A luta contra o suicídio não é um processo fácil. É um tema pesado, mas que precisa ser debatido e merece cada vez mais atenção na sociedade em que vivemos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, alguém atenta contra a própria vida. E em tempos de isolamento social contra o coronavírus, a ansiedade aumenta.
E entre outros fatores, pode desencadear depressão. Por isso, e contra esse mal, pode não podemos nos distanciar de um assunto tão sério. Nem mesmo durante a pandemia.
Constantemente eu pensava em acabar com a minha vida. Eu queria terminar com a minha dor. Até que chegou o ponto em que eu realmente tentei e felizmente, sobrevivi.
Esse é o relato de Taynara Bandeira Costa de 20 anos, que sobreviveu ao atentar contra a própria vida. Assim, Taynara conta ao Portal RSN, que se descobriu doente ao passar por essa situação no começo desse ano, em que ela desapareceu e foi procurada pela família. Após, a professora de inglês procurou tratamento especializado, que constatou transtorno borderline e bipolaridade.
Taynara conta que ela sabe dos gatilhos e se observa. De acordo com ela, nesses casos, o autoconhecimento é muito importante. “Eu cuido muito de mim, pois é muito gratificante sobreviver. Eu fico muito feliz porque apesar de ter tido momentos difíceis, eu consegui dar a volta por cima. E no outro dia, estar orgulhosa de mim mesma”.
Existem diversas maneiras de lidar com a dor. E o caminho da cura não é um processo simples. O tratamento psiquiátrico e psicológico, andam de mãos dadas. Além disso, aumentam o autoconhecimento e fazem com a pessoa se sinta mais segura. Segundo Taynara, o cotidiano mudou depois do ocorrido.
Ter uma vida normal está sendo incrível e desafiador. Claro que nem sempre estou bem, mas estou aprendendo a lidar com situações que ainda me incomodam.
AUMENTO DE REGISTROS
Conforme a OMS, o número de ocorrências envolvendo suicídio aumentou drasticamente no Brasil. Para se ter uma ideia, em 1996 ocorreram 77 mortes relacionadas à transtornos do humor no país. Dessas, 11 pessoas eram do Paraná. Porém 21 anos depois, em 2017, os números dispararam, de acordo com a OMS. Assim, o órgão registrou 602 mortes, das quais 50 ocorreram no Paraná.
Outro dado que chamou a atenção é que em 21 anos, 7.572 pessoas morreram em decorrência de transtornos do humor no país. A média de mortos por ano chegou a 361. Só no Paraná, foram 724 mortes de 1996 a 2017, com média de 35 mortes.
SINAIS DE ALERTA
Os sinais nem sempre são claros. Conforme informações do Ministério da Saúde, não existe uma receita pronta para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida. Ou, se tem algum tipo de tendência suicida. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos. Especialmente, se todos ao mesmo tempo.
Um deles é a preocupação com sua própria morte ou falta de esperança. As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro.
Segundo o psicólogo Silvio Ortiz, o suicídio na maioria dos casos está ligado a algum tipo de transtorno mental. Como depressão, transtorno de humor, e também na sequencia abuso de substâncias. É preciso prestar atenção nos comportamentos, se a pessoa está muito depressiva, já é preciso acender o estado de alerta. Outro sinal é o isolamento e falas desesperançosas. “Ah, nunca nada dá certo para mim”, “Eu não estou aguentando mais”, “Eu acho que as coisas não tem jeito”, entre outras. Principalmente no aspecto de desesperança.”
É um mito achar que quem fala não faz. Tem gente que nunca falou e fez. E outras que falam, e fazem. Então, é totalmente relativo. Muitas vezes, a pessoa não procura ajuda por achar que está incomodando. Ele tem a falsa concepção de que por ele estar mal, ele incomoda muito os outros.
COMO AJUDAR
A primeira coisa a se fazer é tratar. O nosso instinto é de preservar nossa vida, lutar para sobreviver. Conforme Sílvio, essas pessoas estão tão doentes que estão indo no sentido contrário à sobrevivência.
Imagine o sofrimento e a dor que elas devem ter para que seja considere, em um mundo de pessoas querem manter a vida, ela tentando a abrir mão da dela. A primeira coisa a se fazer é trabalhar o diálogo e saber escutar. Se você não sabe exatamente o que falar, é melhor ouvir.
Além disso, conforme o psicólogo, é possível dar suporte, com soluções simplistas como: “Você tem que se ajudar.”, “Você precisa sair dessa cama.”, “Você tem que ocupar a cabeça.”, acabam fazendo que com a pessoa se sinta mais frustrada, culpada e infeliz. Parece que todos tem a cura, mas ela. Dessa maneira, a pessoa se sente incompreendida. Pois, se fosse tão simples, não existiriam deprimidos.”
Também existe um mito que ao falar sobre suicídio, a pessoa pode se tentar a fazer. Segundo o psicólogo, é exatamente ao contrário. “Ao perguntar, e permitir que a pessoa se abra, sem julgamentos. O fato dela falar que ela está pensando em morrer, pode causar um alívio nela. Então, se a pessoa se sente preparada para fazer essa escuta, não precisa ter medo de perguntar, pois isso pode ajudar. A pessoa se sente aliviada, e compreendida, por não ter julgamentos e críticas.”
PREVENÇÃO
A atenção à saúde mental é a maior forma de prevenção. Um dos exemplos é não conseguir sair de casa. É normal ter momentos difíceis, mas se eles durarem muito é preciso ficar atento. Aos sintomas persistindo, como desânimo, alterações no humor, e entre outros. A procura do especialista é essencial. Psicólogos e psiquiatras andam de mão dadas no quesito tratamento.
Às vezes as pessoas não vão até os especialistas. O especialista conhece a variedade de medicamentos, e vai saber indicar o melhor. E claro, a terapia que tem diversas linhas e vai de cada um ter uma certa sintonia entre a pessoa e o profissional.
É importante lembrar que as Unidades Básicas de Saúde (UBS), também atendem pacientes com sintomas de transtornos mentais e encaminham para um especialista.
CANAIS DE AJUDA
Com a chegada do Setembro Amarelo, muitas pessoas se prontificam a estar disponíveis nas redes sociais para as outras, em caso de crises. Apesar, da atitude ser boa, nem sempre é o melhor caminho. A ajuda médica e o amparo de profissionais qualificados, é sempre a melhor opção. Canais de ajuda podem ser uma boa alternativa para quem está sozinho e precisa de atendimento rápido.
Como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende voluntariamente e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24h, todos os dias. O número é o 188 e também é possível acessar o site para chat.
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(*Com informações do Bem Paraná)