Quando o fogo arde dentro de casa!

A política brasileira vive nesta semana mais um capítulo de rupturas internas no campo da direita. Não sou eu que estou dizendo, as notícias em âmbito nacional mostram esse cenário.

Isso porque a decisão de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, de buscar interlocução com representantes da indústria e diplomatas norte-americanos para mitigar os efeitos do tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros provocou reações iradas no núcleo bolsonarista. Entre os mais vocais, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, não poupou críticas e acusou o governador de São Paulo de “subserviência servil às elites”, segundo o Correio Braziliense.

A crítica de Eduardo, publicada nas redes sociais nesta terça (15), não é apenas retórica política. No meu entendimento, escancara um racha evidente entre os defensores de uma postura confrontacionista. Principalmente, entre aqueles que, como Tarcísio, buscam alguma institucionalidade em meio ao isolamento externo do Brasil.

TARIFAÇO É PANO DE FUNDO

O pano de fundo da crise é o pacote tarifário anunciado por Trump, que impõe alíquota de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Tarcísio, que inicialmente endossou a narrativa bolsonarista ao responsabilizar o presidente Lula pela retaliação norte-americana, mudou de tom nos últimos dias. Em reuniões com empresários, diplomatas e com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, o governador tem defendido uma ação coordenada entre o governo estadual e o federal. Inclusive elogiando o Itamaraty pela condução da crise.

Essa guinada pragmática, entretanto, tem sido lida como traição por parte do bolsonarismo mais radical, que insiste em manter o conflito com as instituições como método de ação política. O problema é que essa estratégia, desgastada e fragilizada, ocorre num momento em que o próprio Jair Bolsonaro vê o cerco se fechar.

Nesta mesma terça, a Procuradoria-Geral da República (PGR) decretou a prisão de Jair Bolsonaro no âmbito dos inquéritos que investigam a tentativa de golpe de Estado. E também a articulação para deslegitimar o processo eleitoral. A medida marca um ponto de inflexão no cenário político. O ex-presidente, que por anos se escorou na impunidade e no discurso de perseguição, agora enfrenta diretamente o peso da Justiça.

SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA

O movimento de Tarcísio, portanto, precisa ser lido em dois planos. No imediato, é uma tentativa de proteger os interesses econômicos do maior estado brasileiro frente a uma decisão hostil dos EUA. No plano simbólico e político, é também um gesto de distanciamento controlado de uma figura. Ou seja, de Bolsonaro que já não representa estabilidade nem projeto claro de poder, mas sim riscos jurídicos, econômicos e diplomáticos.

Enquanto aliados tentam costurar, nos bastidores, uma anistia ampla para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, Tarcísio sinaliza que a prioridade não é blindar o passado. Mas, sim, tentar salvar o que ainda resta de governabilidade e relações internacionais.

Vejo como um movimento de sobrevivência política, mas também de possível transição. O governador paulista, ao contrário dos bolsonaristas ortodoxos, parece enxergar que o bolsonarismo pode já não ser mais o melhor caminho para 2026.

A crise tarifária com os EUA, assim, tornou-se o catalisador de um conflito interno que já estava latente. Assim sendo, o bolsonarismo entra em combustão, e o fogo agora arde dentro de casa.