22/08/2023
Segurança

Mais uma face da violência doméstica

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Na Palmeirinha, distrito de Guarapuava, uma mulher foi morta a facadas pelo companheiro e os próprios moradores da região tentaram linchar o agressor. A família desabafa e faz um apelo sobre a importância da denúncia

Maria Elizabeth Rufino Legowski, Laurete Aparecida Roessler Miranda, Luciana Aparecida Neves e Elizabeth Eurich fazem parte do registro de mulheres que perderam a vida vítimas de violência em Guarapuava. E o que é pior, também engrossam as estatísticas que apontam o companheiro como agressor.
No último sábado (28), o caso de violência doméstica que resultou na morte de Maria Elizabeth Rufino Legowski, 46 anos, chocou os moradores do distrito da Palmeirinha, onde ela e João José Caetano Neto, 47 anos, viviam maritalmente. Segundo informações da Polícia Civil, que investiga o caso, os dois tinham brigado antes do almoço e o filho de Maria Elizabeth, que morava com o casal, teria acalmado a discussão. Em seguida, o filho saiu de casa e cerca de 15 minutos depois foi chamado novamente. Ele estava em um bar da localidade e voltou para a casa da família. Lá, encontrou a mãe já morta com aparentemente três perfurações de faca nas costas. A polícia foi acionada e ele foi preso no final da tarde. Antes disso, João José Caetano Neto quase foi linchado pela população. Em depoimento, ele nega a autoria do crime. Os investigadores, agora, apuram a possibilidade de agressões anteriores. “Temos informações de que a Polícia Militar já teria sido acionada antes”, revela a delegada chefe da 14ª SDP, Maritza Haisi.
Ao contrário de Maria Elizabeth, conhecida pelos moradores da Palmeirinha como Nuna, que preferiu suportar calada o sofrimento ao longo dos quatros anos de convivência, a família espera que a impunidade não vença neste caso. “Ele já tinha agredido ela várias vezes, essa não foi a primeira. Ela sempre foi caixa de pancada, por isso não consigo entender porque ela aceitou tudo isso, que tipo de amor louco é esse?”, desabafa um dos familiares, que prefere não se identificar. Segundo ele, João José Caetano Neto já o tinha ameaçado de morte. “A covardia que ele fez dentro da nossa família não tem tamanho. Agora, a nossa preocupação é que isso não fique impune”, ressalta.
“Ela era viúva e ganhava pensão de R$ 1.600, um salário bom, e nunca ficava com o dinheiro. O seu filho mais novo (nove anos) sequer tinha roupa e material para ir na escola, eu tive que comprar para ele”, fala.
Um dos filhos do primeiro casamento, Jociel Legowski, chegou em Guarapuava no dia do velório da mãe. Ele mora em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e também comenta que o relacionamento sempre foi conflituoso e movido pelo dinheiro. “Ele não trabalhava e ficava com o cartão dela. Era ele quem controlava o dinheiro. Ela sempre foi uma pessoa muito boa, antigamente quando a gente tinha dificuldade financeira ela fazia as compras de mercado, teve uma época que chegou a ajudar cinco famílias. Mas o João tinha ciúmes de todos e fazia de tudo para afastar a nossa mãe da família”, aponta.
A filha da vítima, Patrícia Aparecida Legowski, conta que uma vez, quando o casal ainda morava no Guará, foi até lá e viu sua mãe apanhando de chicote de couro de boi trançado. “Ele sempre fazia isso com ela e quando nós tentávamos defendê-la, ela acabava ficando do lado dele, mesmo sofrendo. Ela tinha medo porque ele frequentemente a ameaçava. Um dia minha mãe falou que preferia morrer do que ver seus filhos morrerem, pois ele sempre ameaçava meus irmãos, e se isso acontecesse iria ficar com remorso”, observa.
De acordo com Patrícia, João costumava beber e também fazia com que sua mãe ingerisse bebida alcoólica. “Minha mãe contou para uma amiga dela que tinha noites que ele a embriagava para poder abusar dela a madrugada inteira”.
Os irmãos acreditam que a morte foi planejada, pois no dia do crime ele fez de tudo para que o irmão mais novo, de nove anos, fosse até a casa. “A sorte é que eu não deixei ele ir, pois o nosso irmão também já foi vítima da violência. Ele insistiu muito para que levássemos ele lá, por isso acredito que a intenção dele era matá-lo junto com a nossa mãe”, conclui Patrícia. Segundo ela, antes de dar as facadas, ele bateu em Maria Elizabeth com uma panela. “Ele deu com um tacho de ferro bem grande na cabeça dela, eu acho que nessa hora ela já deve ter morrido. Depois de fazer limpeza na casa, jogamos o tacho na fossa”. O laudo do Instituto Médico Legal apontou hemorragia interna como a causa da morte.
“Eu só quero que as pessoas que passem por uma situação dessas não fiquem caladas, que tomem consciência, denunciem e peçam ajuda. Muitas pessoas ouviram os últimos gritos dela e não fizeram nada, com medo de se comprometer com a polícia. Eu peço que as pessoas procurem a polícia, pois eles estão aí para nos ajudar. Uma amiga da minha mãe tentou ajudar, mas ele também a ameaçou e correu atrás dela com um espeto. Eu nunca achei que isso iria acontecer comigo, sempre via pela televisão casos de extrema violência assim, mas a gente sempre pensa que não faz parte da nossa realidade.
De sábado para domingo eu achava que estava vivendo um pesadelo”, desabafa Patrícia, comovida.
Na foto: A vítima com a filha Patricia Legowski

Cristina Esteche

Jornalista

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