Nosso diagnóstico não é bom. Estamos doentes e nossos sintomas estão cada vez mais explícitos. O que nos atinge ? A impotência. Estamos impotentes e com muita dificuldade em lidar com a crise de representatividade que nos pegou de vez. Está difícil confiar em alguém neste mundo político. Infelizmente não são apenas os políticos que estão impotentes, a peste se espalhou. É bem verdade que não é de hoje que estamos assim, apenas demoramos muito para enxergar. Como bem expressou Kautsky, estamos tendo um amadurecimento de algo que já existia e ainda não era percebido e afinal passou a ser enxergado. Se estamos impotentes no quesito ação, por outro lado, estamos muito mais exigentes em outros aspectos. De economia à política, de educação à religião e também em matéria de esportes, estamos implacáveis.
Estamos mais críticos que os próprios críticos. Nossa tolerância em relação aos atuais governantes já não existe e aquela nuvem de fumaça se dissipou.
Estamos vendo mais, mas também o poder real está se mostrando mais e já não procura mais esconder seu núcleo de irracionalidade.
Tudo isto acontecendo e, civilizadamente, precisamos sobreviver. Precisamos limpar o País sem morrer. Como fazer? É possível fazer oposição ao governo sem fazer oposição ao país ? É possível fazer oposição ao governo municipal sem fazer oposição à cidade?
Sabe-se que o amadurecimento vem da experiência e carrega em si o medicamento da responsabilidade. Não é fácil ser responsável e cidadão cívico nos dias de hoje. Nem todos são responsáveis a ponto de salvar algumas essencialidades. Os irresponsáveis e descomprometidos cidadãos preferem embalar a frase que lembra Pôncio Pilatos: "Quem pariu Mateus que o embale". Trata-se de uma frase tipicamente irresponsável que precisa ser banida de nosso vocabulário, afinal o mal do País é nosso próprio mal.
Assim, no fundo de qualquer aparência todos deveríamos ser mais responsáveis por nosso País, Estado e Município. Hoje é comum renunciar à verdade e utilizar-se da má fé e esboçar aquela máxima que diz: “não sou responsável por aquilo que está acontecendo, pois não votei em fulana ou sicrano”. O questionamento que devemos fazer é: "Onde todos nós estávamos quando tudo isto foi gestado?” Entre ficar ressentido e ruminar aqui e ali devemos, responsavelmente, buscar novas formas de estar junto e agir junto. "Onde estávamos durante todo este tempo?"
Além da crise econômica e política que atinge a todos nós, uma onda conservadora irracional também nos ameaça. Evidente que se o campo conservador conseguiu avançar na constituição de uma nova fase, o campo dos que se identificam com o social, com uma democratização para todos, tem ficado irresponsavelmente paralisado. O que se vê é o medo do Brasil deixar de ser Brasil por conta de alguns irresponsáveis avalizados por milhões de outros irresponsáveis brincando de reforma política e procurando a melhor maneira de usar as leis para perpetuar sua própria existência.
Como mudar isto? A única saída razoável é criarmos novas formas de viver tanto no aspecto econômico quanto no aspecto político e apoiar novos protagonistas na vida pública que possam fazer lá o que de fato praticam de correto em sua vida pessoal. Ainda estou otimista e acredito que dá para virar este jogo.