Após cerca de oito anos de um suposto sequestro que envolveu uma família no município de Pinhão, em 2010, o ex-genro de Sérgio Lustosa de Castilho e Cleosni Castilho, Alexandre Campo Ramos, entrou com representação judicial na 5ª promotoria em Curitiba para dar outra versão a história, contestando a elucidação da Polícia Civil em 2012.
O relato de Alexandre derruba a tese do sequestro da família Dambroski Castilho e atribui a esta uma armação para reaver o patrimônio perdido em transações de negócios. O Portal RSN teve acesso à cópia da representação e, segundo o documento, tudo não passou de uma tentativa montada para anular procurações, assinaturas de transferências e vendas que foram feitas pela própria família, totalizando R$ 32 milhões, valores contabilizados ainda em 2010.
A intenção de Alexandre é limpar seu nome e o da filha, que possuía dois anos de idade na época em que o suposto sequestro ocorreu. A criança é fruto de uma união estável com Patrícia Dambroski de Castilho, a qual foi rompida em 2010. Pelo proximidade familiar, ele acompanhou todas as negociações da família desde o início até a conclusão do inquérito pela Polícia Civil, em 2012. Na época, ele cursava Direito em Guarapuava.
A representação criminal contra os envolvidos na trama, segundo Alexandre, já está nas mãos da juíza em Curitiba e será analisada em breve.
ARGUMENTAÇÃO
De acordo com Alexandre, a família de sua ex-esposa, Patrícia, começou a fazer adiantamentos e empréstimos, dando em garantia de hipoteca com averbações da fazenda de 170 alqueires para a compra de outras três propriedades localizadas em Pinhão. Segundo a representação, as transações eram realizadas em nomes de terceiros. Ainda segundo o documento, um deles trata-se do então cartorário do município, Leandro de Oliveira Freitas. Pelos serviços, segundo Alexandre, Leandro requeria 50% dos valores recebidos pelos credores. O cartorário possuía uma procuração, concedida pelo casal Sérgio Lustosa de Castilho e Cleosni Castilho, que lhe dava amplos poderes para qualquer tipo de negociação. Sérgio e Cleosni eram ex-genros de Alexandre.
O “SEQUESTRO”
Em novembro de 2012, uma matéria publicada pelo Portal RSN esclarecia o suposto sequestro durou mais de oito meses. De acordo com a versão da polícia na época, o esquema da quadrilha de sequestradores era obrigar o casal Sérgio e Cleosni a transferir o patrimônio familiar composto por 170 alqueires e outras três propriedades rurais aos autores do cárcere privado. A família ficou “presa” numa casa no Bairro Industrial, de Pinhão.
Em 2012 o então delegado chefe da 14ª Subdivisão Policial de Guarapuava, Ítalo Biancardi Neto, em nota, divulgou o que chamou de “elucidação do sequestro da família Dambroski Castilho”. De acordo com as investigações da época, Sérgio, Cleosni, Patrícia e a filha, ficaram como reféns de sequestradores – cujos nomes não foram divulgados até hoje, mas que seriam de Pinhão – entre janeiro e agosto de 2010, numa casa localizada no Bairro industrial. A intenção seria transferir os bens da família para a quadrilha e depois matá-la.
Conforme a investigação da época, os sequestradores se aproximaram do produtor oferecendo a possibilidade de aumentar o seu patrimônio.
“As vítimas foram, por dois meses e meio aproximadamente, submetidas a coações e ameaças, sob a vigilância de capangas armados de um testa de ferro do articulador ou mandante do esquema criminoso”, disse Ítalo na ocasião.
“A esposa, filha e a neta foram separadas de Sérgio, viviam sob constantes ameaças e coações e vigiadas por dois capangas. Não podiam circular livremente pela cidade ou sair sem estarem acompanhadas pelo testa de ferro e pelos capangas” declarou Ítalo, na época. Segundo o delegado, essa pessoa seria Acir Antunes de Oliveira. Enquanto isso, em outra casa, também usada como cativeiro, o marido era mantido longe da família e no período era obrigado a assinar diversos documentos de transferência das terras.
Conforme o delegado, o sequestro iniciou em janeiro de 2010, mas a ação mais rigorosa foi exercida num período de dois meses e meio.
“Numa das coações, no cativeiro onde as vítimas mulheres se encontravam, a esposa foi obrigada a escrever documentos manuscritos ditados por um dos sequestradores, visando a transferência do restante de terras que ainda faltava ser transferidas ilegalmente”, disse na época.
O final desse caso, cuja versão é contestada por Alexandre, aconteceu quando uma das vítimas viu em uma serraria próxima ao cativeiro, que estavam sendo confeccionados quatro caixões fúnebres. A vítima, que também não teve o seu nome revelado na época, conseguiu pedir a ajuda de terceiro, viabilizando a fuga da família num veículo de uma testemunha que esteve no local para resgatá-los.
Já, para a elucidação do caso, a polícia esteve nos locais usados como cativeiros realizando a “recognição visuográfica”, traçando as principais cenas dos crimes, as quais foram registradas por câmeras e filmagens, colheu depoimentos e identificou documentos com assinaturas.
Os sequestradores foram identificados e indiciados pelos crimes de sequestro, cárcere privado, torturas psicológicas, falsificação de documentos e formação de quadrilha.
Após o caso, durante algum tempo, a família viveu em casa de parentes, em Guarapuava. Segundo Alexandre, hoje, Patrícia vive em Curitiba com a filha. Já Sérgio e Cleosni residem em Fortaleza.
Segundo ele, a família abandonou as terras com medo de represálias e para anular as transações o casal simulou que ainda possui 68 alqueires de terra, armou o falso sequestro com o intuito de anular todas as transações feitas nesse período.
O Portal RSN tentou contato com as pessoas que tiveram seus nomes citados, porém, não foi possível encontrá-las.