Minas Gerais, Bahia, Piauí e Paraná são os Estados com situação mais crítica. Minas é o campeão do desmatamento pela quarta vez consecutiva, sendo responsável pela metade da destruição da Mata Atlântica no período analisado, com total de 10.752 hectares do bioma perdidos – o aumento na taxa de desmate no Estado foi de 70% comparado com o período anterior. Em segundo lugar no ranking, a Bahia perdeu 4.516 hectares de floresta nativa.
O Piauí, monitorado pela primeira vez, perdeu 2.658 hectares e já ficou com o terceiro lugar no ranking. O Paraná, além de ser o quarto no ranking, com 2.011 hectares perdidos no período, é um destaque negativo por ter sido observado um aumento de 50% na taxa de desmatamento do Estado Já os destaques positivos são Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, que tiveram redução de desmatamento de 93% e 92% respectivamente.
A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgaram na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente (5), em entrevista coletiva, os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, no período de 2011 a 2012.
A iniciativa tem o patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan. Os dados completos e relatório técnico podem ser acessados nos sites www.sosma.org.br e www.inpe.br ou diretamente no servidor de mapas http://mapas.sosma.org.br.
Pernambuco foi o único Estado que perdeu área de manguezal: 17 hectares. Os manguezais funcionam como berçários marinhos e são áreas muito importantes para atividades como a pesca. Na Mata Atlântica, o total de vegetação de mangue corresponde a 224.954 ha, sendo que Bahia (61.478 ha), Paraná (33.422 ha), São Paulo (24.891 ha) e Sergipe (22.959 ha) são os Estados que possuem as maiores extensões.
Já o maior desmatamento na vegetação de restinga (observada ao longo do litoral) aconteceu em São João da Barra (RJ), com 937 hectares, para implantação do Superporto do Açu. O município foi também o campeão de desmatamento no período.
Nessa região, porém, foi criado o Parque Estadual da Lagoa do Açu, em Campos dos Goitacazes e São João da Barra, com total de 8.252 ha, e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Caruara, em São João da Barra, com 3.844 ha.
A vegetação de restinga na Mata Atlântica equivale a 570.690 ha. São Paulo possui a maior extensão (206.308 ha), seguido do Paraná (100.335 ha) e Santa Catarina (77.336 ha). Além do Rio de Janeiro, também foi observada a supressão de restinga na Bahia (32 ha), no Ceará (319 ha), em Santa Catarina (257 ha) e em Sergipe (10 ha). No país todo a restinga sofre com os empreendimentos, obras de infraestrutura e especulação imobiliária – as construções de casas, hotéis e resorts acabam retirando a vegetação para poder ficar com o "pé na areia".
Agora, os municípios com maior porcentagem de vegetação nativa estão no Piauí: Tamboril do Piauí e Guaribas mantêm 96% da área original de Mata Atlântica. Guaribas também é o município com a maior área de vegetação nativa: 176.794 hectares.
O estudo aponta total de supressão de vegetação nativa de 23.548 hectares (ha), ou 235 Km². Destes, 21.977 ha correspondem a desflorestamentos, 1.554 ha a supressão de vegetação de restinga e 17 ha a supressão de vegetação de mangue.
Na comparação dos 10 Estados avaliados em todos os períodos (BA, ES, GO, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP) o aumento foi de 29% em relação ao período anterior (2010-2011) e de 23% em relação aos três últimos anos (2008-2011). A taxa anual de desmatamento é a maior desde 2008. No período 2008 a 2010, a taxa média anual foi de 15.183 hectares.
No levantamento de 2010 a 2011, a taxa anual ficou em 14.090 ha. Os dados foram apresentados por Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica; Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE; e Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação.
O levantamento apresenta, pela primeira vez, os remanescentes florestais do Piauí, que totalizam 34% da área original no Estado protegida pelo Mapa da Área da Aplicação da Lei da Mata Atlântica (11428/2006). “As áreas do Piauí abrangidas pelo Mapa da Aplicação da Lei possuem formações florestais naturais características do bioma em bom estado de conservação, mas a pressão das carvoarias, silvicultura e agora também da soja é grande no Estado“, observa Marcia Hirota.
Flávio Jorge Ponzoni, do INPE, ressalta a importância de conseguir mapear toda a extensão da Mata Atlântica. Ele destaca ainda que esta nova edição do estudo apresenta a versão preliminar do Mapa do Bioma Mata Atlântica, que inclui as áreas naturais como campos, várzeas, refúgios, cordões de restinga e dunas, o que difere das versões anteriores que apenas mapeavam os remanescentes florestais.
Para Mario Mantovani, o levantamento é importante para monitorar os impactos das mudanças decorrentes das alterações no Código Florestal, aprovadas há um ano. “Graças ao Atlas a Mata Atlântica é o único bioma com uma lei específica.
E as informações qualificadas e geradas periodicamente pelo estudo darão suporte para o acompanhamento do cumprimento do Código e a execução do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA)“, enfatiza. Ele também considera fundamental que os cidadãos acompanhem os dados sobre seus municípios e cobrem os governantes locais para que elaborem os Planos Municipais da Mata Atlântica.
Com a inclusão do Piauí no levantamento e mapeamento de toda a área de aplicação da Lei da Mata Atlântica, a área original que resta do bioma é de 8,5% – a Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil. Até o levantamento anterior, sem o Piauí, esse dado era de 7,9%.
Se forem considerados todos os pequenos fragmentos de floresta natural acima de 3 hectares, o índice chega a 12,5%. Por causa da cobertura de nuvens, que prejudicam a captação de imagens via satélite, foram avaliados 81% da área total do bioma Mata Atlântica que, de acordo com a lei, possui 1.309.736 km2.