Mais de 70% dos paranaenses consideram o valor pago nos pedágios do Estado incompatível com a qualidade das rodovias e são favoráveis à formulação de novos contratos de concessão. Esses são os principais resultados de uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto Paraná Pesquisas, a pedido da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Para o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, a opinião da população reforça o posicionamento da entidade, que pede a revisão do modelo de concessões adotado nas estradas do Anel de Integração, com a redução das tarifas e a realização de obras que melhorem o tráfego e aumentem a segurança nas rodovias.
“A Fiep encomendou esta pesquisa justamente para identificar se o que estamos reivindicando na questão do pedágio é também relevante para a população do Paraná”, explica Campagnolo. “Os resultados mostraram que a opinião dos paranaenses, que pedem pedágios mais baratos e novos contratos, vem totalmente ao encontro do que o setor industrial do Estado defende”, acrescenta.
Entre os dias 30 de setembro e 6 de outubro, a Paraná Pesquisas ouviu 2.512 pessoas, maiores de 16 anos, em 90 municípios de todas as regiões do Estado. Segundo o instituto, a amostra atinge um grau de confiança de 95,5%, com uma margem estimada de erro de 2,0% para os resultados gerais. Um total de 67,6% dos entrevistados afirmou ter utilizado alguma rodovia pedagiada paranaense nos últimos 12 meses, contra 32,4% que não utilizaram.
O fato que mais chama a atenção ao se analisar os resultados da pesquisa é que 71,1% dos entrevistados declararam que o valor pago pelo pedágio no Paraná está incompatível ou totalmente incompatível com o que as concessionárias oferecem aos usuários em termos de estrutura, asfalto, apoio e conservação, entre outros fatores. Somam-se a eles outros 10,3% com opinião neutra, que acreditam que o valor não está incompatível nem compatível com a qualidade das estradas. Apenas 14,6% dos paranaenses disseram que o preço dos pedágios está compatível com o serviço prestado e 0,5% afirmaram ser totalmente compatível.
Além disso, a pesquisa também perguntou a opinião da população sobre o que o governo deve fazer em relação às concessões vigentes atualmente no Anel de Integração do Paraná: esperar o vencimento dos contratos, que valem até 2022, ou fazer um novo contrato imediatamente, com novas regras e obras. O resultado foi contundente: 78,3% dos entrevistados foram favoráveis à formulação de novos contratos, contra 12,98% que defendem o fim dos acordos em vigência. Outros 8,9% não souberam opinar.
Sobre o grau de satisfação dos usuários das rodovias, 40,5% das pessoas afirmaram estar insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a malha rodoviária do Paraná. Outros 16,3% se mostraram nem satisfeitos, nem insatisfeitos. Questionados sobre um cenário ideal para as rodovias em termos de estrutura, segurança, sinalização, conservação do asfalto, serviços ao usuário, socorro, áreas de descanso, rede de alimentação, postos de abastecimento e outros fatores, 42,8% dos entrevistados disseram que as estradas paranaenses estão distantes ou muito distantes do ideal. Para outros 17,4%, a condição das rodovias não está nem distante, nem próxima do ideal.
Os entrevistados foram estimulados também a opinar sobre o que consideram mais importante: um pedágio mais barato ou mais obras nas rodovias. Um total de 40,7% considera fundamental a realização de mais obras, 25,0% foram favoráveis à redução dos valores cobrados pelas concessionárias e outros 33,4% declararam que as duas medidas são necessárias. Em relação aos tipos de obras necessárias, 56,8% das pessoas consultadas pela Paraná Pesquisas defendem mais duplicações, 19,4% pedem mais terceiras faixas e 15,2% escolheram a opção trevos, viadutos e trincheiras.
O levantamento da Paraná Pesquisas também mediu a percepção dos paranaenses sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Assembleia Legislativa para investigar a questão do pedágio. Mais da metade dos entrevistados (50,5%) disseram ter conhecimento ou que ouviram falar da CPI, contra 49,5% que não sabiam da investigação. Quando perguntados se acreditam que a CPI trará algum resultado que beneficiará a população, 45,2% responderam que sim, contra 42,9% que disseram não. Outros 11,9% não souberam responder.
Por fim, a Paraná Pesquisas perguntou qual seria a melhor forma de manter as rodovias em bom estado. A maioria dos entrevistados (62,7%) afirmou que seria melhor que o próprio governo cuidasse das rodovias, utilizando dinheiro dos impostos. Outros 31,9% se responderam que a melhor opção é mesmo a concessão a empresas que administrem as estradas em troca da cobrança de pedágio.
Repercussão
Para lideranças do setor produtivo paranaense, os resultados da pesquisa mostram claramente que a população tem a mesma percepção que o empresariado sobre a questão do pedágio. “A pesquisa reflete que a sociedade também sente as dificuldades causadas pelo modelo de pedágio adotado no Paraná”, afirma Gilberto Cantú, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar). “Temos um pedágio com custo pernicioso para a economia paranaense, que onera o Estado”, acrescenta.
Cantú destaca ainda o fato de a maioria das pessoas ouvidas pela pesquisa serem favoráveis à revisão dos contratos. “A condução do processo de revisão das concessões sempre foi muito travada. Vemos que agora é uma boa hora para resolver essa questão às claras, com a participação da sociedade”, declara.
Nelson Poliseli, presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), principal polo moveleiro do Estado, afirma que os resultados da pesquisa mostram que toda a sociedade paranaense está sentindo o peso do pedágio. “A insatisfação é geral”, diz. Para o empresário, o principal fator para a grande rejeição da população em relação ao modelo de pedágio adotado no Paraná é a não realização das obras necessárias nas rodovias. “O preço do pedágio é um absurdo, as concessionárias arrecadam fortunas, mas não investem nas estradas. Isso deixa a logística muito cara para o setor produtivo do Estado, tanto para a indústria quanto para a agricultura, o que diminui a competitividade do produto paranaense”, afirma.
O aumento de custos de transporte resultante do alto preço do pedágio também afeta significativamente as indústrias do setor de calcário agrícola. “Se eu for transportar um caminhão com 35 toneladas de calcário da minha empresa, que fica na Região Metropolitana de Curitiba, até a região Oeste, a carga sai aproximadamente R$ 875 e o transportador vai pagar praticamente esse mesmo valor em pedágio”, conta Josemar Guarise, presidente do Sindicato das Indústrias de Extração de Mármores, Calcários e Pedreiras do Paraná (Sindemcap). O empresário está de acordo com os 45,2% dos entrevistados da pesquisa que acreditam que a CPI instalada na Assembleia Legislativa pode trazer resultados positivos na questão do pedágio. “A CPI tem a chance de mexer na caixa-preta do pedágio e, se fizer um trabalho sério, pode trazer resultados. Para isso é preciso também que a sociedade e os empresários acompanhem de perto essa investigação”, diz Guarise.
Com assessoria