Ceres Battistelli
Curitiba – O Dia Mundial sem Tabaco, comemorado nesta quarta (31), serve como alerta para os fumantes, especialmente, para os que estão acima do peso. Recentemente, a obesidade foi incluída na longa lista de males provocados pelo cigarro.
Isso porque, de acordo com um estudo da Universidade de Washington, o cigarro dificulta a percepção do sabor de alimentos açucarados e gordurosos, comprometendo a sensação de saciedade por esses produtos. O cigarro causa um bloqueio sensorial, quase uma anestesia do setor olfatório e do setor gustativo, devido a uma ação direta e local da fumaça, da nicotina e do cigarro na cavidade bucal. Os resultados apontam, que o vício pelo cigarro também engorda, especialmente as mulheres.
Segundo o artigo publicado na revista científica Obesity, os pesquisadores descobriram que as mulheres fumantes anseiam alimentos gordurosos mais frequentemente do que as que não fumam, e que o desejo por cigarros e o por comida estão relacionados de tal forma que, quanto mais elas querem o cigarro, maior é o desejo por carboidratos e alimentos ricos em gordura.
O combate ao tabagismo – considerado uma doença crônica do sistema nervoso central, caracterizada pela dependência ao consumo de tabaco – é uma campanha que tem o apoio da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
De acordo com o presidente da SBCBM, Caetano Marchesini, muitos pacientes obesos e fumantes optam pela cirurgia bariátrica para melhorar a sua qualidade de vida.
“A obesidade atinge 53,8% da população brasileira, de acordo com o último levantamento do Ministério da Saúde. Neste universo de pessoas obesas, encontramos muitas que são fumantes e candidatos a cirurgia bariátrica”, lembrou Marchesini.
O presidente da SBCBM explica que o paciente tabagista com obesidade mórbida necessita passar por uma avaliação detalhada do seu quadro clínico antes de ser operado.
“O cigarro prejudica a cicatrização e é um fator agravante para qualquer tipo de cirurgia, inclusive para a cirurgia bariátrica. A grande maioria dos pacientes obesos possuem dificuldades respiratórias que, com o uso consumo de cigarro, são agravadas”, reforça Marchesini.
ACOMPANHAMENTO É FUNDAMENTAL
Os cirurgiões que integram a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) recomendam aos pacientes tabagistas que deixem de fumar por um período de, no mínimo, 60 dias antes da cirurgia bariátrica.
Além disso, a avaliação clínica, psicológica, nutricional, física e de fisioterapeutas é fundamental. A equipe multidisciplinar trabalha de forma integrada para tratar o tabagismo, seja no ponto de vista comportamental ou com o uso de medicamentos por parte dos pneumologistas ou psiquiatras, se necessário.
PSICOLOGIA
A psicóloga Michele Pereira Martins, do Núcleo de Saúde Mental da Comissão das Especialidades Associadas (COESAS), conta que a obesidade, assim como o tabagismo envolve fatores psicológicos, sociais, comportamentais e biológicos. “Estudos apontam que as influências sociais como o estresse, por exemplo, são mais relevantes do que fatores relacionados com a personalidade para explicar os motivos que levam as pessoas a fumar e também a ter episódios de compulsão alimentar”, informa.
A psicóloga relata que todos os esforços da equipe multidisciplinar responsável pela avaliação do paciente no pré-operatório são no sentido de cessar o tabagismo. “Devido ao risco de complicações – principalmente cirúrgicas no pós-operatório imediato – é fundamental a cessação o tabagismo”, informa Michele, que atua em contextos de Saúde, Obesidade, Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Já o acompanhamento psicológico pós-cirúrgico tem como enfoque maior a prevenção de recaídas e os aspectos fisiológicos mediante a substituição da nicotina.