22/08/2023


Brasil Cotidiano

O ‘dia da mulher’ deveria ser todos os dias

O Dia das Mulheres não pode ser reduzido a um modelo hierárquico de uma sociedade de indiferença. Assim como, não deve ser reflexo de intolerância

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Marcha das mulheres na Rússia em 1917

Na Rússia, em 1917, mulheres foram às ruas contra a fome e a guerra (Foto: Reprodução/Getty Images)

Este domingo (8) é marcado pelas comemorações do Dia Internacional da Mulher. De acordo com a história, a ideia de uma celebração anual surgiu depois que o Partido Socialista da América organizou um Dia da Mulher, em 20 de fevereiro de 1909, em Nova York . De acordo com informações que circulam pela internet, o movimento se tratava de uma jornada de manifestação pela igualdade de direitos civis e em favor do voto feminino.

Um ano depois, foi sugerido por Clara Zetkin em uma Conferência de Mulheres da Internacional Socialista, em Copenhague, que o Dia da Mulher passasse a ser celebrado todos os anos com uma data específica definida. Assim, a partir de 1913, as mulheres russas passaram a celebrar a data com manifestações no último domingo de fevereiro. Em 8 de março de 1917 houve uma grande passeata de mulheres na Rússia, em protesto contra a carestia, o desemprego e a deterioração geral das condições de vida no país.

Protestos das sufragistas pelo direito de votar nos Estados Unidos em 1913

Em 1913, as mulheres já protestavam pelo direito de votar nos Estados Unidos (Foto: Reprodução/Getty Images)

Além disso, operários metalúrgicos acabaram se juntando à manifestação, que se estendeu por dias e acabou por precipitar a Revolução de 1917. Nos anos seguintes, Dia da Mulher passou a ser comemorado naquela mesma data, pelo movimento socialista, na Rússia e em países do bloco soviético. No entanto, a data ficou estabelecida somente no ano de 1975, quando a ONU intitulou de Ano Internacional da Mulher para lembrar suas conquistas políticas e sociais.

OUTRA VERSÃO – O INCÊNDIO

O dia 25 de março de 1911 era um sábado, trabalhadores estavam na Triangle Shirtwaist Company quando começou um grande incêndio. A indústria ficava na rua Greene com a Washington Place em Nova York. A fábrica ocupava os três últimos de um prédio de dez andares. Além disso, o chão e as divisórias eram de madeira, havia grande quantidade de tecidos e retalhos, e a instalação elétrica era precária. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Tudo contribuía para que o fogo se propagasse rapidamente.

De acordo com estudos científicos publicados na Revista de Estudos Femininos, a fábrica empregava 600 trabalhadores e trabalhadoras, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, jovens de 13 a 23 anos. Morreram 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.

A comoção foi imensa. No dia 5 de abril houve um grande funeral coletivo que se transformou numa demonstração trabalhadora. Apesar da chuva, cerca de 100 mil pessoas acompanharam o enterro. Assim, em homenagem as mulheres que morreram neste incidente, ficou instituído o dia da mulher.

Vítimas do incêndio na Triangle. Imagem: Franklin Delano Roosevelt Library.

(Foto: Franklin Delano Roosevelt Library)

DIA DELAS

Neste dia, as ruas das principais cidades do Brasil recebem protestos por igualdade salarial. Além disso, há debates contra a criminalização do aborto e a violência contra mulher.

De que serve termos um dia internacional em nossa homenagem, se diariamente nossas mulheres são diminuídas e violentadas fisicamente, psicologicamente e sexualmente? Quantas Tatianes, Camilas, Francielys, Carols, Rosanes e tantas outras, não poderão erguer a voz neste domingo (8) em busca de reconhecimento, respeito e igualdade.

O Dia das Mulheres não pode ser reduzido a um modelo hierárquico de uma sociedade de indiferença. Assim como, não deve ser reflexo de intolerância. Que o dia, repleto de atividades destinadas à elas, sirva para trazer a tona uma reflexão profunda. Qual a origem da violência? Melhor que isso, quais são as pequenas ações [violentas], diárias que as mulheres ao nosso redor enfrentam de maneira tão, eu diria, natural?

Que possamos criar mulheres fortes, e não perfeitas. Feliz dia para nós, mulheres!

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Cristina Esteche

Jornalista

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