segunda-feira, 23 de jun. de 2025
Blog da Cris Guarapuava

O sagrado se espalha para além das igrejas

O sagrado se manifesta no corpo, na terra, pelas mãos, na ancestralidade em espaços oferecem acolhimento, reconexão e pertencimento.

O fogo é um dos elementos de rodas ancestrais (Foto: Freepik)

Ao ler os dados do Censo do IBGE divulgados nesta sexta (6), me chamou atenção a profundidade da mudança religiosa no Brasil. Como muitos, nasci em um lar católico. Cresci participando de missas, movimentos marianos, da Legião de Maria, grupo de jovens, e até cantei em coral na Igreja Santa Terezinha, em Guarapuava. A religião católica foi uma referência forte na minha formação. Acredito que essa é a realidade da maioria das pessoas do país. No entanto, hoje, isso está mudando e os números falam por si: apenas 56,7% dos brasileiros se declaram católicos, o menor índice desde 1872.

O que esses dados escancaram é uma transformação já visível nos últimos anos: a religiosidade brasileira está se tornando mais plural, menos institucional, e mais voltada à experiência individual e espiritual. Não se trata apenas do crescimento evangélico, que agora representa 26,9% da população. Trata-se da emergência de outras expressões de fé. São ligadas à natureza, às tradições ancestrais, às raízes africanas, à espiritualidade indígena e oriental. Há uma pluralidade divina.

BUSCA POR ESPIRITUALIDADE

Em Guarapuava, essa virada também é real. Ao redor da cidade, crescem discretamente, ou nem tanto assim, movimentos ligados à cultura pagã, à espiritualidade naturalista, às crenças orientais e a cultos de matrizes africanas. Temos aí a umbanda e candomblé, além de práticas orientais como o budismo, o reiki e a meditação. Esses espaços oferecem acolhimento, reconexão e pertencimento. Em muitos casos, o sagrado se manifesta no corpo, na terra, pelas mãos, e na ancestralidade.

O declínio do catolicismo, portanto, não é apenas uma perda de fiéis. Vejo como o sinal de um novo tempo, onde o púlpito dá lugar à roda de cura e a fé se vive mais pela experiência do que pela doutrina. Há uma busca evidente por espiritualidades mais livres, simbólicas, com proximidade, e afetivas, que dialoguem com o tempo presente e com o desejo de viver o sagrado de forma mais conectada com a natureza e com a própria história. Isso nos faz perceber que o futuro da fé não parece mais centralizado, mas espalhado, diverso e profundamente humano. Afinal, embora os caminhos sejam diferentes, todos conduzem a Deus.

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Cristina Esteche

Jornalista

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