22/08/2023


Cotidiano Paraná

Sem fiscalização e manejo adequado, araucária corre risco de extinção

Presente na Região Sul e em áreas elevadas do Sudeste, a araucária tem influência cultural por causa da semente: o pinhão

pinheiro

Sem fiscalização e manejo adequado, araucária corre risco de extinção (Foto: Pinterest)

A falta de manejo adequado e de fiscalização coloca a araucária, árvore símbolo do Paraná, na lista das espécies ameaçada de extinção. Somam-se a essas causas o desmatamento e os efeitos das mudanças climáticas.

O alerta está sendo feito nesta quarta (24), Dia Nacional da Araucária, uma árvore ancestral do Brasil. Ela é  encontrada majoritariamente na Região Sul do País, em um ecossistema da Mata Atlântica conhecido como Floresta Ombrófila Mista. O Paraná é o estado que originalmente, concentrava a maior parte do ecossistema que abriga a espécie. Em Guarapuava, há a única floresta de araucária mantida pelo Poder Público: o Parque das Araucárias, às margens da BR-277.

De acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, em 2019 o desmatamento no bioma cresceu 27,2%, perdendo um total de 14.500 hectares de floresta. Desse total, cerca de 24% foram nos estados do Paraná e de Santa Catarina. E lá que a madeira da araucária ainda é usada ilegalmente para, por exemplo, abastecer de tábuas a construção civil.

Conforme Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, estima-se que hoje a floresta com Araucárias ocupe menos de 3% da área original. O que a coloca em grande risco de ser extinta nas próximas décadas.

Isso se não houver uma mudança por parte dos proprietários rurais, da iniciativa privada e do poder público na forma como exploram e cuidam desse que é um dos mais emblemáticos e ameaçados ambientes naturais do Brasil.

Porém, segundo Guilherme, o que está em jogo não é apenas uma espécie, mas todo um ecossistema com uma grande diversidade de plantas, como imbuias e canelas, e animais, como o papagaio-de-peito-roxo.

SEM EXAGERO

A preocupação com a situação das araucárias não é exagero. Em 2019, um artigo publicado na revista científica ficou famoso por prever o fim das araucárias até 2070 se nenhuma estratégia de conservação for posta em prática para reverter o ritmo de destruição.

O estudo, com participação de cientistas britânicos e brasileiros, explica que depois de sofrer ao longo do século 20 com o desmatamento descontrolado promovido por interesses econômicos, o ecossistema tem agora um cenário igualmente grave para o século 21: o aquecimento global.

De acordo com pesquisadores, a floresta ombrófila mista ocupa os extremos mais altos e frios da Mata Atlântica (temperatura anual média de 12-20 ºC, com frequentes geadas). “Porém, essas condições provavelmente serão cada vez mais raras no futuro próximo”.

INFLUÊNCIA CULTURAL NA REGIÃO

Por estar geograficamente localizada no Sul e em alguns pontos mais elevados do Sudeste brasileiro, além de pequenos trechos da Argentina e do Paraguai, a araucária tem influência cultural nessa Região.

De acordo com pesquisadores, por causa dA semente: o pinhão, que é presença garantida em festividades juninas. É também comum nos cardápios de restaurantes e celebrações culinárias durante os meses de inverno.

Conforme observam, famosa pela copa em formato de candelabro, a araucária pode chegar a 50 metros de altura e tem origem no período jurássico de formação da Terra.

FUNDAÇÃO BOTICÁRIO

Para preservar a espécie e o ecossistema, a Fundação Grupo Boticário e a Fundação CERTI mantêm o Araucária+. Trata-se de uma iniciativa que promove a conservação da floresta com araucárias por meio de um modelo de negócio  especial.

Conforme o projeto, a iniciativa proporciona a inclusão socioeconômica de proprietários de áreas naturais em cadeias produtivas inovadoras. De acordo com a Fundação, o objetivo é mostrar a importância socioeconômica da floresta em pé.

Pinhão (Foto: Mauro Scharnik/IAP)

De acordo com a Fundação Boticário, por meio do Araucária+, proprietários de terra na área da floresta são estimulados a adotar práticas sustentáveis de manejo do solo e da vegetação. Assim, isso ocorre, em especial quanto à colheita das sementes de pinhão e das folhas de erva-mate. Trata-se também de uma planta nativa e existente dentro da floresta com araucárias.

Dessa forma, entre as práticas acordadas com os proprietários estão a não retirada da totalidade do pinhão. O garante uma parte para a alimentação da fauna nativa. Além disso há a retirada gradual do gado de áreas sensíveis. Conforme observa a Fundação, os animais pisoteiam e compactam o solo, dificultando a germinação de sementes das espécies vegetais nativas, fundamental para a perpetuação do ecossistema.

Em relação ao manejo de erva-mate, a extração das folhas só pode ocorrer fora do período de floração, que vai de setembro a dezembro. Além disso, as árvores precisam ficar com pelo menos 30% das folhas para que tenham condições de sobreviver.

Porém, em contrapartida, a iniciativa mobiliza a rede para vender o pinhão e as folhas de mate para novos mercados. Àqueles que valorizam um produto de origem sustentável e que ajuda a conservar a biodiversidade.

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Cristina Esteche

Jornalista

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