Neste Dia das Mães, deixamos o assunto para quem entende. A pedido do Portal RSN, três jornalistas de Guarapuava relataram, em crônicas, como foi – e continua sendo – a experiência da maternidade. Conheçam, abaixo, parte das histórias de Ariane Pereira, Francielli Zanini Carniel e Sabrina Ferrari.
Se valeu a pena? Com certeza? – Por Ariane Pereira
Qual é o lugar da mulher? Que assuntos dizem respeito à mulher? Quais atividades são femininas e quais não são?
Lugar de mulher é onde ela quiser. Do mesmo modo, que não há nenhum assunto, ocupação ou profissão que sejam exclusivamente masculinos.
Essas convicções sempre me acompanharam. Por isso, nesses meus 40 anos, os julgamentos não me amedrontavam. Almejava, por exemplo, ter uma profissão – o jornalismo –, que me permitiria a independência financeira ao mesmo tempo em que possibilitaria minha atuação junto à sociedade, lutando pelo fim das injustiças sociais. Sonhava também com a maternidade. Sem dúvida, sempre quis ser mãe.
Desejo que, desde muito cedo, mostrou ter realização distante. Fui apresentada às cólicas menstruais já na menarca. E mês a mês, fluxo a fluxo, elas iam aumentando. Sofrimento que os médicos diziam ser “frescura de mulher”, já que “cólicas são normais e não alteram em nada a rotina”. Imagina se alterassem… eram tão intensas que vinham acompanhadas de vômitos, quedas de pressão e, depois, por desmaios ou convulsões. Todos, ocasionados pela dor. E se manifestavam em qualquer lugar – em casa, na sala de aula, no ponto de ônibus.
Sete anos se passaram entre o primeiro fluxo e o diagnóstico: endometriose. Útero retrovertido, com adesão nas paredes do intestino. A gravidez não era impossível, mas difícil e, como não há cura para a doença, naquele momento, o recomendado era a interrupção do fluxo. A partir daí, mais sete anos de luta contra o próprio corpo, que teimava em querer menstruar, até a videolaparoscopia. “Mais de cem focos de endometriose foram retirados, a outros tantos não tivemos acesso”, contou o médico.
No mês seguinte, sangramentos esparsos e frequentes. O exame de sangue apontou positivo para gravidez, mas o índice hormonal era muito baixo. Uma ultrassonografia de emergência mostrou que um aborto era eminente. Na sequência vieram cuidados, cuidados e mais cuidados. E nove meses depois, nascia Gabriel. Meu filho. Aquele que eu sempre sonhei. Hoje, quase doze anos depois, ao lembrar, volto a me emocionar, como me emocionava ao olhar para aquele bebê lindo, que havia nascido de mim e seria minha prioridade e meu companheiro pelos próximos anos. E que companheiro!!!
Dia a dia, construímos uma relação de amor e cumplicidade. Ele era o chicletinho da mamãe e eu não desgrudava dele. Vivi a maternidade integralmente e isso não me fez mais ou menos mulher, mais ou menos independente, mais ou menos profissional. Antes dele nascer, defendi a dissertação do mestrado que estava em andamento quando engravidei. Pouco tempo depois dele completar um ano, participei de um concurso público para professores universitários e fui aprovada. Também fiz o doutorado. Quer dizer, fizemos. Ele sempre esteve ao meu lado, lendo e escrevendo. Os desenhos nos meus livros de estudo são prova disso. Ele foi quem mais comemorou quando entreguei a tese. “Agora, a mamãe é só minha”, dizia.
Os anos passaram. Ele cresceu, e não só em estatura. Às vezes, sua maturidade me assusta. Ao olhar para trás e lembrar, as lágrimas são inevitáveis. Elas mesclam saudade, amor, dedicação e principalmente a certeza de que valeu a pena! Ser mãe me transformou como ser humano. Pelos olhos do meu filho, vi minha humanidade e busquei ser melhor.
Por Francielli Zanini Carniel
Ser mãe. Como busquei esse título e a realização deste grande sonho! Foram seis anos de lutas até conseguir saciar um desejo que ardia no meu peito. Foram muitos exames, viagens, medicamentos, e um misto de alegria e insegurança que invadia meu coração. Só quem sofre com infertilidade sabe o quão angustiante é esta caminhada.
Mas, após uma fertilização in vitro, o Davi foi concebido e veio ao mundo para encher a nossa casa e nosso coração de amor. Confesso, não imaginava ser uma tarefa tão árdua e que viveria o famoso baby blues. Mas de repente você se dá conta que tudo que achou que sabia cai por terra, e a insegurança invade seu peito e todo seu ser.
Porém, tudo passa. As dúvidas sobre se você está acertando ou errando fazem parte do dia a dia. E a alegria que enche o seu lar é inquestionavelmente maior que todas as crises.
Ser mãe é algo divino, encantador, maravilhoso. Temos a responsabilidade de criar, ensinar, instruir, proteger e amar incondicionalmente.
Por isso, meu desejo a todas as mamães que estão na luta pela maternidade é que não desistam e sigam firmes na caminhada. Que Deus abençoe a todas para que um dia possam concretizar este lindo sonho.
Feliz Dia das Mães!
Um abraço a dor e ao amor – Por Sabrina Ferrari
Já dizia a avó do Francisco: “mãe é mãe”.
Certo dia uma amiga perguntou como é ser mãe. Sorri, disse que é tudo tranquilo, o famoso mar de rosas. Fui surpreendida com um rosto expressando dúvidas sobre o que acabava de ouvir. Ela indagou “sinceramente?” e eu entendi que aquela pessoa, realmente, queria falar sobre maternidade. É impossível dar conta de todos os afazeres do dia e ao final dele descansar. Você precisa encontrar as prioridades de cada momento. Só não caia naquele clichê de que mãe perde a vida, pelo contrário, ela encontra motivos para fazer as coisas darem certo.
Ter um filho aos 20, no meio da faculdade, morando sozinha, sem estabilidade financeira não é fácil, nem precisa ser. Todas as segundas quando o deixo com a avó para passar a semana longe, entendo que independente das dificuldades a vida segue e precisa ser seguida. Não dá para olhar para trás e pensar no que poderia ser feito se fosse diferente, afinal, não quero me lembrar dos dias deploráveis após o parto. Toda mulher que decide ser mãe deve me entender. A vontade de levantar da cama não existe, pentear o cabelo? Jamais. Será que as visitas vão achar ruim me encontrar de pijama? Comer? Eu lá vou fazer comida, vou optar por um prato de sopa mesmo.
Mas as semanas ruins existem para todos, e tenho certeza que cada dia ao me deitar só posso agradecer pela boa companhia que a vida me deu. Brigar com todos ao redor, chorar, ver meu próprio desequilíbrio emocional e esperar ansiosamente que as horas passem se tornou uma rotina. Tudo para que nas sextas eu possa voltar ao meu lar e encontrar um quarto cheio de amor em um coração pequeninho. Tem dias que é frustrante, desesperador, vazio. Em outros a felicidade fica visível, mas isso quando ele está lá, ele sempre tem que estar lá.