Quando junho chega, ele vem com cheiro de pinhão, som de sanfona e promessa de coração aquecido. E no meio de bandeirinhas coloridas, quadrilhas e noites frias, um certo santo rouba a cena: Santo Antônio, o famoso casamenteiro. Padroeiro dos amores possíveis (e também dos improváveis), ele é invocado por gerações inteiras que acreditam, ou pelo menos torcem, para que o coração encontre morada.
Não é à toa que as simpatias de Santo Antônio resistem ao tempo. Algumas são quase folclóricas, outras carregam um fundo de fé, mas todas têm algo em comum: a vontade sincera de amar e ser amado. Porque, vamos combinar, por trás da brincadeira, sempre existe um desejo genuíno de dividir a vida com alguém.
Eu e minha primas já fizemos muitas simpatias pra Santo Antonio. Não casamos com nenhum, mas nunca saímos de uma festa sem namorado.
Assim como Janete de Oliveira, 58 anos, que mora numa das casas do Residencial 2000, em Guarapuava, Lucimar Andrade, 67 anos, do Bairro Santana também conta.
A gente morava no interior do Turvo. Levantava cedo pra ajudar os homens que se chamavam Antonioa levantar a bandeira do Santo.
Enquanto as mulheres faziam broa de milho, cozinhavam milho verde e pinhão, bolo de fubá, quirera com carne de porco, os homens cortavam lenha e levantavam a fogueira.
Os parentes iam chegando com violão e sanfona. E ainda sobrava tempo pra fazer simpatias.
Entre as mais tradicionais, está a clássica de colocar a imagem do santo de cabeça para baixo dentro de um copo com água. Trata-se de uma chantagem sutil, mas respeitada:
Santo Antônio, só te viro de volta quando trouxer um par.
Há também quem coloque nomes em papeizinhos debaixo do travesseiro e, ao amanhecer, puxe aquele que supostamente revelará o futuro amor. E tem quem vá além: aliança no copo com água, pão de Santo Antônio guardado no armário para atrair fartura (e romance), orações com vela branca acesa e pedidos silenciosos na hora de dormir. Matheus, por exemplo, veio de Brasília para ser padrinho de casamento e pegou o ‘buquê’ da noiva. Era um Santo Antonio.
Cada simpatia tem seu charme, seu enredo e, para muitos, sua eficácia. E mesmo os mais céticos, vez ou outra, se rendem à curiosidade. Afinal, quem nunca quis saber o nome do futuro amor ou sentir aquele frio na barriga de uma paixão anunciada?
A verdade é que Santo Antônio, mais do que um santo de altar, virou símbolo de esperança afetiva. Ele nos lembra que, apesar das desilusões, ainda vale sonhar com encontros bonitos, daqueles que acontecem no compasso da festa junina. Ou seja: com fogueira acesa, riso fácil, mãos dadas e olhos que brilham mais que as bandeirinhas no céu.
Se é fé, tradição ou pura vontade de amar, não importa. Em junho, o coração bate mais forte. E Santo Antônio sorri, lá do alto, ouvindo pedidos apressados e promessas feitas entre uma simpatia e outra. Porque quando o amor é convocado com alegria, até os santos conspiram a favor.
E aí, já fez a sua simpatia este ano? Vai que dá?
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