A Embrapa Agroindústria de Alimentos procura parceiros no setor de laticínios para fazer a validação industrial e começar a produzir bebidas fermentadas de cereais com bactérias pró-bióticas para o mercado. Os pró-bióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, trazem benefícios à saúde.
O estudo original foi desenvolvido para a fabricação de bebidas de soja fermentadas, mas acabou evoluindo para bebidas de outros cereais, como aveia, milho, quinoa, centeio, cevada e trigo, que podem ser consumidos por pessoas com intolerância à lactose. O pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Eduardo Walter, líder do projeto, informou ontem (2) que todos os testes de laboratório já foram efetuados.
Foram estudados diferentes parâmetros de processos e modos de produzir a bebida. O estudo será ajustado às condições de produção na indústria de laticínios, que sempre fabricou bebidas lácteas fermentadas e iogurtes. “As bactérias pró-bióticas entram fermentando a bebida. Você tem a conversão dos açúcares da bebida em ácidos e, ao mesmo tempo, um aumento das bactérias pró-bióticas, que vão causar benefícios à saúde, incluindo o equilíbrio da microbiótica intestinal”, indicou Walter.
A matéria-prima utilizada na pesquisa foi o extrato em pó dos cereais, em vez do processo tradicional, que parte do grão. Os pesquisadores preferiram usar o pó diluído em água, que já resulta na bebida final. Após a fermentação, ela pode ser misturada a preparados de frutas com sabores variados, como banana, mamão, maçã.
Segundo o pesquisador, a bebida fermentada traz a vantagem de ser associada ao consumo de cereais, ricos em fibras. “Além do que, você passa a ter uma disponibilidade maior de produtos na geladeira”. Como as bebidas fermentadas estão muito concentradas hoje à base da soja, a pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sediada no Rio de Janeiro, é mais uma opção..
Embora tenham como alvo as indústrias de laticínios, devido aos equipamentos empregados, as bebidas de cereais desenvolvidas na pesquisa não são à base de leite. Por isso, podem ser usadas por pessoas que têm intolerância à lactose. Em julho, a Embrapa assinou contrato de cooperação técnica com a empresa de consultoria e assistência técnica Gestão Láctea, especializada na área de laticínios. Foram selecionados três possíveis parceiros para fazer a validação industrial do produto, visando a colocação no mercado.
Eduardo disse que as negociações estão ainda em estágio inicial. A Embrapa Agroindústria de Alimentos não vai patentear o processo de produção de bebidas de cereais, porque “esse projeto não tem como objetivo nenhuma proteção intelectual, de modo a não ter barreira alguma à introdução dele no mercado”. A ideia, segundo ele, é ampliar a possibilidade de inserção no mercado por meio dos laticínios. A colocação do produto nos supermercados vai depender da velocidade e do interesse que as indústrias demonstrarem, afirmou.
Para a Embrapa, o ganho em repassar para a indústria o conhecimento adquirido é em termos de uma empresa pública que faz pesquisas, em benefício da indústria e do consumidor final, ou seja, em benefício da sociedade brasileira. “O ganho econômico vem através de outros projetos para resolver problemas específicos. É mais um ganho em termos de imagem que a Embrapa pode ter nesse processo”.