22/08/2023
Política

São Francisco: Estradas ruins e falta de infraestrutura decepcionam visitantes

Uma matéria veiculada pela RSN ontem, domingo (9), sobre o alto São Francisco provocou a reação de pessoas que visitaram o local recentemente. De acordo com informações repassadas, a estrada que dá acesso ao Parque estão precárias, há falta de sinalização e de infraestruturura básica como sanitários públicos, por exemplo.

"Realmente o salto de São Francisco é lindo, mas a estrada está em péssimas condições, falta sinalização (é muito fácil de se perder no caminho), e quando chega ao local, há somente a cachoeira, falta uma infraestrutura melhor o local pra ficar ainda melhor. Pela briga que existe entre os municí­pios imaginei que seria um parque recreativo estruturado.Resolvi visitar o local tão falado, só achei o caminho depois do Guairacá porque segui o ônibus da Pérola do Oeste. Fiquei  30 minutos e vim embora, pois levei carne e comida pra ficar a tarde lá, mas não há condições. Pois nem banheiro público existe lá,"  disse Marcia Prediger em e-mail encaminhado a este site.

Leonardo Pedroso da Rosa também reclamou da falta de infraestrutura no local. "Recebi familiares de outra cidade durante as festas de final de ano e resolvemos passar um dia agradável no São Francisco. Arrumamos as nossas coisas e já no começo na saída nos estressamos com a falta de manutençãi da estrada", reclamou. Leonardo também comentou sobre a falta de infraestrutura. "Não há churrasqueiras, não existe banheiro público e nada para fazer a não ser olhar o Salto e voltar embora. Acho tudo isso um desrespeito com o cidadão", afirmou.
Localizado a 46 quilômetros de Guarapuava o São Francisco é  a "menina dos olhos" do prefeito Fernando Ribas Carli em relação ao turismo. Um projeto do Trem de Luxo que passaria por Guarapuava trazendo turistas estrangeiros, segundo anunciou Carli no mandato anterior ao atual, incluia o Salto São Francisco no roteiro de visitas que seria feito pelos turistas durante a permanência na cidade. Pelo projeto o Salto passou a ser denominado São Francisco da Esperança.

O local, porém, faz limite com os municípios de Guarapuava,  Prudentópolis e Turvo e há uma polêmica em relação a quem pertence a queda d´água com 196 metros de altura. Em setembro de 2009 um requerimento assinado pelo vereador e presidente da Câmara de Prudentopólis, Canderoi Mainardes Filho (PT) e encaminhado à assessoria jurídica da Prefeitura de Prudentópolis reacendeu uma discussão que já estava apagada. Os prudentopolitanos querem o Salto São Francisco, que ganhou mais um adendo nos últimos anos e se transformou no Salto São Francisco da Esperança.

