22/08/2023
Guarapuava

"Podemos ser versões melhores de nós mesmos"

Os idealistas são como peixes fora d’agua. Dificilmente sobreviverão nas próximas duas décadas. O veredicto é que não há mais espaço para estes espirituosos. É um período de incubação em que o vírus do pragmatismo, além de viver imune, tem contagiado aqueles que lutam para sobreviver neste tempo de incerteza e estrondosa vulnerabilidade. Nenhum argumento válido passa, apenas os fatos que interessam à manutenção de uma classe política que a muito tempo divorciou-se de uma sociedade pouco organizada. É deplorável que confiemos em Ministros e Ministras do STF que estão ali apenas para impedir uma revolta popular com poucos avanços e muitos retrocessos. Uma verdadeira torre de Babel. Dizem e desdizem ao sabor das circunstâncias.

Os idealistas de hoje [poucos existentes], que ainda resistem às tentações do cinismo e do alheamento completo da sociedade, embora corretos, estão fadados ao fracasso. O ambiente é hostil a estes. O tempo é da sobreposição do teto sobre a base, trocando por miúdos, o capitalismo vigente prefere claramente a saúde dos bancos que pessoas.

O momento não é outro senão de um pós-idealismo extremamente nocivo à coletividade. Aqueles que ainda preservam sua fidelidade aos princípios e valores idealistas e utópicos no tempo presente, para o staff político e a grande maioria, cometem a insanidade de defender lutas inglórias e invencíveis. Pecado imperdoável em tempos inescrupulosos. Suas vozes roucas hoje praticamente só encontram ouvidos moucos. O que parecia ser uma benção em outros tempos passou a ser uma maldição.

O tempo presente exige destes uma proteção de suas consciências. Apenas isto. É assim que alguns acabam retornando ao seu próprio eu, onde nada é pensável fora do eu. Neste cenário sobra aos idealistas a fantasia necessária para a formulação de perspectivas imaginativas. Isto tem nome e, em outros tempos, moveu multidões. Chama-se ‘messianismo’ ou a crença na potencialidade de um ser humano mais sensível à verdade e à justiça em um tempo em que o dinheiro pode não fazer tanta diferença.

Correndo riscos de uma eliminação precoce, passam a gastar energia em projetos distantes da arena política ou involuntariamente se entregam à overdose do poder. Raça em extinção, dia após dia, perdem a coragem do engajamento e de posicionamentos sobre temas centrais. Mesmo assim, cientes de sua importância, esperam o melhor momento para o bote. Assim como Richard Rorty (filósofo da cultura), ainda acreditam em novas formas de convivência e repassam o recado aos indecisos de plantão: “… esperemos mais”. A palavra de Rorty ainda ecoa: “Penso que podemos sempre dizer, quando defendemos um argumento que não é aceito, que, no presente, há muito pouca justificação para aceitá-lo, mas pode surgir um mundo no qual ele pareça simples senso comum”.

Sem nunca ter avalizado o mercado faz tempo que o idealismo desapareceu dos parlamentos e das igrejas. Aos poucos tem deixado Universidades e Escolas e passa a ser rejeitado pela própria sociedade.   Mesmo assim, continua vivo na cabeça de humanistas, literatos, poetas, homens e mulheres sensíveis à essência da natureza humana que ainda compactuam com a tese de que  “podemos ser versões melhores de nós mesmos”.

As coisas poderiam ser diferentes!

Cristina Esteche

Jornalista

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