22/08/2023
Guarapuava Segurança

Única testemunha ouvida no júri de Manvailer afirmou que ouviu gritos

"Fiquei com muito medo e pedi pro meu marido apagar as luzes e trancar as portas. De repente, ouvi um barulho forte, pensei que fosse um tiro"

juri

Júri mostra a movimentação dos advogados de defesa (Foto: Cristina Esteche/RSN)

O júri de Luis Felipe Manvailer, que chegou a ser considerado um dos maiores da década no Brasil, e que tinha previsão de três dias para conclusão, durou apenas cinco horas, nesta quarta (10). Após um impasse entre defesa e acusação sobre a exibição de imagens, os advogados do réu preso, abandonaram o plenário e o julgamento foi adiado, pela terceira vez. Apenas uma testemunha prestou depoimento. Nova data deve ser agendada.

Após definir a composição do júri, houve um intervalo de 10 minutos. A primeira [e única] testemunha ouvida no julgamento foi uma vizinha do casal na época. Ela depôs por videoconferência e afirmou que o marido dela acionou a polícia na noite da morte de Tatiane Spitzner.

De acordo com a testemunha, ela e o esposo moravam no prédio há cinco meses, no mesmo andar de Tatiane e Luis Felipe. Conforme o depoimento, ela e o esposo dormiam e acordaram com gritos de uma mulher pedindo socorro e chorando. A testemunha afirmou que foi até a janela do quarto e viu Tatiane na sacada, debruçada. Passava a mão na cabeça e chorava.

Fiquei com muito medo, parada esperando que ela olhasse pra mim. Meu marido tentava ligar para a polícia. Eu fechei a minha janela e a porta e não ouvi mais gritos e nem barulhos. Fiquei com muito medo e pedi pro meu marido apagar as luzes e trancar as portas. De repente, ouvi um barulho forte, pensei que fosse um tiro. Estava muito nervosa, meu marido também, fui na sacada e vi o corpo caído. Vi o Luis Felipe descendo as escadas e quando chegou junto dela chacoalhava e dizia: meu amor, meu amor. Já tinham pessoas e diziam pra ele não tirar ela do chão, mas ele pôs ela no ombro e subiu. Nesse tempo meu marido conseguiu chamar a polícia. Só quando vimos a polícia chegar é que eu e meu marido tivemos coragem de sair no corredor.

Ainda conforme a testemunha, na noite da morte de Tatiane ouviu barulhos dentro do apartamento, mas que não eram semelhantes a espancamento. Além disso, disse que não viu o réu agredir, arrastar, nem jogar Tatiane da sacada. Porém, também não viu se ela se jogou do apartamento.

Defesa do réu preso abandonou o plenário (Foto: Cristina Esteche/RSN)

DESENTENDIMENTO

A defesa trouxe até o Tribunal, uma maquete do edifício e mostrou extratos de ocorrências das polícias. No boletim da PM, a informação era de que uma mulher teria cometido suicídio. No registro da Polícia Civil, um homem disse que uma mulher tinha se jogado da sacada de um edifício. Entretanto, a testemunha voltou a afirmar que o marido dela avisou a polícia civil.

Durante o depoimento, Manvailer que é canhoto, fez anotações e se manteve aparentemente calmo. Em determinados momentos alisava a camisa e arrumava o colarinho. Entretanto, os ânimos entre a defesa e a acusação se mantiveram alterados desde o início do julgamento. Numa das discussões, o juiz  ameaçou suspender a sessão. Todavia, na sequência houve novo embate e em dado momento o criminalista Claudio Dalledone Junior chegou a sugerir ao promotor que ele deveria ter tomado “maracugina”.

Entretanto, a defesa patrocinou novo impasse quando tentou mostrar imagens de um HD externo. Só assim continuaria ouvindo a testemunha. O pedido, porém, deixou se ser acatado pelo juiz.

Advogados da família Spitzner lamentaram a postura da defesa (Foto: Cristina Esteche/RSN)

Alterada, a defesa afirmou que as imagens estavam no processo desde 2018, e que caso não pudesse utilizá-la, não poderia prosseguir com o júri. Após discussão, a defesa abandonou o plenário. Assim sendo, o juiz dissolveu o Conselho de Sentença. Em seguida dispensou a testemunha. Antes, porém, a Polícia Militar chegou a ficar de prontidão já que defesa e acusação estavam alteradíssimos.

Representante do Ministério Público (Foto: Cristina Esteche/RSN)

JUSTIFICATIVA

Em entrevista, o advogado de defesa disse que o país é livre e que houve cerceamento da defesa em mostrar imagens de dentro do edifício. Ele também considerou a atitude intolerável dentro do Estado Democrático de Direito.

Os advogados de defesa da família Spitzner lamentaram a atitude. O promotor Pedro Henrique Brazão Papaiz também lamentou o abandono. Dessa forma, ele citou o sofrimento da família e amigos de Tatiane. “Está sendo sofrido essa espera, já que ele seria [finalmente] condenado pelo Tribunal do Júri. A defesa técnica buscou um pretexto, já que solicitou adiamento ontem (9)“.

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Cristina Esteche

Jornalista

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