. Esta estratégia, adaptada dos mercados financeiros tradicionais (como ações e títulos), tornou-se uma ferramenta fundamental para traders experientes que procuram capitalizar tanto em mercados de baixa (bear markets) quanto durante correções de preço significativas.

A Mecânica da Venda a Descoberto no Ecossistema Cripto

Apesar de ser conceitualmente simples, a execução do short selling em criptoativos exige uma compreensão clara de seus mecanismos, que são frequentemente facilitados por plataformas de *margin trading* ou por mercados de derivativos, como futuros e *swaps* perpétuos.

Passos Fundamentais da Operação Short

A operação de venda a descoberto se desenrola em uma série de etapas bem definidas:

Empréstimo do Ativo: O investidor que decide shortar não possui a criptomoeda que pretende vender. Ele deve, portanto, emprestá-la de uma exchange (corretora) ou de um pool de liquidez, uma operação frequentemente realizada no contexto de *margin trading* (negociação com margem). Para assegurar o empréstimo, o investidor deposita uma garantia (margem) em sua conta e, tipicamente, paga uma taxa de juros pelo uso do ativo.

Venda Imediata: A criptomoeda recém-emprestada é imediatamente vendida no mercado spot pelo preço atual. Se, por exemplo, a previsão é de queda para o Ethereum (ETH), o investidor vende o ETH emprestado ao preço de mercado vigente, realizando o encaixe do valor em outra moeda (geralmente uma stablecoin ou dólar).

Monitoramento da Queda: O investidor aguarda que o preço do ativo caia, confirmando sua expectativa de mercado.
Recompra (Covering) e Devolução: Se o preço cair conforme o previsto, o investidor recompra a mesma quantidade de criptomoeda no mercado, mas agora a um preço mais baixo. Esta recompra é chamada de *covering* (cobertura) da posição. O ativo recomprado é, então, devolvido ao credor original (a *exchange* ou o pool de empréstimo).

Cálculo do Lucro (ou Prejuízo): O lucro é a diferença positiva entre o preço de venda inicial e o preço de recompra final. Por exemplo, se o ativo foi vendido por $1.000 e recomprado por $800, o lucro bruto é de $200 por unidade, subtraindo-se os custos de empréstimo e taxas de transação. Se o preço subir em vez de cair, o investidor é forçado a recomprar a um valor mais alto, incorrendo em prejuízo.

Os Riscos Inerentes e a Volatilidade Exponencial no Mercado Cripto

O short selling é universalmente reconhecido como uma estratégia de alto risco. No mercado de criptoativos, essa característica é amplificada pela extrema volatilidade. É fundamental que os participantes do mercado compreendam a assimetria de risco única que acompanha o short selling.

O Conceito de Risco Ilimitado

Na posição de compra tradicional (long), o risco máximo teórico é limitado: a perda total do capital investido se o preço do ativo cair a zero. No short selling, a perda potencial é, teoricamente, ilimitada. Se um ativo é vendido a descoberto a um preço X, e o preço começa a subir abruptamente, o investidor é obrigado a recomprar a um preço cada vez maior para fechar a posição e devolver o ativo emprestado. Como o preço de uma criptomoeda não tem limite superior, a perda potencial também não tem.

Short Squeeze: O Pesadelo do Short Seller

Um dos eventos mais perigosos para quem opera vendido é o short squeeze (aperto de posições vendidas). Ele ocorre quando o preço de um ativo começa a subir de maneira rápida e inesperada. Essa alta força os investidores que estão short a fechar suas posições, recomprando o ativo para limitar suas perdas. Essa onda de recompras aumenta a demanda no mercado, impulsionando o preço ainda mais para cima. O ciclo vicioso resultante pode levar a perdas massivas e rápidas liquidações, especialmente para aqueles que utilizam alavancagem.
O mercado ininterrupto de criptomoedas (24/7) potencializa esse risco, pois um movimento de preço pode ocorrer a qualquer momento, exigindo que os investidores tenham mecanismos de defesa em funcionamento constante.

O Uso e o Perigo da Alavancagem

A alavancagem permite que os investidores controlem uma posição de negociação muito maior do que o capital que realmente possuem (a margem). Embora a alavancagem possa amplificar os lucros quando o mercado se move na direção esperada, ela também multiplica as perdas. No short selling alavancado, um pequeno movimento contrário pode levar a uma margin call (chamada de margem) ou à liquidação forçada da posição pela exchange, onde a corretora vende automaticamente o ativo do investidor para cobrir o prejuízo antes que ele se torne insustentável.

Vias de Execução para Shortar Criptoativos

Existem principalmente duas categorias de ferramentas disponíveis para que os investidores possam executar uma posição short no mercado de criptoativos.

