22/08/2023
Saúde

Compartilhar chimarrão transmite doenças, alerta médico cubano

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Por Cristina Esteche

Tomar chimarrão, um hábito repassado de geração em geração e que é cultural em Guarapuava, quer seja na cidade e no interior, é uma das causas do alto índice de contágio de doenças. O alerta é feito pelo médico cubano Jorge Felix Batista, que está atendendo na UBS (Unidade Básica de Saúde) na Vila Concórdia.

“Desde que aqui chegamos, eu e meus colegas cubanos, já percebemos que essa cultura está transmitindo vírus e bactérias e que as pessoas não sabem disso”, afirmou à Rede Sul de Notícias. “Muitas vezes uma pessoa com gripe chega numa casa, é recebida com chimarrão e aceita, quando deveria recusar e agradecer, dizendo que está gripada. Mas isso não acontece e o vírus vai se disseminando”.  De acordo com o médico, o ideal é que cada pessoa que tenha esse hábito possua a sua própria cuia e bomba, podendo compartilhar a erva-mate. “Isso é o ideal. Nós trabalhamos com prevenção e temos muito cuidado com isso”.

O secretário municipal de Saúde, Stefan Negrão compartilha da mesma preocupação. “Por ser uma cidade de clima frio as pessoas costumam também ter fogão à lenha, onde se esquentam e saem no vento, na chuva contraindo o vírus da gripe. Depois tomam chimarrão na varanda ou em outro lugar aberto e contagiam as outras pessoas com que estão desfrutando desse costume”, diz o secretário.

Outra causa detectada pelos médicos cubanos é a falta de higiene. “As pessoas não costumam lavar as mãos quando chegam da rua, antes das refeições. Também não cobrem a boca quando vão tossir ou espirrar. Tudo isso contribui para a transmissão de doenças”, diz o médico cubano.

As doenças pulmonares e crônicas também são predominantes nas  unidades de saúde do município. “São doenças que podem ser prevenidas com alguns cuidados. Por isso, estamos conversando muito com as crianças, ensinando a prevenção. Sabemos que é difícil mudar uma cultura, mas é preciso”, observa Batista. Segundo ele, outro hábito que está fragilizando a vida das pessoas é o cigarro. “É muito grande o número de mulheres e de jovens que fumam e que tem problemas respiratórios”, diz. Ainda não existe uma estatística que aponte esses índices em Guarapuava.

ÁGUA QUENTE NÃO IMPEDE TRANSPORTE DE BACTÉRIAS

Ao contrário do que muitos imaginam, a água quente utilizada no chimarrão, não impede que a bomba sirva de meio de transporte para bactérias, mesmo que o bocal seja de ouro, como pregam as gerações mais antigas. A constatação foi feita  por acadêmicos de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. 

 

 “Como a cavidade bucal é acessível à introdução de diferentes tipos de microorganismos, decidimos avaliar o grau de contaminação do bocal das bombas. Além disso, os estudantes de Medicina Veterinária são desafiados a pesquisas relacionadas a problemas de saúde pública”, explica o professor Carlos Augusto Mallmann, que coordenou o estudo.

De acordo com matéria veiculada na Gazeta do Sul, recentemente, foram analisados 24 exemplares desse utensílio que não pode faltar a quem é adepto do chimarrão, bebida típica do Rio Grande Sul, mas que se disseminou nos municípios onde a tradição gaúcha impera, como é o caso de Guarapuava. Todos apresentaram bactérias, independente do material no qual seus bocais haviam sido confeccionados: ferro, prata, ouro ou alpaca. 
  “Os alunos, do 8º semestre, saíram a campo levando tubos de água peptonada. Sempre que encontravam alguém tomando chimarrão, mergulhavam a bomba nesse líquido”, conta Mallmann. As amostras foram divididas em três grupos. No primeiro, a colheita foi feita imediatamente após o último mate. No segundo, antes de o mate ser servido e logo depois do último. No terceiro grupo, antes de a bebida ser servida; após a escaldagem do bocal com água fervida e antes do início do consumo; e após o último chimarrão.
 

Segundo o professor, o material foi encaminhado ao Laboratório de Bacteriologia Veterinária da UFSM, onde foi cultivado por 48 horas  em Placas Petrifilm AE para a contagem de aeróbios. No ato da coleta, três perguntas foram feitas aos usuários: número de pessoas que estavam tomando chimarrão, composição do bocal da bomba e quantidade de litros d’água consumidos. 
 

Os resultados revelaram que, mesmo antes de ser usada, a bomba de chimarrão já apresenta colônias de bactérias. Essa contaminação é ambiental ou de mateadas anteriores. Os índices decrescem após a passagem de água quente, mas a recolonização pode ocorrer devido aos “bichinhos” provenientes da microflora bucal dos usuários. Porém, esse evento ocorre de forma mais lenta quando é feita a escaldagem.
 

Embora o resultado ainda não tenha sido divulgado o importante é saber que há contaminação no bocal de bombas, possibilitando que a população adepta ao chimarrão adquira doenças transmissíveis via oral, já que nem todos os microorganismos morrem pela temperatura da água que é colocada sobre a erva-mate.

 

Cristina Esteche

Jornalista

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