22/08/2023
Cotidiano

Sem assistência, mendigos dependem da solidariedade para sobreviver

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Por Cristina Esteche – Elias Moraes, 27 anos (foto) , encontra a sua sobrevivência perambulando pelas ruas da cidade com um caixote de engraxate nas costas. Quando chega perto do horário do almoço ele senta perto de restaurantes do centro da cidade para ver se "aparece algum freguês". Vivendo na rua desde os 14 anos de idade quando decidiu parar de apanhar do pai, Elias deixou a cidade natal, Palmas, e virou um peregrino. Andou por Almirante Tamandaré – onde seus dois irmãos moram – , Mangueirinha – onde vive a sua mãe – , Cascavel, Chapecó (SC). "Morei em bolas de cidades, mas gostei mesmo é de Guarapuava", diz. Aqui ele tenta sobreviver há quatro anos.

Engraxar sapatos é uma atividade em extinção, mas para Elias"é melhor do que roubar, mas pedir eu peço". A renda é mínima. "Tem dias que tiro uns R$ 6,00. Estou juntando dinheiro pra comprar um cobertor bom que custa R$ 17,00", diz enquanto pede um cigarro a um jovem que passa por ele. A única efeição do dia é uma coxinha de galinha. "Quando dá tomo um pingado (café com leite)", diz. O jovem é dos moradores de rua de Guarapuava.

Assim como Elias Moraes,João dos Santos, 38 anos, é um dos andarilhos que vive pelas ruas da cidade, à frente de restaurantes à espera de um prato de comida. Durante a conversa com João é possível perceber distúrbios mentais. Ele diz que nasceu na localidade de Vila Matinhos, no distrito de Guairacá, onde vive a sua família. Saiu de casa para a cidade há 11 anos com a intenção de vender maconha e outras drogas. "Mas aí me falaram que essas drogas poderiam me levar pra dois lugares: pra cadeia ou pro cemitério e aí desisti dessa ideia. Prefiro viver assim como vivo", diz. Voltar para a casa dos irmãos? Nem pensar. "Não me dou bem com aquela tentação", diz para depois cair num silêncio profundo.

Elias e João são apenas dois números no cenário da invisibilidade social que atinge também em Guarapuava. Desde que a Toca de Assis fechou as portas os mendigos que existem em Guarapuava estão sem qualquer assistência social. "Eu durmo em qualquer mocó que tenha uma cobertura. Não está dando pra suportar o frio que está fazendo", diz Elias. Quando anoitece João busca abrigo numa igreja que existe perto do Residencial 2000. "Lá eu e um outro temos sopa e pouso", diz.

A Toca de Assis era uma organização não governamental, mantida e administrada por irmãs missionárias no Bairro Santa Cruz, destinada a abrigar mendigos. De acordo com a Paróquia Santa Cruz, a entidade fehou por falta de religiosas.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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