Derivativos: Contratos Futuros e Swaps Perpétuos

A forma mais popular e líquida de shortar é através de derivativos. Em mercados de futuros ou swaps perpétuos, o investidor não precisa necessariamente emprestar a criptomoeda física. Em vez disso, ele negocia um contrato que rastreia o preço do ativo subjacente (com o BTC USD em um contrato de futuros), apostando em sua queda. As *exchanges* de derivativos oferecem alta liquidez e a possibilidade de usar alavancagem significativa para essas apostas direcionais, tornando-se o principal instrumento para a especulação de curto prazo.

Margin Trading: Empréstimo Direto

O margin trading é a via que mais se assemelha ao conceito tradicional de venda a descoberto. O investidor usa o capital em sua conta como garantia (margem) para emprestar o ativo digital diretamente de um pool e, em seguida, vendê-lo no mercado spot. Esse método exige uma gestão de risco ainda mais rigorosa da margem, pois o investidor é diretamente responsável por devolver a criptomoeda emprestada.

A Importância da Diligência Prévia e o Contexto Regulatório

Além dos riscos de mercado inerentes ao short selling, a natureza descentralizada e a facilidade de criação de novos ativos no ecossistema cripto impõem uma camada adicional de risco: a exposição a fraudes (scams e rug pulls). Antes de considerar shortar qualquer altcoin, ou mesmo Bitcoin ou Ether, o investidor deve priorizar o processo de due diligence (diligência prévia).
A legitimidade de um projeto é verificada pela análise de fatores como a transparência da equipe, a utilidade real e coerência do whitepaper (o documento técnico que descreve o projeto), e a vitalidade de sua comunidade de desenvolvedores. Shortar um ativo que já está sendo manipulado por insiders ou que é um scam declarado pode levar a perdas rápidas e inesperadas, pois a manipulação de preços em ativos de baixa capitalização é mais fácil.
Além disso, é crucial manter-se atualizado sobre o panorama regulatório. À medida que as autoridades financeiras em todo o mundo tentam aumentar a supervisão sobre o mercado cripto, as regras relativas ao margin trading e ao short selling podem mudar, impactando diretamente a disponibilidade e o custo dessas operações. A conformidade regulatória e a escolha de plataformas seguras e licenciadas são passos essenciais.

Short Selling em Criptoativos vs. Ações: Distinções Cruciais

Embora o princípio fundamental da venda a descoberto seja o mesmo em ambos os mercados, a aplicação em criptoativos é significativamente diferente da do mercado de ações tradicional:
1. Volatilidade Extrema: O mercado cripto apresenta uma volatilidade exponencialmente maior. Correções de 20% ou 30% que levariam meses para ocorrer no mercado de ações podem se materializar em horas no cripto. Isso torna o timing da operação short mais crítico e aumenta drasticamente o risco de *short squeeze* e liquidações.

2. Mercado 24/7: Enquanto o mercado de ações tem pregões definidos e fecha nos fins de semana, o mercado cripto é ininterrupto (24 horas por dia, sete dias por semana). Isso exige que os investidores short tenham um sistema de gerenciamento de risco que funcione em tempo integral.

3. Custos de Empréstimo: Em períodos de alta demanda ou alta volatilidade, a taxa de juros para emprestar certas criptomoedas pode se tornar extremamente alta, corroendo rapidamente o lucro potencial de uma posição short.

Gestão de Risco: A Ferramenta Essencial para o Short Seller

Dada a alta exposição a eventos de risco, como o short squeeze e a volatilidade ininterrupta, a gestão de risco não é apenas recomendada, mas obrigatória para quem opera vendido. A principal ferramenta é o uso rigoroso de ordens de stop loss. O stop loss é uma ordem colocada na exchange para recomprar automaticamente o ativo emprestado caso o preço suba além de um ponto de perda predefinido. Ao limitar a perda máxima, o stop loss mitiga o risco teórico ilimitado inerente ao short selling.
Outra prática de gestão de risco é o uso conservador da alavancagem. Embora a alavancagem possa ser tentadora, ela é a principal causa das liquidações forçadas. Investidores prudentes utilizam alavancagem baixa ou nenhuma alavancagem, garantindo que suas posições tenham margem suficiente para resistir a oscilações de preço inesperadas sem serem fechadas compulsoriamente.

O que é shortar criptomoeda

Em síntese, shortar criptomoeda é a prática de venda a descoberto de um ativo digital, na qual o investidor empresta o ativo, vende-o imediatamente e espera recomprá-lo a um preço inferior para devolver o empréstimo e embolsar a diferença. É uma estratégia avançada e de risco elevado, utilizada para lucrar em mercados de baixa ou durante correções de preço.
O sucesso nessa modalidade de negociação requer um profundo conhecimento técnico, preparo emocional para lidar com perdas rápidas e, acima de tudo, uma gestão de risco rigorosa, incluindo o uso de ordens de *stop loss* e o manejo prudente da alavancagem. Shortar um ativo digital é, essencialmente, apostar contra sua valorização futura em um horizonte de tempo definido.

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Cristina Esteche

Jornalista

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