ENTENDA O CASO

Quando o prefeito Fernando Ribas Carli (PP) assumiu Guarapuava pela segunda vez (2004) voltou seus olhos para o São Francisco, um ponto turístico que vinha sendo explorado há muitas décadas por Prudentópolis. “Esse tipo de coisa dá ibope”, chegou a comentar o prefeito logo após entrevista concedida à RPC e à RSN em seu gabinete, à época. Começava aí a “guerra” envolvendo uma tríplice divisa e a queda d´água , considerada uma das mais altas e das mais belas da região com 196 metros, entre Guarapuava, Prudentópolis e Turvo. O assunto levantado por Mainardes Filho movimentou a sessão da Câmara no dia 21 de setembro de 2009, na Câmara do vizinho município. Prudentópolis fica a cerca de 65 quilômetros de Guarapuava. “Queremos saber como está essa situação. O Salto São Francisco sempre pertenceu ao nosso município e por omissão do ex-prefeito Wilson Santini acabamos perdendo um território que é nosso e que foi invadido por Guarapuava”, disse o vereador à RSN à época. O vereador se referia ao laudo emitido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em julho de 2007, reconhecendo equívoco na interpretação da SEMA em memorial descritivo feito após revisão ainda em 2003, quando o Estado estava atualizando os memorais das divisas territoriais dos municípios paranaenses. Esse laudo foi contestado pela Secretaria Municipal de Habitação de Guarapuava. Seguiram-se uma série de reuniões entre as prefeituras de Guarapuava e Turvo e o Instituto de Terras Cartografia e Geociências (ITCG), órgão ligado à SEMA. O então prefeito de Prudentopólis, Wilson Santini, sempre esteve ausente. “O ex-prefeito foi omisso e agora queremos rever essa situação. Guarapuava entrou lá e derrubou um portal que foi construído por Prudentópolis, além de invadir uma propriedade particular pertencente à família Agibert; existe uma ação contra essa invasão, diz Mainardes Filho. Em julho de 2007, em meio a essa polêmica Prudentópolis construiu um portal de entrada no parque. A obra não ficou em pé nem por 24 horas porque máquinas de Guarapuava a colocaram no chão a partir de um auto de embargo conseguido pela administração guarapuavana. Novos fatos foram criados por conta de poucos pilares de eucalipto. “Queremos que Prudentópolis deixe a estrada como estava”, esbravejava o secretário de meio ambiente, Milton Roseira, referindo-se aos poucos buracos cavados para afixar os pilares. “Como no nosso município havia uma administração omissa, coisas como essas foram feitas sem permissão, mas agora não vamos permitir que um patrimônio histórico de mais de 100 anos seja usurpado dessa forma estranha”, ataca o vereador de Prudentópolis. O que ele propõe é que a conversa entre Guarapuava, Turvo e Prudentópolis seja retomada. “Não estou pré julgando ninguém porque fomos vítimas da omissão do nosso ex-prefeito, mas queremos propor a formação de um consórcio entre os três municípios envolvidos para que todos invistam a partir de um planejamento conjunto. Mas não vamos permitir que essa situação fique como está”, avisou. O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Guarapuava, Milton Roseira, foi procurado para comentar essa nova situação, mas não foi encontrado e nem retornou a ligação feita pela TRIBUNA. Um projeto de “encher os olhos” Uma área de 35 alqueires a cerca de 50 quilômetros de Guarapuava abriga um salto com 196 metros de altura. Em seu entorno há 105 propriedades rurais e 13 igrejas. Um cemitério abandonado cravado em meio à mata também chamaria atenção a partir de investimentos em marketing. Até um nome foi sugerido: o Cemitério dos Anjos, caso fosse restaurado. Um cenário perfeito para se traçar um caminho religioso cortado por várias paradas para o consumo de produtos típicos da região e que seria percorrido por milhares de turistas. Um “trem de luxo” quebraria o silêncio, mas colocaria o São Francisco da Boa Esperança no cenário do turismo internacional para a classe A. Um projeto de “encher os olhos” e de despertar a esperança nos moradores do “Tio Chico” (tomando emprestada a denominação carinhosa da praia catarinense). Acontece que três municípios dividem o mesmo sonho e o mesmo território. A nascente do salto está em área pertencente a Guarapuava, enquanto uma das partes laterais é de propriedade do Turvo e a queda d´água tem Prudentópolis como dono, o que foi contestado por Carli nos cálculos feitos pela Secretaria de Habitação e ratificados pelo ITCG. Guarapuava não perdeu tempo e pela Lei 1589/2006 criou a Área de Preservação Ambiental, e o Parque está dentro dela. Tratava-se do embrião para a criação do Parque Municipal São Francisco da Boa Esperança, lançado por Carli na cidade francesa de Deauavile durante o Top Resa, um evento turístico internacional. Lá estavam Leocádio Pupo e o ex-deputado Fernando Carli Filho, além do prefeito guarapuavano. Na ocasião Carli anunciou que o empresário Odacir Antonelli (Guarapuava) construiria lá um luxuoso hotel. Alguns investimentos oficiais foram feitos, mas o caminho religioso aos moldes de Santiago de Compostela (como sonhava um dos secretários municipais), passados mais de três anos, ainda não “decolou”. Denúncias recentes feitas pelo vereador Gilson Amaral (DEM) na Câmara de Guarapuava trouxeram ao conhecimento público o descaso da administração municipal para com o “São Chico”. Animais mortos, depredação da mata, lixo acumulado, estradas precárias, entre outras situações, ilustraram de forma negativa alguns requerimentos assinados por Gilson Amaral, que já há cerca de dois anos pediam providências no local.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo