22/08/2023
Segurança

Para advogados de “Nego”, Gaeco está sendo arbitrário

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Guarapuava – As últimas operações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão Crime Organizado (Gaeco) estão sendo contestadas pelos advogados Everton Ferreira e Lívia Balhestero Morgado (foto), defensores de José Laercio de Almeida, conhecido como Nego. Ele cumpre pena em regime aberto por tráfico de drogas, teve inúmeros bens apreendidos (equipamentos eletrônicos e veículos), é acusado de ser dono de uma empresa de fachada com sede no Bairro Xarquinho e passou a ser considerado fugitivo após a operação desencadeada no dia 30 de setembro.
Para os advogados, as últimas atitudes do Gaeco vêm causando “grande instabilidade e insegurança jurídica pela prática arbitrária no exercício do poder conferido à Polícia Judiciária”, em virtude dos cumprimentos de mandados de busca e apreensão determinados pelas Varas Criminais da Comarca de Guarapuava.
De acordo com Everton Ferreira, na apreensão feita pelo Grupo na casa de Nego no Núcleo Habitacional Tancredo Neves, os policiais levaram 3 veículos e vários eletro-eletrônicos que tinham notas fiscais comprovando a compra lícita desses produtos. “Ocorre que esses mandados teriam a finalidade principal de apreender substâncias entorpecentes e objetos destinados ao auxílio da prática de tráfico, assim como objetos suspeitos que fossem decorrentes da atividade ilícita”, observou o advogado.
Também foram apreendidos diversos documentos de veículos que já haviam sido devolvidos pelo juiz Willian da Costa da 1ª Vara Criminal. Estes documentos, conforme explicou o advogado, haviam sido pegos em processo criminal, junto com alguns veículos.
Acontece que em 2005 Nego foi preso por tráfico de drogas e condenado à prisão. Ele cumpre pena de 2,8 anos em regime aberto desde o dia 18 de julho de 2008. Por conta do processo perdeu vários carros. “Ele tinha 6 ou 7 carros nessa época e acabou perdendo, mas manteve os bens imóveis que possuía e os transformou em veículos. Ele (Nego) faz rolo trocando, comprando e vendendo carros. Portanto, não há nenhuma empresa de fachada como afirma o delegado Ítalo Biancardi Neto, do Gaeco”, diz Everton, referindo-se à informação dada pelo delegado por ocasião dos mandados de busca e apreensão na quarta-feira, 30 de setembro, que culminou também nas prisões de Amauri Rupel, Divonei Staciack (Nei), entre outros traficantes de drogas.
“Entendemos que essa busca e apreensão feita pelo Gaeco há poucos dias não tem embasamento jurídico. Hoje qualquer um pode sofrer um mandado de busca e apreensão só porque já foi processado. “Ninguém tem o direito de não ser investigado”, diz o delegado.
O Nego está se recompondo, foi levado pelo Gaeco e nem sequer foi ouvido”, disse a advogada Lívia Balhestero Morgado.
A advogada se reporta ao fato acontecido no dia 18 de setembro de 2009, quando o Gaeco apreendeu os produtos na casa de Nego, o levou até a sede da Polícia Judiciária onde, conforme a advogada, prestou depoimento e foi liberado em seguida, assim como os veículos apreendidos”, disse Lívia.
“Os veículos foram adquiridos de forma lícita, provenientes da venda de imóveis e negócios de compra, venda e troca de automóveis, não existindo, como afirma o delegado Ítalo Biancardi Neto, empresa de fachada com intuito de realizar o crime de lavagem de dinheiro”, ratifica a advogada.
Ítalo Biancardi Neto, porém confirma que os bens apreendidos na casa de Nego foram comprados com dinheiro ganho com o tráfico de drogas e que na época em que foi preso e condenado não houve uma investigação aprofundada sobre esse envolvimento.
“Hoje ele não trabalha; apenas conseguiu uma carta de emprego para enganar o juiz e conseguir o cumprimento da pena em regime aberto. Trabalhou apenas um mês em 2008”, diz o delegado.
“Ninguém é contra a prosperidade, que é bíblica, mas desde que seja lícita. Como se justifica o fato de uma pessoa não trabalhar e ter um padrão de vida alto? Como se explica a compra de carros em nome de terceiros?”, questiona o delegado, informando que compras e vendas são dissimuladas em nome de filhos e de esposas. De acordo com o delegado, um carro Eclipse de propriedade de Nego foi transferido para o nome da filha, da esposa e do genro e finalmente para o nome dele. “Só nessas transferências foram gastos R$ 480,00. E por que um computador foi comprado no nome da vizinha?”, pergunta o policial.
Os advogados defendem também que Nego não possui nenhuma ligação com os outros traficantes presos pelo Gaeco no dia 30 de setembro, a não ser o parentesco distante com Julio Pereira, a quem vendeu um Golf há cerca de um mês.

“Organização criminosa”
O delegado Ítalo Biancardi Neto entende que há uma conexão criminosa envolvendo os traficantes da cidade.
“Eles (traficantes) compram, vendem, trocam traficam, se relacionam entre si e querem se apresentar como corretos perante a sociedade. Eles têm acordo onde cada um detém uma parte do território do tráfico”, afirma o delegado.
Outro fato que deve ser levado em conta na opinião dos advogados é que Nego não é foragido, já que não existe mandado de prisão contra ele. “O Nego tem emprego e residência fixa e por estar em cumprimento de pena em regime aberto comprova ser uma inverdade a participação dele na suposta organização criminosa, conforme afirmação do delegado Ítalo, que investiga esses fatos desde 2005”, diz Everton. “O Nego está sumido desde o dia 30 de setembro, portanto está foragido”, diz o delegado.
“Valdecir Brás Martins de Oliveira, José Mauricio Nuskoski, Ivo de Oliveira, Amauri Rupel, todos estão presos por tráfico de drogas e estão envolvidos com uma organização criminosa desde 2005, incluindo o José Laércio (Nego). Quando um é preso surgem outros que assumem o comando. Tem muita gente envolvida e eles se comunicam com outros traficantes por telefone celular de dentro da cadeia. Fazem parte do mesmo meio criminoso e há negociação entre eles. Sempre contratam o mesmo advogado. Tudo isso comprova que o grupo é organizado”, assegura o delegado.
Segundo Biancardi Neto, as investigações continuam sendo feitas e já há levantamentos de jóias furtadas e que são derretidas em joalheria da cidade. “Temos 21 denúncias contra o grupo por narcotráfico e vamos continuar com o nosso trabalho, que já soma mais de 500 páginas. Moradores da Vila Miguel nos ligam agradecendo pela prisão do Rupel, e isso é gratificante”, afirma Biancardi Neto.

Cristina Esteche

Jornalista

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