22/08/2023


Geral

Antonio venceu as drogas

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Taís Nichelle

Quem vê Antonio Carlos Machado trabalhando no Instituto Resgate e Vida, uma entidade empenhada em reabilitar dependentes químicos, não imagina que ele quase perdeu tudo para o vício. Aos 36 anos, ele fala com tranquilidade sobre o passado que viveu, fruto de uma escolha errada. “Quando eu tinha 12 anos de idade eu experimentei maconha. Gostei do efeito e continuei fumando. Por causa do meu comportamento agressivo, eu brigava muito com a minha família, então decidi sair de casa. Morava com parentes e às vezes na rua. Com 15 anos eu experimentei crack e comecei a traficar drogas, foi quando eu perdi completamente o controle da minha vida”, revela Antonio.

Com o dinheiro que ganhava traficando drogas, ele conseguiu comprar uma casa. Na época, ele estava casado. “No começo eu conseguia conciliar o tráfico com o meu vício, mas depois, eu não conseguia mais vender. Tudo que eu tinha eu consumia, me perdi completamente. Minha esposa me abandonou, eu perdi tudo e fui morar na rua. Fui morador de rua durante 3 anos. Revirava lixo para comer”, conta.

As perdas de Antonio não foram apenas materiais. “Perdi muitos amigos para a droga, mais de 15 morreram por causa do vício. Um irmão meu foi decapitado enquanto dormia, dentro da minha casa, por causa de briga com traficante”, desabafa.

Decorrente do uso de drogas, ele começou a ter crises convulsivas. “Eu morava na rua e vivia caindo pelos cantos, tinha muitas convulsões. Em uma dessas crises, me levaram para o hospital, onde fiquei internado por 22 dias. Foi então que minha ficha caiu. Eu percebi que eu não tinha nada, minha família não falava comigo, eu não tinha mais dignidade, não tinha emprego, não tinha saúde. Decidi pedir ajuda”.

No hospital, Antonio foi informado sobre o Instituto Resgate e Vida, abraçou a oportunidade sem pensar duas vezes. “Foi Deus quem me levou até o pessoal do Instituto. Eles me trataram com amor, me estenderam a mão, me deram carinho e acreditaram em mim. Eu pensei: se eles, que nem me conhecem, dizem que me amam, então eu preciso me amar também”. 

Antonio conta que está limpo há 5 anos. “Eu nunca tive recaída. Eu quis mudar, eu sabia que só dependia de mim, pois ajuda eu estava tendo. Eu pensava: fiquei 22 dias sem droga, então consigo ficar só mais hoje. Larguei as más companhias, passei a buscar prazeres nas coisas boas da vida, como conversar com as pessoas, comer, dançar, enfim, passei a me divertir de forma saudável, e assim eu comecei uma guerra com o vício”. 

Guerra que ele saiu vencedor, e hoje luta pela vida de outros pacientes no Instituto Resgate e Vida, onde é funcionário. “Deus me abriu portas, e hoje eu retribuo ajudando outras pessoas. Quero ensinar os outros a se afastarem das drogas, porque a droga é muito boa, não vou mentir.  Ninguém usaria se não fosse, o problema é que ela só leva a dois caminhos: cadeia, ou caixão.” 

E o meio do caminho é muito doloroso, não só para quem está viciado. “O pior é que as consequências não prejudicam só quem usa, a família sofre junto. Eu magoei a minha família. Depois que eu decidi mudar, porque a vida só muda quando a gente decide mudar, entende que só depende da gente, minha mãe voltou a falar comigo. Hoje nós temos uma relação muito boa, agora ela me quer por perto, isso me faz muito feliz”.
 

Cristina Esteche

Jornalista

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