22/08/2023


Jovens modificam o corpo para serem do jeito que eles bem entendem

Para alguns jovens, tatuagem e piercing já são coisas tidas como normais e a onda agora é a modificação corporal extrema

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As tatuagens cobrem todo o rosto e braços de Bruno Siqueira (Foto: Divulgação)

Os olhos pretos, duas saliências na testa e muitas tatuagens espalhadas pelos braços chamam a atenção. Se ele abre a boca e deixa à mostra a língua, vê-se dividida em duas partes. Essa é a aparência do jovem Bruno Siqueira de 25 anos. Tatuador profissional, ele compartilha o estúdio Pyramed Black com outros dois jovens. Rafael Campos, também de 25 anos, e Marcelo Marcondes de 20 anos.

Para quem olha para eles, se for fora dessa tribo – e a maioria é – vai achar uma coisa estranha. Até certo ponto, bizarra. Entretanto, trata-se de um comportamento que remonta a antiguidade. E em tempos atuais ainda é preservado em várias culturas. Surgem em tribos indígenas, entre membros de certas religiões da Índia e, também, em diversos lugares do Oriente. Na África, ainda é possível ter a circuncisão feminina, escoriação facial e argolas de metal no pescoço.

Mas o que leva esses jovens de Guarapuava a passar pela modificação corporal? Simplesmente porque eles querem ser do jeito que eles bem entenderem. “Eu gosto, me sinto bem. Traduz o meu estilo de vida”. De acordo com Bruno, o começo foi uma tatuagem na coxa aos 14 anos. “Eu sempre quis ser tatuador e como não tinha cliente comecei a fazer em mim. Fui buscando conhecimento e quanto mais me aprofundava mais tomava gosto”.

Bruno Siqueira: “Estilo de vida” (Foto: Daiana Felchak/RSN)

Conforme o tatuador, aos 15 anos ele tatuou uma âncora no rosto. Não pelo significado, mas pela estética. Todavia, aos 16 anos ele ‘mergulhou’ no mundo da modificação corporal mais extrema. E aí o branco do olho se tornou preto, a língua foi bifurcada, o braço esquerdo e uma das mãos ganharam vários implantes. E para completar o visual, na testa, duas saliências remetem a chifres. “Pra mim não são chifres, mas modificações”.

PACATO CIDADÃO

“A sensação é única, é libertadora” – Bruno Siqueira (Foto: Arquivo pessoal)

Ao contrário do que se pensa quando o preconceito vem à frente e se julga pela aparência, Bruno é um pacato cidadão. “As pessoas olham pra mim e pensam que sou vida louca. Mas não bebo e não fumo. Sou uma pessoa do bem”. E por falar nisso, ele diz que sempre é hostilizado. “As pessoas levam muito pelo lado da religião. Assim há quem me pergunte se faço parte de alguma seita. De algo relacionado com o mal”.

Pai de uma menina de seis anos, conforme Bruno, ele diz que a criança o vê com naturalidade. “O ‘diferente’ incomoda quem está fora do nosso mundo”. E se você pensa que esse tipo de comportamento tem limite, está enganado. De acordo com Bruno, há a prática de suspensão corporal,  um hobby para quem curte o mundo da modificação corporal. Com ganchos ou preso por piercings bem aplicados, a pessoa é suspensa no ar sendo sustentada pela própria pele. Bruno já ficou suspenso na estação do metrô em São Paulo. E garante: “a sensação é única, é libertadora”.

PIERCING E CANINOS AFIADOS

Conforme Bruno, “o ‘diferente’ incomoda quem está fora do nosso mundo” (Foto: Daiana Felchak/RSN)

As perfurações atraem Rafael Campos. E são os piercings e alargadores que chamam atenção no corpo dele. “Eu descobri essa arte, esse estilo quando fiquei amigo do Bruno”. Conforme ele contou, tudo começou com a tatuagem. Depois ele afiou os dentes caninos. Assim, típico estilo ‘vampiresco’. “Ai modifiquei a língua, coloquei alargador, deixei o olho direito todo preto e tenho escarificações no rosto”. Ou seja, Rafael criou cicatrizes cortando várias partes do rosto”.

APRENDEU EM COURO DE PORCO

Rafael Campos de rosa e Marcelo Marcos à direita vestindo cinza (Foto: Daiana Felchak/RSN)

Embora comunguem do mesmo estilo de vida e trabalhem juntos, há sempre aquele que é mais discreto. Marcelo Marcondes, por exemplo, é o mais ‘acanhado’ dos três. “Eu morava numa cidade pequena [Cândido de Abreu], onde as coisas são difíceis”.

Conforme Marcelo, ele sempre gostou de tatuagens. “Como não tinha acesso a cursos, aprendi vendo vídeos no YouTube. Eu comprava couro de porco no açougue e tatuava ali. Também fiz a minha maquininha”.

No entanto, em busca de ‘mergulhar’ na arte, veio à Guarapuava. “Conheci o Bruno e o Rafael e hoje moro na cidade”. De acordo com Rafael, Marcelo é o “caçula da parada”. Mas, segundo Bruno, ele é o “prodígio” entre os artistas e profissionais do estúdio.

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Cristina Esteche

Jornalista

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