O trabalho realizado pela Receita Federal em apreender produtos em situação ilegal está se transformando em uma forma especial de fomento a pesquisas nas universidades estaduais. A parceria entre o órgão e as instituições de ensino superior estão possibilitando a produção de artigos como álcool em gel e até biocombustíveis.
A Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) doou, em maio deste ano, cerca de uma tonelada de álcool em gel à Secretaria de Educação de Guarapuava. O álcool foi produzido pela Unicentro para dar uma finalidade ecológica e socialmente correta às bebidas alcoólicas aprendidas pela Receita Federal em Ponta Grossa e doadas à instituição. O rendimento é grande, cada mil litros de bebida alcoólica geram 200 litros de etanol.
O material foi distribuído nas 43 escolas municipais, 14 centros municipais de Educação Infantil (Cmeis) e três escolas de Educação de Jovens e Adultos (EJAs). Aproximadamente 17 mil alunos foram beneficiados pela iniciativa. A secretária de Educação, Sandra Zanette, explica que a ação reflete na saúde dos alunos. “O uso do álcool em gel proporcionará que as crianças criem o hábito de higienizar as mãos e isso fará com que elas se previnam contra várias doenças”, comenta.
O delegado da Receita Federal de Ponta Grossa, Gustavo Horn, conta que o primeiro lote doado à instituição foi de 40 mil litros. Segundo ele, a apreensão das bebidas, além de ajudar nas pesquisas da Unicentro, também beneficia a economia local. “Algumas destas bebidas apreendidas são impróprias para o consumo. Ao retirar esta mercadoria acabamos fortalecendo o comerciante legalmente estabelecido e protegendo a população de receber algo de qualidade duvidosa”, justifica.
O delegado ainda ressalta o fator ecológico da destinação das embalagens dos produtos. “As embalagens plásticas e as garrafas de vidro são enviadas para cooperativas de reciclagem. A destinação é ecologicamente correta. Este projeto livra a Receita Federal de um custo com a destruição da bebida e toda a sociedade do custo ecológico que isto representa. É um material que acabava indo para os rios, e o sólido, como vidro e plástico, para o meio ambiente”, observa.
Além do álcool em gel, o líquido, separado do álcool, tem açúcar e nutrientes que propiciam a adubação das lavouras de tomate, feijão e batata-doce.
BIOCOMBUSTÍVEL
Já a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) utiliza grãos de soja apreendidos pela Receita Federal para produzir biocombustíveis. O processo, realizado pelos alunos de Engenharia Agrícola e pós-graduandos em Energia da Agricultura, é feito a partir da queima dos grãos, que os transforma em óleo ou farinha.
Da semente de soja se extrai o óleo, que, separado da glicerina, se transforma em um biocombustível capaz de substituir o diesel, podendo ser utilizado em automóveis. A universidade também se beneficia diretamente com o produto, já que o utiliza para manter o motor da piscina térmica da instituição, na qual são realizadas aulas do curso de Fisioterapia. Já a farinha é distribuída para criadores de bovinos da região, que a recebe em troca de produtos como leite e carne.
Além das doações da Receita Federal, o professor responsável pela pesquisa, Reginaldo Ferreira Santos, ressalta que a comunidade em geral também pode colaborar doando qualquer quantia de óleo de cozinha. O professor ainda garante que as pesquisas devem continuar no próximo ano.
CIGARRO
A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) também desenvolve um projeto de pesquisa em parceria com a Receita Federal da Delegacia de Ponta Grossa. Desde 2012, a UEPG dá destinação correta ao grande volume de cigarros contrabandeados do Paraguai apreendido pela Receita. Já usou mais de 500 mil cigarros em suas pesquisas de mestrado.
Os resultados mostraram que o tabaco do cigarro pode se transformar em fertilizante orgânico. Além disso, o grupo de pesquisa, coordenado pelo professor Sandro Xavier de Campos, também estuda a possibilidade de utilizar o filtro dos cigarros em sistemas de reuso de águas. Para 2014, o objetivo da pesquisa é fazer compostagem, utilizando cigarro, serragem e resíduos orgânicos.