22/08/2023
Segurança

Irmão de ministro da Agricultura é alvo de operação da PF contra fraude

O irmão do ministro da Agricultura, Neri Geller, é um dos alvos da operação Terra Prometida, deflagrada pela Polícia Federal, nesta quinta feira (27). A ação é contra fraudes na concessão de áreas da União destinadas à reforma agrária a produtores rurais e empresários, por meio de títulos emitidos de forma irregular. Policiais federais foram até a casa de Odair Geller, em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá, e apreenderam documentos. Ele não estava na residência no momento.

Como a operação ainda está em andamento e nem todos os 52 mandados de prisão preventiva e os 146 de busca e apreensão haviam sido cumpridos, a PF não pôde informar se os policiais foram até a casa do irmão de Neri Geller para prendê-lo ou para fazer busca e apreensão. O G1 tentou, mas não conseguiu localizar o advogado de Odair Geller até o fechamento desta reportagem.

Na operação, a PF prendeu o ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz. Ele foi levado para a delegacia da Polícia Federal do município. A advogada do ex-prefeito, que o acompanhava no momento da prisão, também não quis se manifestar sobre o assunto.

Estão sendo cumpridos, simultaneamente, mandados de prisão e de busca e apreensão em Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde. Na capital, foi confirmada a prisão de um servidor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), um dos suspeitos de regularizar lotes para beneficiar produtores rurais e empresários.

Em Itanhangá, três pessoas foram presas, entre eles o vice-prefeito da cidade.

As investigações começaram em 2010 e identificaram irregularidades na concessão e manutenção de lotes destinados à reforma agrária. Entre os integrantes da organização criminosa estão oito servidores públicos, conforme a PF. A fraude está avaliada em R$ 1 bilhão.

 A estimativa da PF é de que 80 fazendeiros tenham ocupado cerca de mil lotes da União. Um deles teria obtido 55 lotes e regularizado essas áreas com o apoio de servidores do Incra.

Segundo a PF, a organização atua fortemente nas regiões de Lucas do Rio Verde e Itanhangá, a 360 e 447 km da capital, em crimes de invasão de terras da União e contra o meio ambiente. Fazendeiros, empresários e grupos ligados ao agronegócio usam da influência e poder econômico para aliciar, coagir e ameaçar outros pessoas para obter lotes.

Usavam da força física para invadir terras ou comprar a preço baixo e depois, com o auxílio de servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e servidores das câmeras de vereadores e das prefeituras desses municípios buscavam regularizar a situação do lote. 

Para a manutenção do comércio ilegal de terras da reforma agrária, a quadrilha teria usado documentos falsos, feito vistorias simuladas, fraudado termos de desistência e até mesmo inserido dados falsos no sistema de informações de Projetos de Reforma Agrária do Incra, permitindo que latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.

Confome a PF,  o esquema era operado, basicamente, por pessoas ligadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itanhangá e ao serviço social da prefeitura municipal daquele município, que elaboravam listas com nomes de 'laranjas' que, em nome de fazendeiros, falsificavam 'cartas de desistência' e declaração de aptidão ao Incra.

Depois disso, servidores do Incra faziam  uma vistoria fictícia para comprovar a posse dos 'laranjas', que após cadastrados no sistema do órgão, eram homologados e emitidos na posse. Entretanto, quando o documento do Incra era emitido, o fazendeiro já estava ocupando e produzindo nas parcelas reconcentradas.

Cristina Esteche

Jornalista

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