O Lula que saiu de Curitiba era um homem bem menor do que aquele que chegou. A trajetória política do ex-presidente desliza em um tobogã que, tudo indica, vai levá-lo ao inferno da política.
Convocado pelo juiz Sérgio Moro para depor em Curitiba a respeito de um dos cinco processos em que é réu (o que investiga a posse do tríplex no Edifício Solaris, no Guarujá), Lula e o PT trataram o evento com a habitual prepotência e bravata. O ex-presidente disse que estava louco para vir a Curitiba provar sua inocência.
O Lula que estava ansioso por falar e colocar as coisas em seus devidos lugares, logo sumiu do mapa. Em seu lugar apareceu um cidadão nervoso que mobilizou um batalhão de advogados para tentar conseguir algum recurso jurídico que permitisse adiar a audiência. Até o último minuto manobras foram inutilmente tentadas.
O Lula do depoimento também tinha pouco a ver com aquele cidadão verboso e cheio de coragem dos palanques. Tartamudeou e vacilou durante a inquirição. Quando se via encurralado por evidências flagrantes, sem medo de ser feliz, jogava a culpa sobre a mulher recentemente falecida, dona Marisa. Um espetáculo deprimente.
Pior ainda, porque o presidente da República conversou com um diretor da Petrobras, Renato Duque, sobre contas secretas em paraísos fiscais? Se suspeitava do diretor, em lugar de demiti-lo, foi se assegurar que não deixaria rastros?
O PT também pagou sua cota de vexame. Primeiro, prometeu trazer a Curitiba 100 mil “guarda-costas” para Lula. Militantes que chegariam a Curitiba para mostrar que Lula não era um homem qualquer. Insinuou-se que poderiam haver tumultos de toda natureza se a audiência não transcorresse nos conformes.
Quando se deram conta que não tinham bala na agulha para bancar essa multidão, os 100 mil prometidos minguaram, nas promessas e ameaças, e caíram para 50 mil. Os cálculos da Polícia Militar revelam que, apesar de ônibus fretados, da militância local não se reuniu mais que 5 mil.
A defesa de Lula trava uma desesperada corrida contra o tempo para deter o mergulho do ex-presidente no inferno. O juiz Moro pode começar a aplicar sentenças condenatórias a partir de julho. Uma vez condenado, Lula deverá apelar para a segunda instância.
O Tribunal Federal de Porto Alegre, vem confirmando as sentenças de Moro. Uma vez condenado em segunda instância, Lula será ficha suja. Em lugar da sonhada volta a Presidência, que fraturaria o país, o ex-presidente terá que se ver com questões bem menos agradáveis, como esperar que o STF seja benévolo e converta as penas a que eventualmente venha ser condenado em algo mais suave que regime fechado, prisão domiciliar, por exemplo.
(*) Ademar Traiano é deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná e presidente do PSDB do Paraná