22/08/2023
Segurança

Prisão de Strechar – Varredura na Câmara dura mais de três horas

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Por Cristina Esteche com fotos de Dalner Palomo

Dividir o salário com assessores, muitos dos quais só comparecem à Câmara no dia do pagamento para levar 50% do valor recebido ao presidente Admir Strechar (PMDB). Este foi o motivo que levou o GAECO/Guarapuava a prendê-lo em flagrante nesta terça-feira (25).

Eram 16 horas quando o promotor Claudio Cortesia acompanhado por policiais do GAECO chegaram à Câmara. O promotor Mauro Dobrowolski chegou pouco tempo depois, assim como mais policiais ligados ao MP. Titular da 7ª. Promotoria , a que trata do Patrimônio Público, Wiliam Gil foi o último a chegar.

De acordo com funcionários do Legislativo Municipal, a equipe comandada por Cortesia chegou correndo e foi direto à sala da presidência. Estava dado o flagrante que foi articulado ontem segunda-feira (24) após mais de um ano de investigações que vinham sendo feitas pelo MP. “Um dos funcionários cansou e foi até o MP ontem dizendo que hoje iria trazer a parte do salário e aí prendemos o presidente da Câmara em flagrante”, declarou Cortesia à imprensa que se acumulava nos corredores do Legislativo. A RSN foi a primeira chegar no local e deu a notícia em primeira mão.

Segundo o promotor, o funcionário recebeu R$ 2,4 mil, cédulas que foram marcadas, e repetiu o que vinha fazendo todos os meses há anos. Entregou R$ 1 mil a Strechar. Foi o dinheiro marcado que contribuiu com o flagrante já que Strechar tinha R$ 11,1 mil no bolso.

Durante mais de três horas o entra e sai de promotores e policiais da sala presidência foi contínuo sob os olhos atentos dos servidores e de vereadores que chegavam à Câmara para a sessão.

Policiais e promotores não paravam um instante sequer. As duas assessoras da presidência, Leoni Massuqueto e Lucia não puderam sair da sala onde trabalhavam. Em determinado momento foi possível ver que ambas tomavam chimarrão. Junto com Strechar no gabinete estava o ex-vereador João Mendes. Num rápido momento em que saiu da sala e retornou logo em seguida comentou com a RSN que estava tomando cafezinho com Strechar quando a equipe de Cortesia os surpreendeu.

A cada saída o GAECO recolhiam equipamentos de informática. HDs, placas e outros equipamentos de informática foram retirados para investigações. A sala da Secretaria de Finanças foi fechada por Cortesia, acompanhado de um policial, e mais materiais foram coletados, segundo previa o mandado de busca e apreensão.
Em determinado momento Mauro Dobrowolski saiu da sala de Strechar com uma fita-cassete nas mãos em busca de um toca-fitas.

As informações eram dadas à imprensa a conta-gotas e não era permitido chegar perto da sala de Strechar.

No lado de fora da Câmara, na esquina entre as ruas Pedro Alves e Xavier da Silva, populares se acumulavam atraídos pela movimentação de viaturas policiais. A área foi isolada pela Polícia Militar que foi chamada para apoiar a operação.

Era perto das 18 horas quando um dos promotores comunicou à imprensa que Strechar sairia e seria levado até onde estava estacionado o seu carro, desta vez uma caminhonete importada Lander, cor branca, placas AUA 7598 de Curitiba. O veículo estava estacionado irregularmente sobre a calçada na entrada lateral do prédio.

Policias, acompanhados por promotores continuaram a varredura. O carro foi vistoriado e vários documentos apreendidos, entre estes um papel amassado. Era a inscrição de uma candidata ao concurso público aberto por Strechar para suprir vagas no Legislativo, uma exigência do Tribunal de Contas do Paraná.

Desde que saiu da sala, Strechar demonstrava uma calma aparente e sorria durante o tempo em que acompanhou a vistoria no seu veículo. Algumas vezes tentava explicar algo aos promotores. O vereador Elcio Melhem, advogado criminalista, acompanhava tudo. “Vou acompanhar flagrante até o GAECO”, afirmou à RSN, referindo-se ao local onde Strechar está preso.

Após a vistoria minuciosa no veículo, incluindo as portas laterais e motor, todos retornaram à sala da presidência.

Cerca de uma hora depois, perto das 19 horas, Strechar foi conduzido até a sede do GAECO onde ficará preso. Ele é acusado de cometer peculato (ato de exigir para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem em razão da função, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida). Se condenado, a pena vai de dois a oito anos. Há ainda a pena de multa, que é cumulativa com a de reclusão.

Esta é a segunda prisão de Strechar. Ele já foi detido pela Polícia Federal por cerca de um mês há anos por crime eleitoral. Também pesa sobre ele três condenações. Uma por inclusão de dados falsos no sistema do Detran, crime cometido quando era chefe da CIRETRAN, outra por furto de sinal de tevê a cabo e por sonegação fiscal.

Cristina Esteche

Jornalista

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