22/08/2023
Cotidiano

Quem diria

Recebi de meu amigo jornalista Giovani Ciquelero e compartilho:

 

Quem diria…

Nos últimos dias, estamos vendo pela janela, pela televisão e, principalmente, pela internet, diversas manifestações em várias cidades do Brasil. Todas marcadas por uma única característica em comum: a indignação.

Geralmente apartidárias e pacíficas (sempre há exceções), as aglomerações resultaram de vários motivos e reivindicações: corrupção, altos impostos, preços caríssimos, salário baixo, educação péssima, saúde em frangalhos, infraestrutura sucateada, entre outros.

Tudo isso, infelizmente, o brasileiro se acostumou a engolir à seco durante anos, talvez devido a pouca perspectiva de melhora. Mas quem diria que a gota que transbordaria o balde seriam alguns centavos. Uma bela duma ironia.

Depois de bilhões investidos nas construções de estádios para a Copa do Mundo, milhões desviados e centenas de milhares de reais pagos a políticos inertes, foi o aumento de alguns centavos na passagem dos ônibus em várias capitais do país que fez o sangue do brasileiro ferver.

Quem diria também que o meio viabilizador para reunir e planejar as manifestações fossem as redes sociais, aqueles mesmos sites de relacionamentos onde todos os dias vemos mães compartilhando frases religiosas, namorados melosos, postagens desnecessárias e memes engraçados (nem tanto).Depois de anos, enfim, a internet deu-nos uma faísca do seu potencial e, ao contrário dos grandes conglomerados midiáticos, está sendo essencial.

Do outro lado da moeda (ou do centavo), a grande mídia, a princípio, taxou de vândalos e terroristas os participantes dos protestos. Imagino que isso se deu pelo temor em perder o faturamento com comerciais relacionados à “grande festa do futebol”, mas após dias de protestos e temendo virarem mais um inimigo, os jornais, rádios e, principalmente, redes de televisão tiveram que ser mais verdadeiros.

Outra grande ironia do destino, mais uma,foi o hino usado para incentivar o povo a ir às ruas (e que caiu como uma luva, diga-se de passagem). Ele surgiu justamente de um comercial de uma montadora de carros veiculado na televisão em apoio à seleção nacional.Carros que são talvez os maiores exemplos do quão o brasileiro é explorado em impostos e preços.

“Vem, vamos pra rua. Pode vir que a festa é sua. Que o Brasil vai estar gigante. Grande como nunca se viu… Sai de carro, vem pra rua, que é a maior arquibancada do Brasil”. A letranos chama para torcer pela seleção nacional na grande arquibancada chamada rua, mas acabou por incentivar a população a fazer delas o centro das atenções.

O estopim das revoltas não poderia ter acontecido em melhor hora. Com o início da Copa das Confederações e um ano até a Copa do Mundo, a tendência é que o assunto fique vivo e a mídia internacional mantenha os olhos voltados para o que acontece por aqui.

Esse é só o começo, “Imagina a festa”…

Giovani Ciquelero, jornalista

Cristina Esteche

Jornalista

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