22/08/2023

Padres colecionadores fazem roncar o motor da fé em encontro inusitado

Em Guarapuava, Encontro de Carros Antigos reuniu bispos e padres, colecionadores de carros antigos que serviram à evangelização

(Foto: Maurício Toczek/Diopuava)

Longe dos altares e das obrigações pastorais, um grupo de padres do Paraná revelou uma face inusitada e cheia de charme: a paixão por carros clássicos. Guarapuava sediou o  1º Encontro do Clube Eclesiástico de Carros Antigos (CECA), transformando o ronco dos motores em trilha sonora da fraternidade sacerdotal. O evento ocorreu na terça (20) e na quarta (21).

A iniciativa, nascida de um bate-papo descontraído entre o padre Valdecir Badzinski, secretário executivo do Regional Sul 2 da CNBB, e o bispo auxiliar de Curitiba, Dom Adenis Roberto de Oliveira, provou que o hobby une o sagrado ao saudosista.

Padre Valdecir badzinski (Foto: redes sociais)

De acordo com o padre Valdecir Badzinski, o clube é interessante para proporcionar uma oportunidade ímpar a conectar padres apaixonados por carros antigos e pela Igreja. Já o bispo Dom Adenis brincou: “Conversando com o padre Valdecir, ele também tinha um carro antigo, eu com um antigo, daí começamos a conversar”.  Conforme o Bispo, ambos lembraram que vários padres tinham carros antigos e decidiram  promover o encontro.

É uma ideia inusitada, mas nem tanto, porque os padres também são gente, de carne e osso, e temos gostos semelhantes com muitos.

O encontro reuniu 11 veículos. São verdadeiras  relíquias que incluem Fuscas, Kombis, Veraneios, Gol, Corcel II, Fiesta e uma robusta Pick-up F75 amarela. Vieram de várias dioceses como Foz do Iguaçu, Toledo, Paranavaí e Curitiba. Mais do que coleções, os carros carregam a memória da evangelização no Paraná.

Conforme padre Valdecir Badzinski há uma bagagem com significado histórico nesses veículos.

Carros estes que recordam as marcas históricas da evangelização da sociedade paranaense, desde a capital até as barrancas e penhascos dos rios.

JORNALISTA RELATA EXPERIÊNCIAS

Dom Adenis com o Fusca 1986 (Foto: Maurício Toczek /Diopuava)

A viagem de chegada já foi uma aventura à parte, digna de road movie, com o comboio trafegando em ritmo tranquilo e fraterno. Em entrevistas concedidas ao jornalista Jorge Teles, da Diocese de Guarapuava, padres compartilharam a experiência.

De acordo com o padre Valdeni Costa de Jesus, ele viajou quase 400 km a bordo do Fusca 1985, carinhosamente apelidado de Esmeraldo. “Foi minha primeira grande viagem com ele”. Ele saiu de Foz do Iguaçu.

De Toledo, o padre Mauro Cassimiro veio dirigindo uma Kombi, um “investimento” que proporciona a participação nos encontros. “Sobre a vinda de Toledo à Guarapuava graças a Deus viemos muito bem, eu vim de Kombi e vieram mais dois padres com Fuscas. Viagem muito tranquila.”

Já o padre Carlos Luiz Bacheladenski, de Curitiba, conduziu o Gol 1993, um carro de família herdado do pai.

Meu carro é um carro de família, do meu pai, e quando ele foi se desfazer ele doou para mim… Saímos de Curitiba bem de manhã, o tempo nos ajudou a fazer uma ótima viagem e chegamos, sempre contemplando a paisagem do caminho, um trânsito tranquilo além da fraternidade com os padres que seguimos de lá na comitiva.

Padre André Bienarski, também de Curitiba, conduzindo um Fiesta ano 2000. “Comprei no ano 2000, ano em que foi fabricado, portanto, está com 25 anos… ele fez muitas viagens e me ajudou muito na experiência da vida.”

Foto: Maurício Toczek/Diopuava)

Dom Adenis compartilhou as peripécias do Fusca 1986, que precisou de uma reconstrução de motor logo após a compra em Minas Gerais. Sobre a viagem a Guarapuava, ele garantiu: “Viemos em comboio, cinco carros antigos, todos juntos, devagar, respeitando as leis de trânsito”.

Até Dom Antônio Wagner da Silva, bispo emérito de Guarapuava, mergulhou na nostalgia, lembrando com alegria da época do seminário: “Nossa alegria no tempo de seminário era uma Veraneio verde oliva que nós usamos durante muito tempo, enquanto a gasolina era mais barata [risos]… Um carro excepcional para todos os trabalhos, para todas as viagens.

A gente tinha um ‘pé de boi’ que era realmente útil e era realmente um carro especialíssimo… A Veraneio, um fusca, um fuscão e estava feita a vida.

Religiosos curtem memórias afetivas (Foto: Maurício Toczek/Diopuava)

REVISÃO DO CORAÇÃO

De acordo com os organizadores, o encontro surgiu como um respiro na vida sacerdotal. Padre Valdecir explicou que, assim como os motores antigos necessitam de manutenção, os padres precisam de momentos de lazer e amizade para “revisar e fortalecer o coração”. Por fim, o cheiro de gasolina e o brilho das latarias celebraram a beleza da simplicidade, da amizade e da fé que se renova, mesmo nas curvas do caminho.

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Cristina Esteche

Jornalista

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