22/08/2023
Economia

Stablecoins dominam 90% dos fluxos cripto no Brasil em 2025: o que isso significa para os investidores

A mudança de foco dos brasileiros para as stablecoins acompanha tendências vistas em outros mercados emergentes

Criptodolar (Foto: reprodução/redes sociais)

O mercado de criptomoedas brasileiro vive em 2025 um momento de transformação silenciosa. Embora quase um quinto da população adulta já invista em ativos digitais, a atenção do público se concentra nas stablecoins, que respondem por 90% dos fluxos registrados e por 91,8% da base de investidores ativos. O movimento não reflete um desinteresse pelas demais criptos, mas sim a busca por estabilidade cambial, eficiência em remessas e vantagem frente à incerteza do real. Essa preferência redefine o papel das plataformas, das cooperativas regionais e da educação financeira.

Do hype das criptos voláteis à consolidação das stablecoins

A mudança de foco dos brasileiros para as stablecoins acompanha tendências vistas em outros mercados emergentes. Esse processo contrasta com o entusiasmo gerado por projetos de novas criptomoedas, onde inovação em blockchain, wallets integradas e criação de tokens impulsionam comunidades digitais. No Brasil, no entanto, o investidor médio parece priorizar segurança e liquidez.

Enquanto o Bitcoin continua sendo uma reserva simbólica de valor, sua volatilidade elevada e o custo de transação ainda afastam usuários que desejam previsibilidade. As stablecoins, atreladas ao dólar e com menor oscilação, passaram a servir de ponte tanto para guardar poder de compra quanto para realizar operações internacionais, inclusive pequenas remessas de familiares ou freelancers.

A economia em transição e o papel das plataformas

O avanço de plataformas nacionais, como as de bancos digitais e exchanges consolidadas, tornou o acesso às stablecoins extremamente simples. O investidor pode converter reais para USDT ou USDC em poucos segundos e acompanhar seu saldo com a mesma facilidade de uma conta corrente. Essa estrutura baixa barreiras e reforça o caráter cotidiano das criptomoedas, deixando de associá-las apenas à especulação.

A convergência com sistemas financeiros tradicionais é palpável: fintechs oferecem cashback em ativos digitais, fundos de investimento incorporam tokens dolarizados e empresas de tecnologia implementam soluções de pagamento integradas a carteiras blockchain. Ao mesmo tempo, cresce a expectativa sobre o Drex, a versão digital do real, que tende a reproduzir parte da praticidade das stablecoins, mas com supervisão direta do Banco Central.

Por que o pequeno investidor prefere o dólar tokenizado

O comportamento conservador da maioria dos investidores brasileiros tem base histórica e econômica. A volatilidade da moeda nacional e os ciclos inflacionários ainda presentes na memória coletiva fazem com que o dólar, mesmo digitalizado, ofereça sensação de refúgio. As stablecoins entregam essa referência de forma acessível: basta uma carteira digital e conexão à internet.

Além disso, a possibilidade de enviar valores ao exterior em minutos, sem bancos intermediários e com taxas reduzidas, reforça o apelo prático. Para o pequeno aplicador, o token atrelado ao dólar cumpre o papel de poupança de emergência em outro padrão monetário, sem necessidade de conta internacional. Essa funcionalidade simples, mas eficaz, explica em boa parte a amplitude de adoção dentro do território brasileiro, inclusive em regiões interioranas e cooperativas rurais.

Riscos escondidos sob a estabilidade aparente

A aparente tranquilidade das stablecoins não elimina riscos estruturais. Muitos tokens dependem de reservas geridas por empresas privadas no exterior, sujeitas a problemas de transparência, auditorias incompletas ou conflitos regulatórios. Caso uma emissora enfrente restrições, o valor de paridade pode ser comprometido. No Brasil, o supervisionamento sobre o uso por pequenos investidores ainda é limitado, e nem todos compreendem que a proteção cambial não equivale a garantia de crédito.
Há também o risco tecnológico: perdas por chaves privadas esquecidas, ataques cibernéticos e fraudes em plataformas descentralizadas. Diante disso, especialistas recomendam diversificar a exposição e identificar prestadores com histórico de compliance e políticas de segurança consistentes, evitando concentrar o patrimônio em apenas um tipo de token.

Educação financeira e protagonismo das cooperativas locais

O interior do país tem mostrado protagonismo inesperado nesse movimento. Cooperativas de crédito e associações regionais passam a organizar encontros sobre blockchain e tokenização de ativos agrícolas para preparar comunidades diante do Drex e das transações digitais. Esses eventos, inicialmente restritos a centros urbanos, agora alcançam municípios médios do Paraná, do Mato Grosso e de Goiás, onde produtores e empreendedores buscam entender o impacto da digitalização no cotidiano.
O desafio é equilibrar acesso à tecnologia com clareza sobre riscos. A formação de agentes comunitários especializados em finanças digitais tem ajudado a traduzir conceitos como “custódia”, “wallet” e “paridade” em linguagem simples. Assim, o uso das stablecoins deixa de ser um modismo e se transforma em ferramenta de gestão financeira adaptada à realidade regional, aproximando investimento e produtividade local.

O caminho para um ecossistema tokenizado sustentável

À medida que stablecoins e o Drex caminham lado a lado, abre-se espaço para um ecossistema híbrido, no qual criptomoedas, tokens setoriais e moedas digitais oficiais convivem. Instituições financeiras tradicionais estudam integrar operações de crédito empresarial aos registros em blockchain, reduzindo custos de auditoria e facilitando crédito rural.
A interoperabilidade entre tokens, permitindo conversão instantânea entre reais digitais e ativos atrelados ao dólar, tende a influenciar exportações e importações. No médio prazo, o Brasil pode se tornar referência em pagamentos tokenizados, mas dependerá de um marco regulatório adaptável e de políticas de proteção ao consumidor que preservem a inovação sem inviabilizá-la. A preferência atual por stablecoins, portanto, não parece transitória: é um sintoma da maturidade tecnológica e do desejo por estabilidade que moldam o novo perfil do investidor brasileiro.

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Cristina Esteche

Jornalista

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